BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

SPORTING CLUBE DE PORTUGAL - UM CLUBE A SÉRIO !!!!!

Para todos os Sportinguistas, e "outros", para que tomem conhecimento de algumas realidades.... 20 factos verídicos:

1. O SPORTING é o único grande Clube Nacional que não alterou o seu ano de fundação (veja-se slb e fcp)
2. O SPORTING é o único Clube do Mundo que, neste momento, tem dois museus oficiais (Lisboa e Leiria).
3. O SPORTING possui o Jornal de clubes mais antigo do Mundo (o primeiro número foi publicado a 31 de Março de 1922).
4. O SPORTING detém (mudialmente)o jogador com melhor média de golos em jogos do Campeonato Nacional (Fernando Peyroteo com 1,68 golos/jogo). Até hoje não foi ultrapassado...
5. O SPORTING cedeu o 1.º jogador português à Selecção da Europa: José Travassos em 1955 (vitória da Selecção da Europa à Inglaterra por 4-1, em Belfast).
6. O SPORTING é, actualmente, o único Clube mundial que formou dois FIFA World Player: Luis Figo (2001) e Cristiano Ronaldo (2008) . Vamos a caminho do 3º com NANI...
7. O SPORTING desde o início das competições europeias de clubes, só é ultrapassado em n.º de participações pelo Real Madrid (54) e Barcelona (53). Os Leões somam 51.
8. O SPORTING apontou o 1.º golo na Taça dos Clubes Campeões Europeus, em futebol: João Martins frente ao Partizan de Belgrado, a 4 de Setembro de 1955.
9.O SPORTING tem 22 taças europeias conquistadas, o Real Madrid 26 e o Barcelona 66. No entanto, somente os «leões» e o Barcelona venceram em quatro modalidades distintas.
10. O SPORTING ainda hoje detém recordes nos títulos europeus conquistados (excepto andebol):

» Atletismo: Único Clube europeu com vitórias em pista e cross: por 2 vezes sagrou-se hexacampeão em cross.

» Hóquei em patins: Maior goleada de sempre por 33-1 ao H. Gujan (França), nos quartos-de-final da Taça CERS, em 1983/1984.

» Futebol: Maior goleada de sempre por 16-1 ao Apoel Nicósia (Chipre), nos oitavos-de-final da Taça dos Vencedores das Taças, em 1963/1964.

...convém lembrar uma Vitória sobre o grande Manchester United por 5-0 em Alvalade, para a Taça das Taças da Europa...

11. O SPORTING é o 2.º Clube europeu com maior n.º de atletas olímpicos (109 até Pequim’08) a seguir ao Barcelona. No entanto, estes 109 atletas «leoninos» actuaram em 10 modalidades distintas e, os do Barcelona, apenas em seis.
12. O SPORTING é o único Clube nacional (e dificilmente haverá outro na Europa e no Mundo), que nos últimos 48 anos teve atletas em todos os Jogos Olímpicos realizados.
13. O SPORTING, desde que existe o Comité Olímpico Português, esteve em 24 dos 28 Jogos Olímpicos realizados (apenas ausente em 1920, 1934, 1936 e 1956).
14. O SPORTING é a equipa portuguesa com mais medalhas olímpicas conquistadas (8 no total: 3 de ouro, 4 de prata e 1 de bronze).
15. O SPORTING teve o 1.º atleta nacional a participar nos Jogos Olímpicos (António Stromp, em Estocolmo – 1912), bem como o 1.º atleta nacional a conquistar uma medalha de Ouro (e a ouvir o Hino Nacional): Carlos Lopes em Los Angeles – 1984 – , na difícil prova da maratona.
16. O SPORTING detém a maior goleada da história dos Campeonatos de Portugal (18-0 ao Torres Novas, em 1927/1928), dos Campeonatos Nacionais (14-0 ao Leça, em 1941/1942) e das Taças de Portugal (21-0 ao Mindelense, em 1970/1971).
17. O SPORTING detém o recorde de golos (por equipa) numa só época do Campeonato Nacional: 123 golos em 26 jornadas (época 1946/1947) com uma média fantástica de 4.7 golos por partida.
18. O SPORTING, segundo uma reportagem da BBC, está num patamar superior ao Ajax: “O clube holandês é considerado um clube de topo na formação. Um estatuto apenas igualado pelo Sporting. Os «leões» possuem, no entanto, uma Academia mais bem apetrechada”.
19. O SPORTING é o Clube que mais jogadores cedeu à Selecção Nacional em fases finais do Campeonato do Mundo de futebol (24 no total vs 21 do Benfica e 18 do Porto).
20. O SPORTING assume a sua dimensão mundial quando olhamos para os 380 Núcleos, Filiais e Delegações espalhados pelos cinco continentes, sendo o único Clube nacional com esta presença universal e verdadeiramente global.

O conteúdo desta mensagem de correio electrónico e seus anexos não é confidencial pode e deve ser divulgado, por forma a acabar com os "enganos" de alguns ...
 
ahhhh ... e também não andou a telefonar aos árbitros

terça-feira, 2 de novembro de 2010

INCÊNDIOS FLORESTAIS: FATALISMO, CONFORMISMO OU FALTA DE PLANEAMENTO? (1)


