BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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quarta-feira, 11 de junho de 2008

IV - PARA QUE SERVE A INVESTIGAÇÃO OPERACIONAL? (4ª Parte)

O assunto morreu,depois de tantas certezas e arrogâncias. "Eles" tencionavam iniciar a Ota, rapidamente, devido aos colossais volumes de terraplanagens. Ainda não havia qualquer projecto de infraestruturas, mas eles queriam iniciar os movimentos de terras (um verdadeiro lombinho para o gang de Macau) cujo projecto é, relativamente fácil ou, se calhar, até nem haveria projecto.
Leia atentamente esta IV parte. Poderá ainda consultar a parte I, parte II e parte II e aqui e aqui.

PARA QUE SERVE A INVESTIGAÇÃO OPERACIONAL? IV Parte

No rescaldo do “incêndio” que mobilizou a opinião pública - o aeroporto da Ota - cabem algumas reflexões finais. Nunca é tarde para se aclarar a verdade, para isso há que recuar no tempo. E o assunto está longe de se tornar irrelevante. Trata-se de dinheiros públicos gastos ao longo de mais de trinta anos. E, pelos vistos, para nada.
Em 1969 foi criado o GNAL (Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa) para apurar a melhor localização para um novo aeroporto em Lisboa. Em 1972 o GNAL publicou o relatório final sobre o estudo para que havia sido criado. Neste estudo, depois de seleccionados 14 locais, foram escolhidas 6 localizações. Sobre estas foi feita uma Análise Comparativa tendo sobressaído Rio Frio como a melhor solução, seguindo-se-lhe Porto Alto, Alcochete, Montijo, Portela e Fonte da Telha.
Em 1978 e 1982 a ANA levantou a hipótese da Ota como sendo uma localização a considerar porque era a mais viável na Margem Norte do Tejo.Era, talvez, uma hipótese para o desenvolvimento da zona Oeste. Uma hipótese errada, porque um aeroporto é para servir uma cidade e não o contrário. Nenhum aeroporto criou uma cidade, mas o contrário é óbvio. É ver-se o caso de Guarulhos, originada pelo novo aeroporto da Cumbica em São Paulo, de Confins em Belo Horizonte, e dos novos aeroportos, muito longe, de Milão e de Atenas. Como curiosidades, remotas, lembramo-nos de Kano na Nigéria (que dava apoio aos aviões de hélice, com pouca autonomia) e do Luso em Angola (hoje Luena) que nem chegou a entrar em funcionamento, para o fim a que era destinado, porque apareceram os modernos jactos.

Em 1998 foram feitos estudos comparativos entre Ota e Rio Frio. A Comissão, nomeada para o efeito, concluiu “ser a localização do NAL na zona da Ota menos desfavorável do que em Rio Frio, por esta apresentar graves condicionantes que podiam pôr em causa a sua sustentabilidade por razões ambientais”. Repare-se na forma capciosa de justificar a decisão: “na zona menos desfavorável”. Para quê entrar-se em comparativos diminutivos?
Em Julho de 1999 o Governo tomou a decisão de seleccionar a zona da Ota para localização do NAL. Esta decisão baseou-se na conclusão de que a localização em Rio Frio constituiria um sério risco de provocar “danos não minimizáveis,irreversíveis e não compensáveis”. Que danos serão, sabendo-se que hoje em Rio Frio avultam pequenas quintas quase todas com os 2 F´s, os maiores inimigos dos aquíferos: furos e fossas. E que está muito próximo de Poceirão, uma das localidades onde vai passar o futuro TGV.
Por que se não apontam os tais danos? Por que se salientam, sempre, os danos ambientais( sem se especificarem) quando se tomam decisões voluntariosas, numa terra em que são clamorosos os atentados à Natureza? Por que é que é sempre posto em primeiro lugar, quando se querem impor soluções de cima para baixo, o Relatório de Impacto Ambiental, não levando em conta os critérios técnicos e de custos ? No estudo de um aeroporto os principais critérios, indiscutíveis, são a segurança de voo, a meteorologia e os custos e não os tais danos não minimizáveis, irreversíveis e não compensáveis. Quais são, gostaríamos de saber.

Comparando os dois locais, Ota e Rio Frio, salta logo à vista, até para um leigo, os enormes factores negativos da Ota: orografia com as obstruções Monte Redondo (212m), Montejunto (666m) e, mais longe, Candeeiros (615 m) que põem em grande risco a segurança de voo. Rio Frio está em uma área plana. Na Ota a hidrologia é desfavorável: 2 rios de 5ª ordem (Ota e Alenquer) e 3 ribeiras de 3ª ordem (Alvarinho, Camarnal e Archinho. No relatório do LNEC é encarada a hipótese do desvio das águas da ribeira de Alvarinho através de uma barragem a montante da área escolhida. Todo este sistema fluvial concentra-se em um único ponto a jusante, um perigoso factor de convergência de águas de cheias. O sistema fluvial de Rio Frio desenvolve-se em área plana ou levemente ondulada.

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O estudo feito pelo LNEC, quase por imposição da CIP, acabou por repor tardiamente, a verdade gritante entre as duas opções. A localização saída do último estudo, eufemisticamente denominada de Alcochete, está encostada a Rio Frio, o melhor local apontado pelo longínquo relatório do GNAL em 1972. Afinal este estudo estava correcto e já preconizava uma construção faseada de acordo com a evolução da aviação. Dir-se-ia que até adivinhavam a futura passagem do TGV.É bom vincar que a actual localização compreende 1 800 ha para as pistas e mais 7 929 ha para possíveis ampliações. Era impossível, na Ota, dispor-se desta ultima área, só se dispunham de 1600 ha conseguidos com colossais movimentos de terras.

Insistimos, era de bom alvitre que se tivesse reactivado o antigo estudo de 1972, ampliando-o e considerando até a opção Ota, mais como tira-teimas. Sobre este estudo far-se-ia uma Análise Multiobjectivos e Multicritérios com base nos modernos programas de Investigação Operacional . Todos os estudos, de acordo com os diversos critérios, seriam feitos por um cluster(cacho) de universidades. Obter-se ia um enorme potencial científico, dentro da área da nova Ciência da Decisão. Este trabalho dotaria o país de tecnologia exportável para outros países e para outras áreas das actividades humanas. Era um verdadeiro Choque Tecnológico.
Tem aqui cabimento realçar o trabalho de todos os que colaboraram na elaboração do Estudo da Localização do Novo Aeroporto de Lisboa-Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa, 1972. A escolha estava correcta, é o melhor local.

A opinião pública conseguiu suster as terraplanagens na Ota, uma verdadeira mina de ouro para os empreiteiros e correlatos. Foi “in extremis”, porque com os aumentos galopantes do petróleo, estaríamos hoje no limiar de um medonho desastre técnico, financeiro e ambiental.
Perdeu-se tempo em tergiversações que tiveram como sub-produtos os relatórios e mais relatórios, as reuniões, os debates na TV, as discussões e, principalmente, as malversações dos dinheiros públicos. É devido a estas últimas, infelizmente existentes em muitas outras decisões, que o salário mínimo em Portugal continua, e continuará, muito abaixo dos padrões europeus.

Luiz Teixeira
engenheiro civil
Maio2008

Rectificação: Na terceira parte destes artigos, em referência ao Canal do Panamá, mencionámos o Oceano Índico ao invés de Oceano Pacífico. As nossas desculpas.

(a importância do tema e o rigor de análise, leva-me a agradecer uma vez mais ao Sr. Eng Luiz Teixeira esta prestimosa colaboração)

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