BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

OS MEUS COMPUTADORES: EU TENHO 2 AMORES

JOE MAGALHÃES

Uma nova estrela desponta no Universo da Canção


Os meus computadores
Em nada são iguais
E até o Hugo Chavez
É deles que gosta mais
Até o Hugo Chavez
É deles que gosta mais
Os meus computadores
Em nada são iguais

Abro o Excel e aparece
O Orçamento, que ternura
Tão leve que até parece
Fruto da minha loucura

Mas o Word ciumento
Quer brilhar na sua vez
Neste texto que é bem técnico
Ele corrige o inglês

Os meus computadores
Em nada são iguais
E até o Hugo Chavez
É deles que gosta mais
Até o Hugo Chavez
É deles que gosta mais
Os meus computadores
Em nada são iguais

E minha mão sobre o rato
Sem saber o que fazer
Imprimo outro diploma
Pr'aumentar ao meu saber

Que o Magalhães não encrave
Eu já pedi tanta vez
Pois enquanto ele trabalha
Faz feliz um português

Lalala-rala-ralala
Lalala-rala-rala
Lalala-rala-ralala
Lalala-rala-rala

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

RECORDANDO OS BONS VELHOS TEMPOS DO APITO DOURADO

PARA QUE NINGUÉM ESQUEÇA ESTAS VERGONHAS !!!

E vejam depressa antes que as apaguem!
Reparem que o árbitro Donato Ramos que VÊ CLARAMENTE o Vitor Baía (coitadinho, o Scolari mandou-o dar uma volta da selecção nacional, isso não se faz) defender a bola com a mão fora da área, não tinha ninguém à sua frente e estava a meia dúzia de metros. Ah ... e também não estava nevoeiro! O à vontade do Vitinho Balizas só se compreende porque ele estava com as costas largas ... podia fazer o que bem entendesse.



Estas imagens só são possíveis dada a IMPUNIDADE dos jogadores do FCPorto e o MEDO e CORRUPÇÃO que rodeava a arbitragem. Vejam estas imagens a seguir e depois leiam os comentários que o António Rola faz na rubrica "Tribunal" do Jornal "O Jogo".

É DE RIR ATÉ DIZER CHEGA



Só falta o vídeo do penalty marcado ao Peter Rufai do Farense com um petardo a REBENTAR-LHE ao lado e o fumo a propagar-se. Foi ... VALIDADO golo Ao Domingos Paciência, hoje a voz do dono ao serviço na Académica de Coimbra.
Sabem quem era o árbitro desse célebre jogo? CUNHA ANTUNES, pois então ...
E esta hein ... eheheheheheh

INDICAÇÃO DE VOTO PARA 2009


Sabedoria Popular
1) Em Janeiro sobe ao outeiro; se vires verdejar, põe-te a cantar, se vires Sócrates, põe-te a chorar.
2) Quem vai ao mar avia-se em terra; quem vota Sócrates, mais cedo se enterra.
3) Sócrates a rir em Janeiro, é sinal de pouco dinheiro.
4) Quem anda à chuva molha-se; quem vota em Sócrates amocha-se.
5) Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão; parvo que vota em Sócrates, tem cem anos de aflição.
6) Gaivotas em terra temporal no mar; Sócrates em Belém, todo povinho a penar.
7) Há mar e mar, há ir e voltar; votar Sócrates só para se afogar.
8) Março, marçagão, manhã de Inverno tarde de Verão; Sócrates, Soarão, manhã de Inverno tarde de inferno.
9) Burro carregando livros é um doutor; burro carregando o Sócrates é burro mesmo.
10) Peixe não puxa carroça; voto em Sócrates, asneira da grossa.
11) Amigo disfarçado, inimigo dobrado; Sócrates empossado, povinho lixado.
12) A ocasião faz o ladrão, Sócrates é sempre um aldrabão.
13) Antes só que mal acompanhado, pior só com Sócrates ao lado.
14) A fome é o melhor cozinheiro, o Sócrates é mesmo um coveiro.
15) Olhos que não vêm, coração que não sente, mas aturar o Sócrates, não se faz à gente.
16) Boda molhada, boda abençoada; Sócrates eleito, país desfeito.
17) Casa roubada, trancas na porta; Sócrates eleito, recuperação morta.
18) Com Sócrates e bolos se enganam os tolos.
19) Não há regra sem excepção, nem Sócrates sem confusão.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

PARA QUE A PLEBE SAIBA ...