Agosto é o pior mês do ano. As pessoas ficam atacadas pelas férias, os desastres nas estradas multiplicam-se, envolvendo mortos e feridos, o calor torna-se desagradável, as pessoas amontoam-se nos aeroportos, as bibliotecas fecham e, a somar às tragédias das estradas, os incêndios florestais regressam, com uma regularidade mais do que previsível, mas infelizmente nunca encarados em termos científicos. Improvisação é o que mais se vê no combate aos fogos florestais.
No Brasil dizem que “agosto é o mês dos cachorros loucos” . Foi em 25 de Agosto de 1954 que o presidente Getúlio Vargas se suicidou e isto repercutiu-se em termos históricos. Foi também em Agosto de 1961 que o presidente Janio Quadros se demitiu, deixando todos os brasileiros perplexos, desconsolados e desencantados com a democracia, precipitando o Brasil para mais uma situação política adversa.
Em Agosto, em Portugal, quando abro a janela de manhã e olho para cima, vejo quase sempre, em dias de céu límpido, umas nuvens escuras, acastanhadas que induzem desconfiança : não é água mas fumaça. De incêndios, embora os meios de comunicação, de dia para dia, estejam diminuindo as notícias e reportagens sobre fogos. A imprensa e a TV minimizam os fogos à medida que aumentam os terrenos calcinados.
Este ano (2010) arderam 125 852 ha (43 608 de povoamentos florestais e 82 244 ha de matos totalizando 20 927 ocorrências com 3 638 incêndios florestais É a maior área ardida nos últimos 4 anos, correspondente a quase duas vezes a área da ilha da Madeira (796 km2 ). Em 2 de Outubro ainda se registaram incêndios.
Há áreas em Portugal que já arderam 14 vezes em 30 anos; como pensar em repovoamentos?
O belo património português (flora,fauna e propriedades) vai desaparecendo, um pouco, todos os anos. Fatalismo é a atitude com que se encaram os incêndios florestais. Não é, e está muito longe de o ser!
De entre todos os desastres naturais, terramotos, tsunamis, vulcões, tornados, furacões, deslizamentos e entre os provocados pelo homem,os incêndios são os mais previsíveis. A nossa historiografia de fogos vem desde tempos imemoriais: os dados meteorológicos, a esplêndida cartografia, o conhecimento sobre as propriedades de todas as matérias inflamáveis, o sensoriamento remoto por satélites, os telemóveis,os meios aéreos e, até, as observações casuais de pessoas experientes, são mais do suficientes para se definirem estratégias de prevenção, detecção e combate. Infelizmente todos os anos repete-se sempre o mesmo cenário de tragédias, com as florestas e parque naturais sendo devorados pelo fogo. Agora já se assiste à perda de vidas humanas, de animais domésticos e de casas. Não é pela TV ou jornais, infelizmente cada vez mais parcos em noticiar incêndios, que é possível aquilatar os danos à biodiversidade. Ninguém os menciona!
E as pessoas comuns perguntam angustiadas: mas não haverá maneiras de minimizar estes incêndios e, até, de evitá-los? Será que vai arder todo o país?
O melhor combate ao fogo, como diria monsieur de La Palisse, é evitá-lo. A engenharia, com todos os seus ramos, dispõe hoje de métodos aperfeiçoados de modo a defender eficazmente a massa florestal dos fogos.
1) Ordenamento do território
Tudo começa com um bom ordenamento do território definindo áreas específicas de acordo com as aptidões urbanas, industriais, agrícolas, pecuárias, de mineração e florestais. Um ordenamento, sublinhe-se, para ser cumprido rigorosamente, sem excepções, desculpem-me o pleonasmo. Este é justificado porque, infelizmente, é o que se não verifica na prática. Há sempre um chico esperto que contorna a lei. Constrói-se, à revelia, nos parques naturais e florestais.
Vamos abordar, apenas, o caso dos incêndios florestais. É particularmente difícil o ataque a fogos em áreas florestais situadas em zonas de relevo montanhoso. Uma orografia desfavorável é uma pesada agravante, mas não é motivo para fatalismos, pelo contrário, é um desafio à ciência e tecnologia.
As áreas de relevo acentuado são impróprias para agricultura e para gado bovino; resta a floresta. É assim em todo o mundo. Logo, na definição de um parque florestal de exóticas ou de flora natural, tem que se levar em conta vários parâmetros de ordenamento, de implantação, de vigilância e detecção e de combate aos fogos. E, especialmente, de justiça rápida e dura para os incendiários.
2 ) Implantação de um polígono florestal
Depois de definidas as áreas de ocupação- zonas urbanas, pastos, baldios, áreas húmidas, estradas e caminhos, vamos deter-nos, na implantação de um polígono florestal de árvores exóticas, como por exemplo o eucalipto. Estamos a admitir que, “a priori” os Parques Naturais terão que ser os mais bem defendidos, o que não acontece na realidade.
Basta pronunciar a palavra eucalipto e logo aparecem alguns ambientalistas irados ostentando os velhos slogans de que “chupa toda a água”, “onde entra mata tudo”, “é negócio de multinacionais”. Um pouco com o que se passa com a aversão às barragens, agora a serem construídas “a toque de caixa”, numa tentativa de utilizar a energia eólica ociosa porque é intermitente, difícil de conciliar com a macro-rede elétrica. Este açodamento pelas barragens, além de serôdio, é irónico, se nos lembrarmos da fobia Foz Côa e das campanhas anti-Alqueva. Repentinamente as barragens foram associadas às energias renováveis onde desempenham o papel de melhor sócio. Agora já se não demonizam as barragens!
O eucalipto não é tão daninho como se apregoa. É uma árvore de crescimento rápido, resistente, adapta-se a quase todos os climas, dá boa madeira para a construção civil, fornece a maior cota de celulose para o fabrico de papel,seca pântanos, purifica o ar. Em resumo é um matéria prima valiosa, é um vector económico a ter em conta.
Em África o eucalipto substitue com vantagem as lenhas tradicionais que vão escasseando porque as árvores da savana, cada vez mais sacrificadas, não têm crescimento rápido, e não medram em polígono mas apenas associadas a outras árvores. A savana africana caracteriza-se pela biodiversidade. Só por isto o eucalipto salva as plantas raras da savana.
Em um quadrado de 400 m2 nas savanas do Planalto Central de Angola anotámos, em jeito de rapidez, mais de 100 espécies de flora. A savana africana, embora dê pouca madeira, é de uma enorme riqueza, basta acentuar que abriga milhões de abelhas. É uma massa arbórea de pouca densidade em madeiras. Só o eucalipto a poderá salvar, devido à intensa procura de lenhas para os afazeres domésticos de milhões de africanos.

Todos os polígonos florestais, sejam em montanha ou em planície, devem ser divididos em talhões, cuja área, de cada um, é definida de acordo com as susceptibilidades apresentadas pelas árvores conforme a sua inflamabilidade No caso específico do eucalipto, em área levemente ondulada em Angola, os talhões quadrados tinham de lado 300 m ou seja uma área de 9 ha. Os talhões eram envolvidos por 4 vias de acesso- 2 aceiros e 2 arrifes . Um aceiro tinha uma largura de 12 m e um arrife de 6 m.
Um aceiro é um caminho perpendicular aos ventos preponderantes nos meses mais desfavoráveis. Em Portugal o núcleo quente, propício a fogos, desenvolve-se entre 15 de Julho a 15 de Setembro, com o centro de gravidade teórico em 15 de agosto. Para estes 60 dias críticos existem anemogramas ou cartas de ventos, que permitem obter, através de fórmulas empíricas,baseadas na experiência, qual a largura do aceiro. Este é, sempre que possível, perpendicular aos ventos mais desfavoráveis.
Um arrife é um caminho perpendicular ao aceiro, geralmente com metade da largura deste. Aceiros e arrifes devem ser mantidos apenas com vegetação rasteira, se possível com arbustos que se mantenham sempre verdes ao longo do ano. Um talhão, repetimos, é sempre envolvido por dois aceiros e dois arrifes. O acesso fica facilitado e o fogo está sempre confinado.

Fig 1 Ventos predominantes em Portugal. Graças a dados meteorológicos, obtidos pelos nossos ancestrais, Portugal dispõe hoje de meios de previsão, bastante confiáveis, baseados nestes preciosos valores. Conhecemos muitos observadores de meteorologia, humildes, que hoje são apenas lembrados pelos descendentes, que colheram durante anos a fio, sem interrupções, como é do boa norma em meteorologia, estes dados valiosíssimos, que permitem refutar muitos alarmismos que por aí circulam, mas que nos levam a tomar umas certas precauções. Estas devem incidir sobre a água e os verdes (floresta e matos). Fonte: Macedo,F.W.& Sardinha,A.M.(1999)-Fogos Florestais.(2 volumes)Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (U.T.A.D.) Vila Real.Publicações Ciência e Vida, Lda.Lisboa

Fig 2 Zonas de risco de incêndios florestais em Portugal. O bom acervo científico facilita o estabelecimento de um bom plano de defesa do património natural e humano. A figura mostra-nos quais as áreas de risco de fogos florestais,ou seja onde devem incidir as maiores defesas. Fonte: Macedo,F.M.& Sardinha,A.M.-1999. Fogos Florestais(2 volumes). Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro- U.T.A.D Vila Real. Publicações Ciência e Vida,Lda.Lisboa.

Fig 3 Isoietas são linhas que unem pontos de igual precipitação No Norte, anualmente, as chuvas passam além de 2 000 mm ( 2000 L/m2,num ano ), mas ao sul atingem 400 mm ,(400 L/m2 ); isto caracteriza uma variedade de micro-climas propícios para uma agricultura de qualidade, especialmente em frutas.Há boas condições para floresta exótica de rápido crescimento.
Fonte: Lencastre,A.& Franco F.M.-Lições de Hidrologia (1984). Lisboa. Universidade Nova de Lisboa.

Se o terreno for muito acidentado, com declives acentuados (inclinações superiores a 30 %), devem-se orientar os aceiros de acordo com a topografia implantando-se acessos, se possível, em linhas de cintura com inclinações até 10%, para poderem circular viaturas normais. Os arrifes, como se afirmou, serão sempre perpendiculares aos aceiros, e, neste caso apresentarão declives muito acentuados. Os ataques aos fogos serão feitos, exclusivamente, através dos aceiros.
Quando os polígonos florestais são muito grandes (maiores do que 5 000 ha - 5km×10 km- ) é de bom alvitre que,dentro deles, se implantem corpos de água evitando-se as viagens, às vezes longas, para o reabastecimento. Estes corpos de água podem ser obtidos com pequenas barragens de terra, de alvenaria de pedra ou de betão, de altura superior a 10 m, ou escavando depressões do terreno ou aproveitando áreas de empréstimo para aterros ou antigas pedreiras. As áreas montanhosas,onde os vales são muito apertados, são mais vantajosas para armazenamentos de água do que as áreas planas ou levemente onduladas onde os vales são mais abertos e pouco profundos. Consideramos como muito boa uma barragem, ou reservatório, que acumule mais de 100 000 m3 de água, ou sejam aproximadamente 5000 viagens de um auto tanque. É óbvio que o planeamento de um povoamento florestal aplica-se, com maioria de razão, nas medidas de defesa da floresta natural. Se for o caso devem abrir-se aceiros e arrifes.

Fig 4 Escoamento anual das chuvas compreendido entre 100 mm (em branco) e 800 mm (em azul escuro). A parte mais húmida, com maior escoamento anual, é o NW (noroeste) onde, como é óbvio, se regista a maior precipitação . Um paradoxo: onde mais chove é onde mais arde. Fonte: Atlas do Ambiente- Ministério do Ambiente.

Fig 5 Corpo de água dentro de um povoamento florestal na Áustria. Os corpos de água, localizados em pontos estratégicos, com acessos optimizados através da Investigação Operacional, diminuem os tempos de recarga para os auto-tanques e helicópteros. E, também, servem de abrigo para os animais acuados e, indiscutivelmente, valorizam e embelezam a paisagem.

3) Detecção e vigilância
3.1) Patrulhamento terrestre. “O medo é que guarda a vinha, que não o vinhateiro” é uma frase que ficou na nossa memória e já lá vão umas dezenas de anos. Ela servia de exemplo para as “partículas de realce” em gramática. Hoje serve-nos para enfatizar a extrema acuidade da vigilância ostensiva. Outrora eram os guarda-florestais que desempenhavam, e bem, as tarefas de policiamento e detecção dos fogos. Os termos guarda e policiamento colidem hoje com o politicamente correto vigente nos meios de comunicação e em determinadas correntes políticas. Chamem-lhes o que quiseram mas, se pretendem acabar com esta vergonha, os guarda-florestais darão uma grande ajuda.
É óbvio em todo o mundo: um policiamento ostensivo e uma justiça rápida e dura, diminuem, e muito, a ocorrência de incêndios. Eles são em maioria ateados por mãos criminosas. Verifica-se que, onde há policiamento florestal, a taxa de incêndios é diminuta.
Os meios de policiamento podem dispor hoje de meios sofisticados: boas viaturas todo o terreno, telemóvel, máquinas de filmar (que podem ser instaladas em tripés, escondidas) e fotográficas, binóculos com luz negra para visão nocturna, detectores de calor,sensoriamento remoto através de satélites.
Os meios aéreos para detecção de fogos são imprescindíveis, especialmente para se planear uma estratégia de rápido combate pelos bombeiros. Mas eles não são uma solução total.
3.2) Torres de vigilância. Podem ser de madeira, aço ou betão armado. Dispõem no topo de uma cabine toda envidraçada, com visibilidade para todos os lados. Só recebem vigilantes no tempo mais crítico; em Portugal, como já foi afirmado, é em Julho,Agosto e Setembro.

Fig 6 Fogos na Península Ibérica em Agosto 2010. Mapa extraído da Internet. Há uma ilógica concentração de fogos, precisamente na área onde mais chove e onde é maior o escoamento anual. Resumindo “quanto mais água, mais arde”. Não alinhamos com os catastrofismos do aquecimento global( quem é o homem para mudar o clima da Terra?) mas ficamos inquietos com o pouco verde do mapa. Pouco menos de metade de Portugal é verde, visto de satélite.Isto não é provocado pelo aquecimento global. Esta visão deve alertar-nos para o cuidado que teremos que ter em relação à cobertura vegetal. Só um planeamento feito pelos sábios deste país pode minimizar este evidente problema. Que tal aumentar rapidamente o nosso verde, e preservá-lo com determinação?

INCÊNDIOS FLORESTAIS: FATALISMO, CONFORMISMO OU FALTA DE PLANEAMENTO? (2)

A altura das torres de vigilância e detecção depende da topografia e da respectiva localização. Em regra a altura é de 10 m acima da copa máxima. A distância máxima entre torres é em torno de 10 km podendo cobrir uma área de 10 a 15 km2 (4 km×3 km). Uma torre, aproveitando a topografia, pode cobrir mais de 60% da área circundante.
Uma torre é equipada com binóculos de grande alcance e munidos de visão nocturna, um goniómetro que dá um azimute que, cruzado com outros três, fornece a posição exacta do fogo. Também dispõe de detectores de calor, de telemóveis e de GPS.
Nos países onde a vigilância florestal atinge níveis de excelência (Japão, Canadá, Estados Unidos e Austrália) abundam os candidatos para ocupar as torres nos meses mais críticos. Geralmente são pessoas que precisam de solidão para escreverem um livro ou acabar uma tese, que tenham passado por um desgosto, que gostam de privar com a natureza: são vulgares os casais recém casados. Não faltam candidatos nos meses mais críticos.
Fig 7 No Canadá e E.U.A. os ultraleves e aviões ligeiros de particulares colaboram, intensamente,
na detecção dos fogos, mercê de incentivos e benefícios suportados por empresas madeireiras e de celulose.

Fig 8 Aeronave russa Beriev Be-200 ES de combate aos incêndios.Versátil, poisa em terra e na água. O poiso na água confere-lhe muita rapidez no enchimento dos tanques de água. Carrega 12 000 L de água, mais do dobro da capacidade do Canadair.É de grande eficiência, mas tem o inconveniente de ser grande e pesado, exigindo uma boa pista. De 10 Julho a 30 Setembro de 2007 voaram 2 aparelhos em Portugal, ajudando a debelar 57 fogos, durante 167 horas e lançando 2,5 milhões de litros de água sobre as chamas. Julgava-se que eles eram um “deus ex-machina”,capazes, por si sós, de extinguir rapidamente qualquer fogo e de resolver o terrível problema dos fogos. Vâ ilusão.Os aviões e helicópteros, no combate aos fogos, são de inestimável ajuda, especialmente na detecção. Bombeiros e sapadores são, indiscutivelmente, o fulcro na extinção de fogos. É com estes que se devem gastar as maiores verbas. São estes que devem ser mais favorecidos.

Fig 9 Uma torre de vigilância e detecção feita de aço.
Possue vários passadiços proporcionando diversas alturas de observação

Fig 10 Torre de vigilância bem aparelhada

Fig 11 Torre de vigilância sofisticada com energia fornecida por painéis solares

3.3) Meios aéreos.
São necessários, especialmente para se planear uma estratégia de rápido combate, no terreno, pelos bombeiros. Mas os meios aéreos não são uma solução total e, muito menos milagrosa..
Além da sua utilidade em detecção, usam-se especialmente quando os incêndios são “de copa”de grande intensidade e em áreas de difícil acesso aos bombeiros. Lançam-se retardantes químicos ou água, antes que eles tomem grandes proporções, até chegarem as equipas de bombeiros.
3.3.1) Deus ex-maquina
Na Grécia antiga (490 a 400 AC) o teatro atingiu níveis de excelência. Algumas peças teatrais, daquele tempo, ainda hoje são levadas à cena. À semelhança do que se passa hoje com as telenovelas, os dramaturgos gregos enredavam as peças de tal maneira que depois “se viam gregos” para arranjar um final que satisfizesse o público. Quando já não havia mais imaginação ou tempo (ou, se calhar como hoje, verba) a peça terminava, abruptamente, com um “deus ex-machina”. Através de uma sistema de roldanas descia no palco um Deus que conciliava todas as situações e resolvia rapidamente todas as ambiguidades que se foram desenrolando ao longo da peça. O final era sempre feliz, satisfazendo os melhores desejos dos espectadores.
Esta figura de retórica aplica-se hoje para as situações que se querem resolvidas através de um meio mais curto e, se possível, mágico. O cinema recorre muito ao “deus ex-machina”. Basta recordarmos velhos westerns: quando os índios cercam os colonos e estes já não têm munições, ouve-se uma corneta e aparece, triunfalmente, o 7º de cavalaria com as suas armas de repetição.Nas guerras actuais o helicóptero é o Deus ex-machina para todas as situações.
O exemplo mais recente, aplicado em outra área, é o caso selecção/Mourinho. Pretendia-se arranjar um “deus ex-machina” para a selecção e quem melhor senão Mourinho. Felizmente que o Real de Madrid cortou o “cabo da roldana” e limitou-se a utilizar uma solução antiga mas sempre a única: contrato é para se cumprir.
Pode-se aplicar o “deus ex-machina” aos incêndios em Portugal. Os meio aéeos não exigem muita mão de obra, embora a pouca que intervém seja bem paga. Merecidamente, acrescentamos nós, basta só mencionar o extremo perigo a que se sujeitam os pilotos. Mas os meios aéreos não extinguem um fogo, apenas o retardam, dando tempo aos bombeiros, estes sim os verdadeiros “extintores”, para chegarem perto das chamas.
Os aviões, como se tem verificado através das poucas imagens televisivas, não são um “deus ex-machina” , apenas fazem parte de um combate, aliado aos bombeiros. Sem bombeiros não se extingue um incêndio. Mas, a seguir a uma época catastrófica, logo aparece a solução “caída” do céu: mais aviões para o ano seguinte.
4) Incêndios urbanos.
Infelizmente este ano(2010) vimos na televisão incêndios de casas e bens pessoais. Há a lamentar mortes. Como evitar tais tragédias?
Edifícios, fábricas, currais e outras infrastruturas urbanas podem ser defendidas através de meios de prevenção. Em Portugal a região mais ardida (norte) é bem servida de chuvas, podendo-se esperar um escoamento médio pluvial, por ano, da ordem de mais de 300 mm. Admitindo este valor concluímos que uma área de 100 m2 de telhado ou de uma superfície cimentada, pode acumular um volume de água anual de 30 m3 que pode ser armazenado em uma cisterna.
Um moto-bomba, instalada em um rebocável, pode utilizar esta água logo que haja sinais de propagação de fogos. As moto-bombas podem ser propriedade das casas mais abastadas, ou podem pertencer aos bombeiros que as podem emprestar às propriedades que estejam em perigo. No caso das cisternas não encherem em um ano, o que é pouco provável no norte do país, receberão um ou mais camiões de empréstimo de água.
Em anos passados assistimos a um espectáculo penoso: um incêndio de grandes proporções aproximava-se de uma mansão com piscina. Em redor o pânico. Pessoas correndo com um tubo de plástico (diâmetro de 32 mm) que derrete facilmente com o calor, do qual saía um filete que, aplicado na chama, apenas lhe daria mais oxigénio. Outras pessoas acorriam com baldes, ou seja
Fig 12 Bimotor de motores de pistão Canadair o avião mais usado no combate a incêndios Carrega 5500 litros de água.
Pode poisar em terra em e na água uma herança do velho Catalina, hidroavião da guerra 1939/1945.