... que estamos entregues aos bichos, ao nojo a que chegou este país.

- Fernando Nogueira:
Antes -Ministro da Presidência, Justiça e Defesa Agora - Presidente do BCP Angola- José de

- Oliveira e Costa:
Antes -Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Agora -Presidente do Banco Português de Negócios (BPN)

- Rui Machete:
Antes - Ministro dos Assuntos Sociais. Agora - Presidente do Conselho Superior do BPN; Presidente do Conselho Executivo da FLAD

-Armando Vara:
Antes - Ministro adjunto do Primeiro Ministro. Agora - Vice-Presidente do BCP. Este também é dos que se "licenciaram" à última hora na Universidade Independente.

- Paulo Teixeira Pinto:
Antes - Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros Agora - Presidente do BCP (Ex. - Depois de 3 anos de 'trabalho', Saiu com 10 milhões de indemnização !!! e mais 35.000€ x 15 meses por ano até morrer...)

- António Vitorino:
Antes -Ministro da Presidência e da Defesa Agora -Vice-Presidente da PT Internacional; Presidente da Assembleia Geral do Santander Totta - (e ainda umas 'patacas' como comentador RTP)

- Celeste Cardona:
Antes - Ministra da JustiçaAgora - Vogal do CA da CGD

- José Silveira Godinho:
Antes - Secretário de Estado das Finanças Agora - Administrador do BES

- João de Deus Pinheiro:
Antes - Ministro da Educação e Negócios Estrangeiros Agora - Vogal do CA do Banco Privado Português.

- Elias da Costa:
Antes - Secretário de Estado da Construção e Habitação - Agora - Vogal do CA do BES

- Ferreira do Amaral:
Antes - Ministro das Obras Públicas (que entregou todas as pontes a jusante de Vila Franca de Xira à Lusoponte) Agora - Presidente da Lusoponte, com quem se tem de renegociar o contrato.etc etc etc...

O que é isto ? Cunha ? Gamanço ?

Não, não é a América Latina, nem Angola. É Portugal no seu esplendor ....e depois até querem que se declarem as prendas de casamento e o seu valor .

E quem são os TOTÓS, quem são ??????????

Já é tempo de parar!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

É ESTE O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO QUE TEMOS ...

... autista, miope, velhaco, não inspira qualquer confiança e, acima de tudo INIMIGO dos professores.


A verdade, nua e crua!!!

BOM NATAL, BOAS FESTAS E UM BOM 2009 ...

... e que os professores continuem unidos numa luta contra quem vomita ódio contra eles e que desde a primeira hora sempre os espezinhou e procurou desacreditar responsabilizando-os pelo insucesso escolar de um ensino cada vez mais fingido, facilitado e sem qualquer crédito e valorização.





quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS

Depois das rabanadas e do bacalhau, a luta com a Santíssima Trindade e com o "licenciado" a martelo em Engenharia, vai continuar

Firmes e hirtos!!


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A BRANCA DE NEVE E OS DOIS ANÕES

A Plataforma foi hoje ao Ministério entregar cerca de 70.00 assinaturas. Assim que a Plataforma vira as costas, o sr. Pedreira, secretário de estado daquilo a que chamam Ministério da Educação dispara do alto da sua altivez:

«Este abaixo-assinado vale o que vale. As circunstâncias em que foi recolhido permitiam que qualquer pessoa sem nenhuma identificação o preenchesse e enviasse aos sindicatos. Qualquer pessoa podia assinar na Internet. Só era pedido um nome e uma escola.»

Esqueceu-se de dizer que os 13 apóstolos a favor deste modelo de avaliação que foram ao beija-pés do ministério comandados pela madre Armandina e recebidos com toda a pompa e circustência, nem sequer valem o que valem. Mas tiveram direito à página do ministério.
RIDÍCULO! ... 13 ... sim, apenas 13, não me enganei não, em 140.000 ... treze (13) !!!!!!

Só faltou também dizer que foram 70.000 professores chantagistas a assinar.