mais oxigénio. E a piscina cheia. Uma moto-bomba móvel,apropriada, com mangueira de lona extensível, facilmente teria molhado toda a área circundante, antes que o fogo se aproximasse.
Estupefactos assistimos este ano ao incêndio de um depósito de madeiras (?) e a uma instalação de pecuária onde morreram animais calcinados. No primeiro caso cabe bem a expressão “em casa do ferreiro espeto de pau”.
5) Combate e rescaldo.
São também tarefas ingratas e são desempenhadas pelos bombeiros e sapadores. Aqui os aviões e helicópteros de nada servem. Os bombeiros são os verdadeiros heróis de toda a saga dos incêndios florestais em Portugal.É, talvez, o único sector que funciona bem. E eles trabalham até ao limite. Sobre bombeiros não faremos qualquer comentário, apenas exaramos um louvor. E desejamos que apareça um planeamento científico onde eles vão sentir orgulho em estarem integrados nele.
6) Retardantes químicos
Os retardantes químicos destinam-se a reduzir a inflamabilidade de materiais lenhosos.O primeiro retardante a ser usado foi o borato de sódio, na década de 50, nos E.U.A. Pouco se usou por ser tóxico e corrosivo. Apareceram depois outros como o fosfato mono-amónico, o fosfato bi-amónico. Actualmente são inúmeros os retardantes, com variadas composições químicas.
Costuma-se adicionar soluções coloridas de modo a orientar o piloto e as brigadas terrestres. O mais conhecido é o oxido férrico de cor avermelhada.
Até que ponto é que os retardantes químicos contaminam o solo e as águas superficiais e subterrâneas? Em Seia, este ano, pelo que nos foi dado ver, registou-se uma cheia repentina dando origem a um escoamento de cinzas misturadas com a água. Parecia metal derretido ou magma esfriado!
7) Cabras
Quando apareceram umas notícias nos jornais e na TV sobre uma provável utilização de cabras, na limpeza das florestas e das matas, julgámos que era 1º de Abril, mas não era. E o número era impressionante, nada menos do que 150 mil herbívoros seriam destacados para efectuar tarefas que outrora eram desempenhadas pelos nossos ancestrais, no tempo em que a electricidade e o gás não faziam parte da vida quotidiana. Era a lenha que fornecia a energia de uma casa.
Não é novidade a colaboração das cabras. A primeira esquadra marítima que aportou à Austrália em 1788, com fins de povoamento (com colonos à força, vulgo degredados), já trazia os simpáticos herbívoros para provimento de proteínas. Rústicas como são,elas rapidamente se adaptaram aos novos habitates; de tal maneira que, decorridos mais de 50 anos, já se tinham transformado em praga.
Sem predadores carnívoros que pusessem em perigo a taxa de natalidade elas espalharam-se por toda a Austrália, mesmo nas regiões onde há escassez de água. Na pequena ilha de Phillip os efeitos foram devastadores, mesmo com a introdução maciça de dingos. Estes são cães selvagens que fugiram ao controle dos humanos e encontraram um ambiente selvagem ideal: presas pacíficas e na maioria muito lentas. Apesar de bastas companhas de erradicação há hoje na Austrália cerca de 3 milhões de cabras enselvajadas.
Pior sucedeu nas ilhas Galápagos com a introdução de cabras pelos caçadores de baleias, pelos piratas e por marinheiros de várias proveniências. As ilhas de Santa Cruz, Floreana, São Cristóvão e especialmente Isabella foram as mais sacrificadas. Nesta ultima ilha as cabras devoraram todas as gramíneas que eram o alimento preferido das tartarugas gigantes. Estão em curso programas de erradicação das cabras nas Galápagos com grande sucesso.
As cabras, enselvajadas transformam uma floresta em prado e um prado em erosão. Um replantio florestal fica condenado ao insucesso se aparecerem as cabras. Cabras pastoreadas são uma bênção, cabras abandonadas são uma maldição.
Na ilha de Porto Santo as cabras também contribuíram para a devastação da flora, muito embora tenham sido os coelhos a maior praga. Em Cabo Verde as cabras selvagens devoraram toda a massa vegetal numa terrível seca em 1792 em que morreu mais de metade da população.

Fig 13 Erradicação das cabras , por modernos processos de preservação,
na ilha de Isabela no arquipélago das Galápagos.

A limpeza das florestas e das matas, denominada nalgumas regiões de roçado, faz-se há milhares de anos. Com o êxodo para as cidades estas práticas foram abandonadas. Mas hoje há máquinas que facilitam todas as actividades de limpeza e roçado. Mesmo com máquinas é imprescindível a colaboração de pessoas: os sapadores. Há que se criar um corpo de sapadores e há que se desenvolver planos para aproveitamento da massa vegetal que provém das limpezas, especialmente em energia.
Esta ideia de limpar as matas aproveitando a capacidade devoradora dos simpáticos herbívoros, sugere-nos que se está tentando arranjar “bodes expiatórios” para as terríveis tragédias que todos os anos se abtem sobre Portugal.
Fig 14 Austrália: cabras “limpando” as matas.

8) Conclusões
Incêndios florestais são mais do que previsíveis. No caso português consegue-se planear acções de modo a minimizarem-se as áreas ardidas, ou até a evitá-las. Portugal dispõe de valiosos dados meteorológicos com mais de 50 anos de observações cuidadas e rigorosas. Todo o país está coberto por uma meteorologia eficiente e, portanto, confiável. A meteorologia de previsão em Portugal é das melhores do mundo. Portugal possue muita experiência científica sobre fogos florestais.
A carta militar, à escala 1/25000 (680 folhas), é excelente, podem-se fazer planeamentos, optimizar itinerários para cada caso, podem-se obter rapidamente as coordenadas de qualquer local, dada a sua simplicidade. O GPS confirma a excelência cartográfica portuguesa.
A engenharia florestal portuguesa situava-se entre as melhores do mundo. Esta sabedoria foi transplantada para Angola onde foi possível estabelecer bons povoamentos florestais exóticos, protegeu-se, de um modo notável, a diversificada flora angolana.
Um dos maiores feitos da engenharia florestal portuguesa foi a contenção de dunas, no sudoeste angolano desértico (Namibe, Tômbua e Baía dos Tigres), acompanhada de povoamento florestal com árvores apropriadas (casuarinas). Este empreendimento era referido internacionalmente, chegou a ser filmado por equipas da Europa e dos Estados Unidos.
Salta à vista que o único meio de reduzir drasticamente os incêndios em Portugal será através de um plano geral que leve em conta as especificidades de cada região. Este plano poderá ser realizado por meio de um cluster (conjunto) de universidades de modo a colaborarem todas as engenharias. Vale ressaltar que não vislumbrámos até hoje a presença de um engenheiro silvicultor, na TV ou nos jornais, durante a época dos fogos ou fora dela. Estão ausentes, porquê? Onde param os engenheiros em Portugal?
O plano abrangerá todas as áreas de engenharia (geográfica,topográfica, florestal,agronómica, informática, civil, mecânica e ambiente). Utilizar-se-ão as ultimas “armas” da engenharia como por exemplo a optimização de acções através da investigação operacional. O plano terá que ter em conta, obviamente, a parte policial e jurídica.
Um cluster das nossas universidades poderá produzir um bom trabalho técnico-científico, até know- how para “exportação. Um bom planeamento de combate a incêndios pode despoletar bons estudos e teses de mestrado e doutoramento por preços normais, sem intermediários parasitas, de acordo com as tabela de honorários estabelecida pela Ordem dos Engenheiros.
Uma vez que tanto se propaga o Portugal Tecnológico chegou a altura de se utilizarem os engenheiros, em suas especialidades, e de se aplicar a moderna Ciência da Optimização e da Decisão. O estudo e execução das medidas contra os fogos devem ser entregues aos sábios e não aos mais sabidos.
Uma incompreensível apatia e um estranho silêncio abateram-se sobre os incêndios florestais e sobre as árvores calcinadas e cinzas que deles provieram.
Incêndios florestais um fatalismo anual? Redondamente, não.
Luiz Teixeira   Eng.civil     Outubro 2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

sábado, 29 de maio de 2010

ANGOLA, 50 ANOS DE PETRÓLEO (1)



“Só me faltava mais esta!”
Frase atribuida a Salazar em 1966 quando lhe disseram que tinha jorrado petróleo em Cabinda em quantidades mais do que animadoras.
«A produção petrolífera de Angola aumentou mais de 550% desde 1980 e é de esperar que essa tendência se mantenha, na sequência de uma série de grandes descobertas feitas na segunda metade do anos 90 que, nas palavras de um analista, fizeram de Angola «“...indiscutivelmenete, o local mais promissor do Mundo para a exploração petrolífera”».De: Angola Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem de Tony Hodges, Editora Principia Cascais Junho 2002.
«O sucesso é o pior inimigo de si próprio, um convite à cupidez e à extravagância.» David S.Landes em A Riqueza e a Pobreza das Nações, Gradiva 2001.

1 - História
O interesse pelo petróleo angolano começou logo que o automóvel fez a sua entrada em Angola em 1912. Imediatamente no imaginário angolano começaram as histórias e as lendas sobre petróleo.
Mas antes, em 1910, uma firma comercial antecipou-se e conseguiu, em Lisboa, uma concessão para perfuração de petróleo entre Santo António do Zaire (Soyo) e Novo Redondo (Sumbe). Foi outorgada uma concessão de100 000 km2 à PEMA, tendo esta iniciado os trabalhos em 1915. Perfuraram mais de 500 m sem qualquer exito. Desistiram.
Era vulgar ouvir dizer que em tal parte o petróleo jorrava do solo como se fosse água. Nas anharas humidas em Angola a vegetação rasteira sofre putrefacções, após chuvas persistentes, formando pastas densas e negras, com laivos de gordura, dando a ilusão de que é petróleo. Existir petróleo em Angola era uma frase que os colonialistas não gostavam de ouvir, não fosse ela ouvida pelas multinacionais e, pior, não fosse ela verdadeira. Para susto bastou a PEMA.
Eles intuiam que o petróleo iria inviabilizar a presença portuguesa nas colónias. O raciocínio estava correcto porque logo que o petróleo em Cabinda começou a jorrar abundantemente, imediatamente irrompeu a independência.
A existência de asfaltos, um indiciador de petróleo, no norte de Angola, mais convencia os angolanos de que a descoberta de petróleo era apenas uma questão de tempo. Os asfaltos são um parente pobre dos petróleos mas que fornecem uma pista.
Em 1938, inquieto com a inépcia dos transportes em Angola, o capitão Joaquim Félix, radicado em Angola, empreendeu experimentos, do seu bolso, com os asfaltos dos Libongos. A imprensa apoiou-o, mas as entidades oficiais achincalharam-no. Decorreriam mais 24 anos para que a colónia começasse a pavimentar as estradas, com os seus próprios asfaltos betuminosos, dando razão ao visionário capitão Félix. As autoridades argumentavam que o asfalto dos Libongos não era apropriado para estradas, mas os belgas compravam-no e usavam-no em pavimentações no Congo Belga já na década de 40.
Em 1952 o governador-geral Silva Carvalho pugnou, com veemência, em Lisboa acabando por convencer Salazar a autorizar a prospecção de petróleo. Desta vez ao sul de Luanda, no Parque Natural da Quiçama. Mas tudo em pequeno, a área escolhida não era muito farta em petróleo.
Em 1954 jorrou petróleo, pela primeira vez em Angola, pelo poço Benfica situado nos arredores de Luanda. Um ano depois começou a sua extracção comercial, desta vez reforçada com um novo poço batizado de Tobias mais a sul. Em 1955 a concessionáia-Carbonang- foi autorizada a montar uma refinaria em Luanda para processamento do promissor petróleo angolano. Os produtos desta refinaria destinavam-se, inicialmente, ao mercado de Angola.
Em Maio de 1957 a refinaria, construída em tempo recorde, entrou em funcionamento com processamento de 100 mil toneladas anuais. Angola ficou auto-suficiente em combustíveis. Em 1960 já se processavam 179 mil toneladas de petróleo bruto das quais 65 mil foram absorvidas pelo mercado angolano, o resto destinou-se à exportação.
O petróleo próximo de Luanda nunca atingiu as grandes expectativas geradas entre a população. Poços rasos de pouco rendimento eram suficientes para o abastecimento interno a para alguma exportação. Apesar de modesta em termos mundiais, esta produção teve o seu merito porque formou quadros medios e inferiores na difícil tecnologia do petróleo. Era já uma incipiente tecnologia de petróleo.

2 - O petróleo de Cabinda
Mas em 1966 houve um sobressalto: jorrou petróleo em Cabinda em volumes mais do que promissores. Este facto originou a célebre frase, atribuida a Salazar e transcrita acima. Nesse ano já Portugal estava atenazado, por todos os lados, para tomar uma resolução que resolvesse o anacronismo colonial em que estava envolvido. O petróleo de Cabinda foi um catalisador da independência de Angola.
A produção de Cabinda foi aumentando de ano para ano. Em 1973 as receitas do petróleo sobrepujaram as do café. Em números: petróleo com 147 068 barris diários totalizando 230 milhões de dólares (em 2005 corresponderia a 2,30 mil milhões de dólares); café com 213 407 toneladas totalizando 203 milhões de dólares (em 2005 corresponderia a 2,04 mil milhões de dólares).
A cifra mil milhões (em matemática 109) corresponde ao bilião no Brasil e nos Estados Unidos. Como esclarecimento adiantamos que a terminologia mil milhões está consentânea com o SI (Sistema Internacional de medições) aceite por todas as nações mundiais com excepção dos E.U.A. No sistema SI (agora também adotado pela Inglaterra) o peso é referido em N (newton) e seus multiplos e a massa é referida em gramas (g) e seus multiplos

Fig 1 Plataforma petrolífera no on-shore (águas rasas) em Cabinda, nos anos 70 do século passado. Em primeiro plano uma “tocha” queimando gás natural uma “obscena” maneira de se verem livres do gás que acompanha, normalmente, a produção de petróleo. Naqueles anos o petróleo era abundante mas o consumo mundial era pequeno. Queimar o gás era a maneira mais cómoda e barata de se obter o petróleo.Ainda hoje o gás natural embaraça a extracção petrolífera em Angola, embora já se faça o seu aproveitamento.