JOGO ANTI STRESS

domingo, 14 de dezembro de 2008

AVALIAÇÃO DE PROFESSORES - OS PROTESTOS EM PORTUGAL SÃO IGUAIS NO CHILE

Lá como cá.
Depois de Maria de Lurdes Rodrigues ter ido ao Chile importar um modelo sul americano para aplicar aos professores em Portugal, os protestos, afinal, não são diferentes.
O CAPRICHO da D.ª Milú é ainda mais revoltante quando reconhece publicamente: " Este modelo não presta, para o ano posso substituir por outro mas este ano é assim e ... "prontus"..."
Parece a dona da bola que não sabe jogar, ninguém lhe reconhece mérito mas ... é a dona da bola e ... "prontus"


RESPOSTA À TRALHA DA DREN E AO NOJO NOREPLAY DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Uma resposta daquelas que eu gosto.
Uma resposta e um esclarecimento aoS ABUSOS e à forma ABUSIVA como o Ministério dito da Educação e as suas Direcções Regionais têm utilizados gratuitamente os emails individuais e pessoais dos professores que, solicitados para um determinado fim, têm vindo a ser velhaca e sorrateiramente disponibilizados para outros fins.
Parabéns Ana Maria Bonifácio, PARABÉNS!

Aqui está a justiça do sistema!!!!
E como esta ... MUITAS.

[Resposta à DREN]

Ex.mos Srs.

Sou professora há vinte e oito anos. Durante todos estes anos não tive o prazer de receber uma única carta (a Internet é uma invenção recente) nem um e-mail dos vossos serviços, excepto quando fui convidada pelo então ministro David Justino para participar nos Encontros de Caparide, sobre os novos programas de Português. Este convite deveu-se ao facto da minha escola ter estado durante cinco anos consecutivos nos cinco primeiros lugares dos Rankings dos Exames Nacionais do Ensino Secundário e de eu ser uma das professoras responsáveis pelos resultados. De repente, recebo duas comunicações endereçadas por noreply a convidar-me a colocar os meus objectivos on-line (provavelmente para me poupar trabalho e para evitar ter que os discutir com a minha avaliadora, conforme a lei obriga) e ainda três esclarecimentos enviados pelos vossos serviços. Assim gostaria de
esclarecer que:

1º Não sou loura nem burra;

2º Sei ler e interpretar a legislação, que mal seria se o não fizesse sendo professora de Português, mas, admitindo que o não fosse, tenho amigos e familiares advogados e juízes sempre prontos a esclarecer-me;

3º Desde o concurso para professores titulares, considero que os vossos serviços não merecem a honra de me contactarem nem de receberem uma resposta minha;

4º Durante vinte e oito anos de serviço dediquei a minha vida à escola, e expensas da minha própria família (prescindi mesmo da licença de amamentação do meu filho para orientar estágio, a pedido do Conselho Directivo, por não haver ninguém disponível e para nãoperdermos o núcleo de estágio);

5º Na escola onde lecciono, a Secundária de Barcelos, dos professores no 9º escalão, só eu e uma colega do mesmo Departamento ocupámos um tão grande número de cargos.
Estive durante três mandatos no Conselho Executivo, fui Directora de Turma, orientei o estágio da Universidade Católica de Braga, orientei estágio na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Docente de Apoio Pedagógico), fui Coordenadora dos Directores de Turma, fui Coordenadora de Departamento e de Secção. Dos cargos existentes na escola só não fui Directora da Biblioteca nem doutras instalações, nem pertenci à Assembleia de Escola;

6º Quase todos estes cargos foram exercidos antes de 2000, ficando, por isso, fora dos sete anos escolhidos para a candidatura a Professor Titular (Portugal deve ser o único país em que Curriculum Vitae não significa toda a vida mas apenas sete anos. A propósito, fui confirmar e no meu processo há registo de todos os meus cargos, de todas as minhas faltas, horários de todos os meus anos lectivos ao contrário do que a Sra. Ministra afirmou quando justificou que o concurso só dizia respeito aos últimos sete anos por falta de registos anteriores;

7º Quase me esqueci de mencionar (pois para o Ministério parece ser o menos importante) que fui professora, tenho anos lectivos sem uma única falta, os meus alunos continuam a ser excelentes nos Exames Nacionais, fiz, para me actualizar todas as acções do Projecto Falar sendo, por isso, Professora Acompanhante dos novos programas de Português;

8º Consegui no concurso para Professora Titular 124 pontos mas não tive vaga, pelo que não passo duma mera professora, que nas palavras da Sra. Ministra não pertence ao leque dos professores excelentes que os pais devem ambicionar para os seus filhos. Na minha escola, num outro Departamento, uma colega é Titular com oitenta e poucos pontos, o mesmo acontecendo noutras escolas;

9º Como aparte devo referir que muitos dos meus antigos alunos desejam que eu seja a professora dos filhos, sabe-se lá porquê!

10º Neste momento, de acordo com a lista graduada da minha escola, descobri que estou no limbo (apesar do papa o ter extinguido) pois apenas tenho o meu índice remuneratório, não pertencendo a nenhum escalão;

Assim, e em jeito de conclusão, agradecia que parassem de me enviar e-mails. Para o caso de não lerem este, vou assinalar no meu o vosso endereço como spam evitando assim enervar-me sempre que vejo o vosso contacto.

Sem mais

Ana Maria Bonifácio

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

domingo, 7 de dezembro de 2008

VALE A PENA VER ...

CLUBE DE IMPRENSA

IMPERDÍVEL.
Veiga Simão - Filomena Mónica - Nuno Crato

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O CERNE DA QUESTÃO É ESTE

O Modelo de Avaliação é apenas a "cereja em cima do bolo" que fez explodir toda uma classe revoltada com a injustiça e a mentira, que tem vindo a ser maltratada e enxovalhada por este ministério da educação.
Um "professor titular" APENAS E SÓ é titular porque estava no lugar certo na hora certa. MAIS NADA!

A seriação para que um professor seja titular teve por base APENAS E SÓ a qualificação dos últimos 7 anos. Disse bem, "os últimos 7 anos" independentemente de já estar a trabalhar há 20 ... 25 ... 30 ... 34 ...

UMA VERGONHA. Mais que isso, UM NOJO. Pior ainda, uma FRAUDE.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

QUEM É VALTER LEMOS - SUBMISSO SECRETÁRIO DE ESTADO DAQUILO A QUE CHAMAM EDUCAÇÃO

Para quem assistiu ontem à PATÉTICA imagem do sr. Valter Lemos na TV a procurar explicar o inexplicável do encerramento de escolas e GREVE quase Geral dos professores, vale a pena, numa altura destas, recuperar um artigo de há 2 anos que mostra bem a quem estamos entregues e o estado a que chegou o ensino em Portugal.

tamos a falar portanto, de um governante que perdeu o mandato na CM de Penamacor por EXCESSO DE FALTAS INJUSTIFICADAS, que não é EXEMPLO PARA NINGUÉM e que, nem sequer tem moral para falar em rigor ou exigir. UMA VERGONHA

Não, sr. secretário de Estado.

Valter Lemos nunca participou em debates parlamentares, nunca, demonstrou possuir uma ideia sobre Educação. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tem aparecido na televisão e até no Parlamento, o mesmo não sucedendo ao seu secretário de Estado, ValterLemos. É pena, porque este senhor detém competências que lhe conferem um enorme poder sobre o ensino básico e secundário.

Intrigada com a personagem, decidi proceder a uma investigação. Eis os resultados a que cheguei. Natural de Penamacor, Valter Lemos tem 51 anos, é casado e possui uma licenciatura em Biologia: até aqui nada a apontar. Os problemas surgem com o curriculum vitae subsequente. Suponho que ao abrigo do acordo que levou vários portugueses a especializarem-se em Ciências da Educação nos EUA, obteve o grau de mestre em Educação pela Boston University. A instituição não tem o prestígio da vizinha Harvard, mas adiante. O facto é ter Valter Lemos regressado com um diploma na 'ciência' que, por esse mundo fora, tem liquidado as escolas.


Foi professor do ensino secundário até se aperceber não ser a sala de aula o seu habitat natural, pelo que passou a formador de formadores, consultor de 'projectos e missões do Ministério daEducação' e, entre 1985 e 1990, a professor adjunto da Escola Superior do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

Em meados da década de 1990, a sua carreira disparou: hoje, ostenta o pomposo título de professor-coordenador, o que, não sendo doutorado, faz pensar que a elevação académica foi política ou administrativamente motivada; depois de eleito presidente do conselho científico da escola onde leccionava, em 1996 seria nomeado seu presidente, cargo que exerceu até 2005, data em que entrou para o Governo. Estava eu sossegadamente a ler o Despacho ministerial nº 11 529/2005, no Diário da República, quando notei uma curiosidade. Ao delegar poderes em Valter Lemos, o texto legal trata-o por 'doutor', título que só pode ser atribuído a quem concluiu um doutoramento, coisa que não aparece mencionada no seu curriculum.