ANGOLA, 50 ANOS DE PETRÓLEO (2)

3 - O petróleo em offshore de Angola


Em relação às jazidas em terra ou em água rasas (até 500 m) os geólogos Richard C.Duncan & Walter Youngquist escreveram um sugestivo artigo na Net (The World Petroleum Life-Cycle 1998) sobre as jazidas de petróleo em todo o mundo (43 países) explicitando-as com curvas de produção ao longo dos anos. Estas levam em consideração o petróleo já extraído e o que pode ser extraído. As curvas abaixo referem-se aos calculos daqueles eminentes geólogos. No caso de Angola não foram incluidas as reservas off-shore descobertas em 1998, após a elaboração das curvas. A nova curva reforça as expectativas angolanas pois augura uma maior “esperança de vida” para o petróleo de Angola.


Fig 2 Curva elaborada por Duncan & Youngquist (1998). A escala vertical refere-se à produção anual e à unidade mil milhões (biliões no Brasil e Estados Unidos). Pormenorizando: 0,35 corresponde a 350 milhões de barris anuais ou sejam 958 904 barris diários. A seguir, em baixo, a mesma curva, adaptada por nós, para barris diários.Não é considerada a existência do petróleo offshore, descoberto após a eleboração deste gráfico. O ramo da curva até 2005 está de acordo com a realidade.

Muitas vezes temos pensado no facto de a independência de Angola ter sido desencadeada atabalhoadamente (com total desconhecimento das realidades e, principalmente, das consequências), a partir de 1974, dando origem a uma descolonização desmiolada (unica na história mundial pelo ineditismo e irresponsabilidade dos “estadistas” que a conduziram). Foi precisamente em 1973, um ano antes, que as multinacionais do petróleo começaram a ver que Angola estava a transformar-se em um promissor campo petrolífero. É uma interessante coincidência, mas mais do que previsível especialmente para aqueles que, naquela época, tinham o privilégio de estudar geo-estratégia mundial.


Fig 3 A curva elaborada pelos geólogos Richard Duncan e Walter Youngquist em 1998 acima referida.A escala vertical à esquerda refere-se a mil milhões (biliões nos E.U.A e Brasil)e a escala à direita refere-se a milhares de barris diários A escala à direita refere-se a barris diários. Observa-se o grande salto em 1970, a quebra em 1976 (independência) com recuperação em 1980, e o grande salto de 1985 até 1995. Em 1992/1993 registou-se uma ligeira perturbação devida à segunda guerra civil.

Em 2005 nesta curva, é visível o declínio da produção, que se vai acentuando ao longo dos anos. Esta curva não leva em conta a produção off-shore descoberta mais tarde. Com a nova estimativa, a partir de 2003 a curva sofrerá uma inflexão para cima, melhorando substancialmente as expectativas dos angolanos.

Fig 4 A parte verde (à esquerda) diz respeito ao petróleo já extraído (até 2003) em um total de 5 mil milhões de barris. A parte azul (à direita) diz respeito ao petróleo por extrair, mas não incluindo aquele que foi descoberto recentemente em águas profundas.A nova curva, neste caso, sofrerá uma inflexão para cima a partir de 2003.Segundo Tony Hodges (Angola-Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem) as reservas petrolíferas angolanas ascendem a mais de 13 mil milhões de barris. O Departamento de Estatística dos E.U.A. refere-se a 9 mil milhões.
Fig 5 As concessões de petróleo em Angola. Toda a orla marítima, de Cabinda ao Cunene, está tomada por elas. A maior parte está a mais de 100 km da costa (off-shore). Esta exploração é toda em FPSO (Floating Production Storage Offloading) ou seja a produção o armazenamento e a transferência para petroleiros são efectuadas em uma plataforma; dali é transferida para os navios de transporte a longas distâncias. Os angolanos não se apercebem como decorrem estas operações.

É, de certo modo, confortável a possança petrolífera de Angola. Fazendo fé nos números de Tony Hodges (13 mil milhões), devidos às novas jazidas off-shore descobertas depois de 2000, o país tem petróleo para mais 17 anos (2027) admitindo uma produção diária de 2 milhões de barris ou 730 milhões de barris anuais. Se adoptarmos o otimismo petrolífero angolano, que tem coincidido com novas descobertas, podemos imaginar um aumento de produção nas concessões mais a sul de Luanda.
Fig 6 Os blocos mais rentáveis no off-shore angolano. Girassol e Dália são do Bloco 17. Está assinalado o poço Tobias que catalisou o entusiasmo dos angolanos sobre o futuro da então colónia.
Fig 7 Esquema das produções petrolíferas actuais em redor da foz (em estuário) do rio Congo ou Zaire.

ANGOLA, 50 ANOS DE PETRÓLEO (3)

4 - As FPSO (Floating Production Storage Offloading)


As FPSO começaram a ser ensaiadas em 1970 mas só se tornaram exequíveis nos anos 90. Elas dispensam os pilares de apoio no fundo do mar e o uso de longos e dispendiosos pipelines. Armazenam o crude “sugado”dos fundos oceânicos e depois passam-no para os navios tanques. Quando “secam” os poços, a FPSO levanta as âncoras e vai para outro local. Quase todas provêm de antigos petroleiros que são reforçados e convertidos em sofisticadas estruturas de extração e armazenamento. Quando são construídas de raiz são as FSU (Floating Storage Unit).

Numa FPSO (Produção, estocagem e transbordo em um único barco) faz-se a extração com armazenamento temporário até 2 milhões de barris; posteriormente virá um navio, a cada 4 dias, para receber o transbordo e fazer o transporte para qualquer parte do mundo.

A maior FPSO até hoje construida foi a actual Seawise Giant, um antigo petroleiro que usou os nomes de Knock Nevis, Happy Giant e Jahre Viking. O petroleiro tinha 458 m de comprimento, 69 m de largura e 32 m de altura fora da água. O calado (parte dentro da água) por ser muito profundo não podia passar no canal do Suez e no canal do Panamá. Este petroleiro foi danificado quando atravessava o estreito de Ormuz durante a guerra Irão-Iraque nos anos oitenta. A carcaça foi reconvertida em FPSO e opera no Qatar.

Fig 8 FPSO Knock Nevis,ex- maior petroleiro do mundo: comprimento de 458 m largura de 69 m calado de 30 m. Não podia passar nos canais de Suez ou Panamá. Ficou semi-destruído na guerra Irão-Iraque quando atravessava o estreito de Ormuz. Foi convertido em FPSO e está em ação no Qatar. Na gravura (a vermelho) uma comparação do seu comprimento com diversos emblemas mundiais.
Fig 9 Os blocos em exploração em 2009 situam-se entre Cabinda e Luanda, O Bloco 17 alberga 4 FPSO muito produtivas: Girassol, Dália, Rosa e Jasmim.Estão “em frente”de N´Zeto (ex-Ambrizete).

O Bloco 17 do off-shore de Angola tem uma reserva de 1000 milhões de barris. A plataforma FPSO Girassol extrai por dia 200 mil barris de crude. Esta plataforma está a 135 km da costa de Angola e opera a uma profundidade de 1350 m. Perto, a 10 km, está a plataforma Dália, com as mesmas características e igual rendimento.

A plataforma Girassol saiu da Coreia, puxada por 2 rebocadores, com destino a Angola, à velocidade de 2 nós (3,7 km) por hora. Atravessou os estreitos de Singapura e Malaca antes de entrar no Oceano Indico. Passou pelo Canal de Moçambique (Pemba) e chegou a Angola após mais de 100 dias de viagem ou 27 mil km.

A FPSO Dália tem 300 m de comprimento, 60 m de largura e 32 m de altura. Era um antigo petroleiro que foi transformado na Coreia do Sul.

A maior FPSO em Angola é a Kizomba: produz 240 mil barris diários e armazena 2,2 milhões de barris. Está ao norte de Dália, no Bloco 15 a 320 km da costa, tem 285 m de comprimento, 63 m de largura e 32 m de altura. Extrai o crude de 1 200 m de profundidade.
Fig 10 Esquema geral de uma FPSO.