Estranhei, como estranhei que a presidência de um politécnico pudesse ser ocupada por um não doutorado, mas não reputo estes factos importantes. Aquando da polémica sobre o título de engenheiro atribuído a José Sócrates, defendi que os títulos académicos nada diziam sobre a competência política: o que importa é saber se mentiram ou não. Deixemos isto de lado, a fim de analisar acarreira política do sr. secretário de Estado.

Em 2002 e 2005, foi eleito deputado à Assembleia da República, como independente, nas listas do Partido Socialista. Nunca lá pôs os pés, uma vez que afunção de direcção de um politécnico é incompatível com a de representante da nação. A sua vida política limita-se, por conseguinte, à presidência de uma assembleia municipal (a de CasteloBranco) e à passagem, ao que parece tumultuosa, pela Câmara de Penamacor, onde terá sofrido o vexame de quase ter perdido o mandato de vereador por excesso de faltas injustificadas, o que só não aconteceu por o assunto ter sido resolvido pela promulgação de uma nova lei.

Em resumo, Valter Lemos nunca participou em debates parlamentares, nunca demonstrou possuir uma ideia sobre Educação,nunca fez um discurso digno de nota. Chegada aqui, deparei-me com umproblema: como saber o que pensa do mundo este senhor?



Depois de buscas por caves e esconsos, descobri um livro seu, O Critério do Sucesso: Técnicas de Avaliação da Aprendizagem. Publicado em 1986, teve seis edições, o que pressupõe ter sido o mesmo aconselhado como leitura em vários cursos de Ciências da Educação.

Logo na primeira página, notei que S. Excia era um lírico.

Eis a epígrafe escolhida:'Quem mais conhece melhor ama.' Afirmava seguidamente que, após a sua experiência como formador de professores, descobrira que estes não davam a devida importância ao rigor na 'medição' da aprendizagem. Daí que tivesse decidido determinar a forma correcta como o docente deveria julgar os estudantes. Qualquer regra de bom senso é abandonada, a fim de dar lugar a normas pseudocientíficas, expressas num quadrado encimado por termos como ' skill cognitivos'. Navegando na maré pedagógica que tem avassalado as escolas, apresenta depois várias 'grelhas de análise'.

Entre outras coisas, o docente teria de analisar se o aluno 'interrompe o professor', se 'não cumpre as tarefas em grupo' e se 'ajuda os colegas'. Apenas para dar um gostinho da sua linguagem, eis o que diz no subcapítulo 'Diferencialidade':'

Após a aplicação do teste e da sua correcção deverá, sempre que possível, ser realizado um trabalho que designamos por análise de itens e que consiste em determinar o índice de discriminação, [sic para a vírgula] e o grau de dificuldade, bem como a análise dos erros e omissões dos alunos. Trata-se portanto, [sic de novo] de determinar as características de diferencialidade do teste.'

Na página seguinte, dá-nos a fórmula para o cálculo do tal 'índice de dificuldade e o dediscriminação de cada item'. É ela a seguinte: Df= (M+ P)/N em que Df significa grau de dificuldade, N o número total de alunos de ambos os grupos, M o número de alunos do grupo melhor que responderam erradamente e P o número de alunos do grupo pior que responderam erradamente.

O mais interessante vem no final, quando o actual secretário de Estado lamenta a existência de professores que criticam os programas como sendo grandes demais ou desadequados ao nível etário dos alunos. Na sua opinião, 'tais afirmações escondem muitas vezes,[sic mais uma vez] verdades aparentemente óbvias e outras vezes 'desculpas de mau pagador', sendo difícil apoiá-las ou contradizê-las por não existir avaliação de programas em Portugal'. Para ele, a experiência dos milhares de professores que, por esse país fora, têm de aplicar, com esforço sobre-humano, os programas que o ministério inventa não tem importância. Não contente com a desvalorização do trabalho dos docentes, S. Excia decide bater-lhes:

'Em certas escolas, após o fim das actividades lectivas, ouvem-se, por vezes, os professores dizer que lhes foi marcado serviço de estatística. Isto é dito com ar de quem tem, contra a sua vontade, de ir desempenhar mais uma tarefa burocrática que nada lhe diz. Ora, tal trabalho, [sic de novo] não deve ser de modo nenhum somente um trabalho de estatística, mas sim um verdadeiro trabalho de investigação, usando a avaliação institucional e programática do ano findo.' O sábio pedagógico-burocrático dixit.

O que sobressai deste arrazoado é aconvicção de que os professores deveriam ser meros autómatos destinados a aplicar regras.

Com responsáveis destes à frente do Ministério da Educação, não admira que, em Portugal, a taxa de insucesso escolar seja a mais elevada da Europa. Valter Lemos reúne o pior de três mundos: o universo dos pedagogos que, provindo das chamadas 'ciências exactas', não têm uma ideia do que sejam as humanidades, o mundo totalitário criado pelas Ciências da Educação e a nomenklatura tecnocrática que rodeia o primeiro-ministro.

Maria Filomena Mónica
Público, 2007-09-30
Historiadora

NÃO HÁ MÉRITO SEM QUOTAS? QUE BURRIDADE !!!!


«Não há mérito sem quotas»: ouviu-se defender no último debate televisivo sobre a avaliação do desempenho docente.
Esta é uma afirmação que revela a confusão existente entre avaliação do desempenho profissional e progressão na carreira. Ora, a avaliação do desempenho profissional dos professores tem um carácter científico e pedagógico-didáctico, enquanto a progressão na carreira tem um carácter burocrático, administrativo e remuneratório.

Os objectivos da avaliação de desempenho docente, que estão consignados no artigo 40.º do Estatuto da Carreira Docente(Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro), são os seguintes:– Melhorar a qualidade das aprendizagens e dos resultados escolares dos alunos;– Favorecer o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores;– Inventariar as necessidades de formação;– Diferenciar e premiar os melhores profissionais;– Promover o trabalho colegial.
Como se pode observar, nos próprios objectivos definidos pela tutela não consta a progressão na carreira e muito menos a progressão na carreira sujeita a quotas. Nem mesmo o penúltimo objectivo(«Diferenciar e premiar os melhores profissionais») remete directamente para tal.Os objectivos acima referidos (consignados no Estatuto da Carreira Docente e que, não tendo sido revistos, se mantêm, portanto) remetem,pois, directamente para a análise da componente científica e pedagógico-didáctica do ensino, e não para a progressão na carreira.

A progressão na carreira surge, no Estatuto da Carreira Docente, como uma consequência, e não como um objectivo, o que é totalmente diferente, como se pode ver no artigo 41.º, em que se consigna a relevância (e não o objectivo) da avaliação do desempenho: esta é considerada «para efeitos de progressão e acesso na carreira». Como é consabido, o efeito decorre da causa, e não o contrário. Tal significa que, em primeiro lugar, os profissionais são avaliados e vêem reconhecido o seu mérito segundo critérios definidos pela tutela. A tutela só tem de definir os critérios do mérito, nomeadamente os de Bom, de Excelente e de Muito Bom.

E, se os profissionais corresponderem a esse critérios, o mérito tem de ser reconhecido.
Depois, depois surge o efeito do reconhecimento desse mérito: o professor progride de uma determinada forma na carreira. As quotas são um número artificial, que nada tem que ver com o mérito, mas, apenas,com uma determinada política salarial.
Assim, não se deve deixar confundir mérito com quotas. Há, sim,mérito, independentemente de quotas, como há quotas, independentemente do mérito.

Para uma melhor compreensão, só uma simples analogia com a avaliação dos alunos: um aluno que num 12.º ano obtém uma média de classificação de 18 valores tem mérito, muito mérito. No entanto, se pretender entrar num curso em que o numerus clausus seja de 100 vagas e houver100 candidatos a essas vagas com a classificação de 18,1 valores ou superior, o aluno de 18 valores não entra, mas não deixa de ter mérito! Ao invés, poderá ocorrer que num curso com o mesmo numerus clausus, mas que não tenha tanta procura, haja alunos de 10 valores que entrem (sem grande mérito) e até que fiquem vagas por preencher.

Quotas não são mais do que um numerus clausus artificial, que não tem nada que ver com o mérito!