Fig11 e 12 Esquema e pormenor de uma FPSO


Fig 13 FPSO Girassol no Bloco 17 do off-shore a 135 km da costa angolana; extrai petróleo de profundidades em torno de 1350 m. A Sonangol detem 60 % e a Total os restantes 40%. O bloco 17 tem 3 mil milhões de barris de reserva. Estão em operação 71 dispositivos de extração do crude que é armazenado durante 8 dias na própria FPSO e depois transferido para petroleiros que seguem para diversos pontos do mundo. Esta FPSO extrai 240 mil barris diários que são armazenados até perfazerem 2 milhões; a seguir virá um petroleiro carregar este petróleo.
Fig 14 A complexidade de uma FPSO. Inquestionável: é uma tecnologia de ponta que abrange todas as engenharias. Estarão os angolanos absorvendo todas estas tecnologias como sucede com o Brasil, onde tudo é feito por brasileiros com as suas universidades desenvolvendo programas de pesquisas? Vale ressaltar que o Brasil é o pioneiro da produção de petróleo em alto-mar. É uma tecnologia de ponta que orgulha os brasileiros: eles não aprendem, ensinam; eles não esperam por outros, empreendem rapidamente.
Fig15 Um FPSO: autónoma, é abastecida diariamente com helicopteros e pequenos barcos.É uma mini-cidade. Nesta gravura ela está em viagem: quando o “poço seca” levanta as âncoras e vai para outros mares. Um verdadeiro maná pois não colide com donos de terras, não deixa marcas ambientais, ninguém se apercebe da sua presença.A extracção de petróleo em alto-mar tranquiliza, sobremaneira, as empresas petrolíferas pois não têm de encarar a má vontade dos nacionais. Mas oferece muitos riscos que são expostos por Sonia Shah no livro “A História do Petróleo” ediçãos L&PM Editores, Porto Alegre, Brasil 2006:« As redes de oleodutos submarinos, apesar de muito caras e trabalhosas para a indústria petrolífera, são muito mais seguras do que transportar enormes quantidades de óleo pela superficie do mar em petroleiros e outras embarcações, como exigem os FPSOs. É por isso, ao menos em parte, que os reguladores norte-americanos baniram os FPSOs do Golfo do Méxicoaté 2002». «Os FPSOs podem se movimentar alguns metros para cima e para baixo e se inclinar cerca de quinze graus». Os FPSOs são viáveis no Atlântico Sul onde as ondas raramente atingem uma altura de 5m.
Fig 16 Off-shore de Angola e respectivos blocos. Por enquanto o Bloco 17 é o mais produtivo.

Há indícios de que existe, mundialmente, mais petróleo no mar do que em terra, tudo depende dos avanços da ciência e da tecnologia.Podemos estar tranquilos, mas sob uma certa reserva, pois asseveram-nos, fazendo fé nos relatórios das multinacionais, que “o petróleo não acaba”. A tranquilidade tem um elevado preço e esse é o evidente aquecimento global, descontando os grandes exageros pseudo-científicos gerados à volta dele.
Fig 17 Esquema de uma FPSO. A plataforma “suga”, do fundo do mar, e transfere o crude para um petroleiro que conduzirá a preciosa carga para qualquer parte do mundo.

ANGOLA, 50 ANOS DE PETRÓLEO (4)

5 - As grandes produçõe petrolíferas no mundo


Desde tempos bíblicos que se conhece o petróleo. Era usado na iluminação e nas cozinhas domésticas. Um derivado, o alcatrão, era usado na calafetagem dos barcos. O Caucaso era a região no mundo onde o petróleo brotava à superficie. O carvão era, então, a grande fonte de energia devido ao seu fácil transporte. A primeira perfuração industrial realizou-se em Baku (Caucaso) em 1848. Em 1850 já era utilizada na iluminação; o célebre candeeiro Petromax (queima petróleo difuso) apareceu em 1857.Até 1850 a base da iluminação era o óleo de baleia. Foi a primeira salvação dos cetáceos, mas não a ultima; ansiamos que os japoneses percam o terrível costume de matar baleias!

O primeiro poço no continente americano entrou em produção em 1858 em Ontário no Canadá. O coronel norte-americano Edwin Drake em Titusville (Pensilvânia) em 1859 foi o iniciador da indústria petrolífera americana ao perfurar um poço com 20 m de profundidadee produção de 30 barris por dia (1 barril de petróleo tem 159 litros). Mas não eram necessárias grandes produções porque o petróleo era utilizado, apenas, para a iluminação.

Mas as grandes possanças americanas estavam mais para oeste: Texas e Oklahoma. Os americanos da costa leste, onde se situa o estado da Pensilvania, desdenhavam dos aventureiros que se esfalfavam na procura de petróleo no Texas. Os pioneiros, quando se aventuram, quase sempre são motivo de chacota.

Com o aparecimento do automóvel tudo mudou. Em 1886 apareceu o primeiro motor de explosão, em 1920 já Henri Ford produzia mais de 1 milhão de carros. Avassalador, o petróleo impôs-se como a primeira fonte de energia.


6 - O primeiro poço gigante da história: Spindletop no Texas

Foi o maior poço de petróleo nos E.U.A. Situa-se ao sul de Beaumont no Texas, a l0 km de Houston.

Em 27 de outubro de 1900 o engenheiro austríaco Anthony Lucas começou a perfurar um poço em cima de um domo de sal, sob fortes e mordazes críticas de colegas e da imprensa. A incipiente produção de petróleo estava concentrada nos estados da Pensilvânia (onde Drake perfurou o primeiro poço petrolífero da história) e Ohio. As teorias da época condenavam esta perfuração, especialmente a imprensa destes dois estados. Outro arrojo dos “aventureiros” do Texas era a perfuração com brocas rotativas em contraste com a percussão os chamados “pica-paus” (derricks).

Em 10 de janeiro de 1901, quando a perfuração atingiu os 300 m, (um contraste com a profundidade de 20 m na Pensilvânia) o furo começou a “a roncar e a vomitar lodo negro com pedriscos” , que caiu sobre as pessoas, sobre toda a aparelhagem e sobre uma apreciável área de serviço circundante. Todos se puseram rapidamente a salvo, a uma conveniente distância. E esperaram ansiosos. O fluxo parou mas continuou ameaçador, “roncando”. Todos voltaram, recomeçando as limpezas, mas desconfiados. Parece que foi de propósito, o poço eclodiu com uma fúria que deixou todos estupefactos, mas explodindo de alegria. Irrompeu um autentico geyser de petróleo atingindo os 60 m de altura-mais 18m do que o seu derrick (torre) encharcando tudo e todos com petróleo. Esta cena inspirou cenas semelhantes nos filmes “O Gigante”, “Cimarron” (em Oklahoma) e modernamente no filme “ Haverá Sangue”.

Spindletop batizado de Lucas, produzia 12 000 m3 (80 000 barris) de crude por dia. Antes deste fenómeno o poço de maior produção no mundo produzia 50 barris diários (8 m3). Havia teorias de que não era possível passar desta marca. O Lucas desmentiu as teorias: fornecia um volume 1 600 vezes maior, um valor inimaginável até então. Spindletop provou que aquecendo as camadas de rocha podem-se obter volumes consideráveis de crude. Provou também a superioridade dos furos rotativos em relação à percussão. Foi o início da moderna tecnologia do petróleo que, desde então, tem sempre desafiado o “status quo”. Quando se julga que “nâo há mais nada para descobrir” aparece uma nova e desafiante tecnologia. O caso mais actual é o das FPSO descritas atrás. Os pioneiros que tentam adoptar novas e ousadas tecnicas são sempre crismados de malucos. Felizmente “eles” persistem nas suas loucuras.

Em 1903, 2 anos depois, o primeiro furo (Lucas) já estava atabafado com milhares de derricks.
Fig 18 O célebre poço gigante de Spindletop e os felizes operadores.
Fig 19 O campo gigante de Spindletop no Texas, 2 anos depois da erupção do Lucas.
Fig 20 Sondagem à percussão (pica-pau). Aplica-se quando a profundidade não vai além de 30 m, em rocha mole. Na Pensilvânia o petróleo, em alguns locais, jorrava à superficie; tinha-se como definitiva a ideia de que o petróleo estava sempre muito à superficie. Em Oklahoma, em Spindletop, aplicou-se a perfuração rotativa que atingiu grandes profundidades.


7 - O campo petrolífero super-gigante em Ghawar na Arábia Saudita

O maior campo petrolífero, até hoje descoberto, situa-se na Arábia Saudita; é Ghawar abrangendo uma área de 7300 km2 (280 km por 26 km), a 250 km e leste da cidade de Riad e a 150 km a Oeste de Qatar. Foi descoberto em 1948 com início da exploração em 1951. Perde eficiência à taxa de 8% ao ano. Produz 5 milhões de barris por dia e 8 mil milhões (8 biliões no Brasil e E.U.A) de m3 de gás natural.

Recebe a designação de gigante um campo petrolífero que produz mais de 500 mil barris por dia. O campo gigante de Ghawar com 5 milhões de barris por dia é o maior no mundo.
Fig 21 Berço da atual civilização o Médio Oriente é hoje a região mais problemática de todo o mundo
Fig 22 O Medio Oriente detém mais de 60% de todo o petróleo mundial. O eixo desta área nevrálgica é o Golfo Pérsico. É um petróleo “em terra”, de fácil extração e com custos pequenos, que serve para moderar os altos custos do petróleo obtido “no mar”. Os impactos ambientais nunca tomam a gravidade dos que sucedem nos offshores. Os incendios “em terra” debelam-se com relativa facilidade.
Fig 23 Campo gigante de Ghawar na Arábia Saudita próximo do Golfo Pérsico ou Arábico. Com a evidente depleção do petróleo fácil esta área já é um ponto vermelho de conflitos, no mapa mundial.


8 - Nigéria

A Nigéria foi o segundo produtor africano de petróleo durante os ultimos anos (o primeiro é a Líbia). Quase toda a extração petrolífera nigeriana situa-se no delta do rio Níger. Este rio tem uma área de bacia hidrográfica de 2 117 700 km2 e um estirão de 4 180 km; nasce na Guiné, passa pelo Mali, Niger, e fronteira do Benim antes de atingir o delta. É o terceiro rio mais longo de África, depois de Nilo e Congo.

O delta é pujante de petróleo embora a produção tenha vindo a cair nestes ultimos anos, não só devido às próprias jazidas, que vão perdendo rendimento ao longo do tempo (ver abaixo a curva de Duncan e Youngquist), como também a circunstâncias sociais que se vão agravando de dia para dia. Os conflitos com as populações locais começaram em 1990 e têm-se agravado desde então.

Ocupação de terras agrícolas de grande fertilidade com estruturas petrolíferas, com fracos critérios de indemnizações, agravada com terríveis poluições do solo, da água e do ar proporcionaram uma situação de pré-guerra civil. São constantes os ataques às infrastruturas e especialmente aos “pipe lines” (tubagem de transporte) provocando incêndios devastadores com muitas mortes. Esclarecemos aqui que o delta do Níger (como é intrínseco de todos os deltas) é eco-agricolamente muito rico, não é de admirar a sua enorme densidade demográfica.

A produção Nigeriana tem vindo a cair de tal maneira que já foi sobrepujada por Angola. Além de petróleo o delta do rio Níger é abundante em gás natural, existindo uma refinaria para transformação do gás natural em LNG (gás natural liquefeito).

Fig 24 Delta do rio Níger. Rico em petróleo coloca a Nigéria em 10ª reserva mundial com 36,2 mil milhões de barris (36,2×109 ). É a 2ª em África com a Líbia (41,5 mil milhões) liderando.O petróleo da Nigéria é todo in-shore (em terra) o que tem trazido grande turbulência culminada com a pré-guerra civil. Os povos que habitam no delta não se conformam com os tremendos impactos ambientais provocados pela produção e pelas consequentes injustiças sociais. Na verdade o petróleo emprega pouca gente, quase toda com alta qualificação o que significa estrangeiros, denominados, agora, de expatriados. (ex-cooperantes). O petróleo inutilizou vastas áreas agrícolas de elevada fertilidade.

Na figura notam-se, a castanho (marron) os imensos e longos pipelines que saem de todos os poços. Isto tem originado pavorosos incêndios, com centenas de perdas de vida, devidos aos furos clandestinos para “re-extração” de crude.

Esta pequena guerra civil tem desencorajado as empresas petrolíferas que se “estão virando” mais para sul ou seja para Angola. Aqui o petróleo está quase todo em off-shore a mais de 100 km da costa angolana.É uma extração muito longe de qualquer bisbilhotice, os angolanos nunca se aperceberão de tal riqueza e como é extraída.Em termos sociais é, também, uma extração offshore dos olhares curiosos.
Fig 25 Curva da produção de petróleo da Nigéria, segundo Richard C.Duncan & Walter Youngquist (1998). A escala vertical diz respeito à produção de barris de petróleo por ano, multiplicada por 109. Assim 0,8 significam 800 milhões anuais ou 2,2 milhões de barris por dia. Um barril tem 159 litros. Verifica-se que o declínio começou em 2005. Além desta previsão há que acrescentar as intensas perturbações provocadas pela exploração petrolífera no delta do rio Níger: os povos revoltaram-se devido aos choques ambientais e sociais trazidos por ela.Em África a Nigéria perdeu o cetro da exploração petrolífera a favor de Angola. Mas em Angola o petróleo é extraído do mar, a mais de 100 km da costa, longe de todos os olhares.Os angolanos nem se apercebem, no terreno, que são detentores de uma imensa riqueza petrolífera. Mas apercebem-se, e como, que dela nada beneficiam!

ANGOLA, 50 ANOS DE PETRÓLEO (5)

9 - O petróleo no Mundo


Principais países produtores de petróleo
Valores de produção em 2008 em milhões de barris diários
Fonte: Departamento de Estatística dos Estados Unidos da América
Angola deverá atingir, muito brevemente, os 2 milhões de barris por dia.

Fig 26 Países produtores de petróleo.


Maiores exportadores de petróleo
Valores de 2008 em milhões de barris diários
Fonte Departamento de Estatística dos Estados Unidos da América


Maiores consumidores de petróleo
Valores de 2006 em milhões de barris diários
Fonte: Departamento de Estatística dos Estados Unidos da América

O consumo mundial diário de petróleo cifra-se em torno de 85 milhões de barris (13,5 milhões de m3 ) ou seja é um “ rio” de petróleo com um caudal de 156 m3/s. À velocidade normal da água (1 m/s, inadmissível para petróleo pois, para este na prática, seria muito menor) o crude seria transportado por uma adutora (tubo circular) com 14 m de diâmetro, dia e noite, durante um ano. Para um transporte teórico de petróleo a velocidade no tubo teria que ser muito menor do que 1 m/s o que aumentaria, substancialmente, o respectivo diâmetro.

Fig 27 Consumo diário mundial de todos os países do Mundo. Total: 85 milhões de barris por dia.


10 - As 20 maiores reservas petrolíferas do Mundo em 2007
Valores em mil milhões (biliões no Brasil e E.U.A)
Fonte: Departamento de Estatistica dos E.U.A

Fig 28 Segundo Tony Hodges em” Angola Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem”: «...as reservas totais estimadas do país, incluindo quer as comprovadas, quer as prováveis, ascendiam já, nessa data, a 12 300 milhões de barris, ou seja ao equivalente a 38 anos de produção aos mesmos níveis (MINPET, 2001)».A gravura inclui 9 mil milhões valores admitido pelo Departamento de Estatística dos Estados Unidos da América. Fonte deste gráfico: Internet.

Unidades: Billion significa 109 ou no sistema SI (oficializado na União Europeia) mil milhões.
Fig 29 Países africanos produtores de petróleo. As maiores reservas estão na Líbia (43,7 mil milhões) e Nigéria (36 mil milhões). Seguem-se a Argélia (12,2 mil milhões) e Angola (9 mil milhões) Todas as reservas estão em onshore (em terra) excepto Angola que estão em offshore (no fundo do mar). Em Ghana e no Uganda as reservas foram descobertas muito recentemente. Estes países estão sob forte confusão de sentimentos levantada pela seguinte pergunta: “Será que se vão repetir aqui as mesmas desgraças que grassam por todo o continente africano?”Os produtores africanos estão integrados no segundo time; no primeiro time, até 80 mil milhões de barris incluem-se a Arábia Saudita, Irão, Iraque, Kuwait, Emirados Árabes Venezuela e Rússia.


11 - Os maiores emissores de CO2
Valores referidos ao período 1990-2002

Fig A China é o maior emissor de CO2 mas é também o mais populoso país do mundo

12 - As descobertas de jazidas

Fig 30 O século do petróleo. O período entre 1940 e 2000 foi a época dourada das descobertas de novas jazidas. Isto criou no homem comum uma sensação de eternidade energética, mas a partir de meados dos anos 90 a curva dos consumos passou para cima da curva das descobertas o que prenuncia uma depleção a longo prazo, Mas há reservas colossais de gás natural, basta fazerem-se rápidas reconversões, embora o transporte de gás seja mais problemático e dispendioso.