Se o Ministério da Educação pretende realmente o mérito no desempenho docente, e não, apenas, pagar menos aos professores em salários,deverá demonstrá-lo suprimindo as quotas, substituindo-as pela definição de um perfil de Excelente, de Muito Bom e de Bom e atribuindo as referidas menções a quem corresponder aos perfis definidos. E assim estará, com seriedade, a diferenciar e a premiar os melhores professores.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

MODELO DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROFESSORES AVALIADORES

Presidente do Conselho Executivo

Avalia:
- Assiduidade
- Grau de cumprimento do serviço distribuído
- Progresso dos resultados escolares dos alunos e redução das taxas de abandono tendo em conta o contexto socio-educativo
- Participação nas actividades da escola
- Acções de formação realizadas- Exercício de outros cargos de natureza pedagógica
- Dinamização de projectos de investigação
- Apreciação dos encarregados de educação, desde que haja concordância do docente e nos termos a definir no regulamento da escola

Coordenador do Departamento Curricular:

Avalia a qualidade científico-pedagógica do docente com base nos seguintes parâmetros:
- Preparação e organização das actividades lectivas
- Realização das actividades lectivas
- Relação Pedagógica com os alunos
- Processo de avaliação das aprendizagens dos alunos

FASES DA AVALIAÇÃO

1.ª fase
Objectivos e indicadores
- O Conselho Pedagógico da escola define os seus objectivos quanto ao progresso dos resultados escolares e redução das taxas de abandono, que são elementos de referência para a avaliação dos docentes.
- O Conselho Pedagógico da escola elabora os instrumentos de registo de informação e indicadores de medida que considere relevantes para a avaliação de desempenho.

2.ª fase

Objectivos individuais
- No início de cada ciclo de avaliação de dois anos, o professor avaliado fixa os seus objectivos individuais, por acordo com os avaliadores, tendo por referência os seguintes itens:
- Melhoria dos resultados escolares dos alunos
- Redução do abandono escolar
- Prestação de apoio à aprendizagem dos alunos incluindo aqueles com dificuldade de aprendizagem
- Participação nas estruturas de orientação educativa e dos órgãos de gestão da escola- Relação com a comunidade;
- Formação contínua adequada ao cumprimento de um plano individual de desenvolvimento profissional do docente.
- Participação e dinamização de projectos
Nota: Na falta de acordo quanto aos objectivos prevalece a posição dos avaliadores

3.ª fase

Aulas observadas
- O coordenador de departamento curricular observa, pelo menos, três aulas do docente avaliado em cada ano escolar.
- O avaliado tem de entregar um plano de cada aula e um portfólio ou dossiê com as actividades desenvolvidas

4.ª fase

Auto-avaliação
- O professor avaliado preenche uma ficha de auto-avaliação, onde explicita o seu contributo para o cumprimento dos objectivos individuais fixados, em particular os relativos à melhoria das notas dos alunos
- Os professores têm de responder nas fichas de auto-avaliação a 13 questões (pré-escolar) e 14 questões (restantes ciclos de ensino)

5.ª fase

Fichas de Avaliação
- O presidente do conselho executivo e o coordenador do departamento curricular preenchem fichas próprias definidas pelo Ministério da Educação, nas quais são ponderados os parâmetros classificativos.
- Os avaliadores têm de preencher uma ficha com 20 itens cada, por cada professor avaliado
- O coordenador do departamento curricular preenche uma ficha com 20 itens, por cada professor avaliado
- O presidente do conselho executivo tem de preencher uma ficha com 20 itens, por cada professor avaliado
- As pontuações de cada ficha são expressas numa escala de 1 a 10.

6.ª fase

Aplicação das quotas máximas
- Em cada escola há uma comissão de coordenação da avaliação de desempenho formada pelo presidente do Conselho Pedagógico e quatro professores titulares do mesmo órgão, ao qual cabe validar as propostas de avaliação de Excelente e Muito Bom, aplicando as quotas máximas disponíveis.

7.ª fase

Entrevista individual
- Os avaliadores dão conhecimento ao avaliado da sua proposta de avaliação, a qual é apreciada de forma conjunta.

8.ª fase

Reunião Conjunta dos Avaliadores
- Os avaliadores reúnem-se para atribuição da avaliação final após análise conjunta dos factores considerados para a avaliação e auto-avaliação. Seguidamente é dado conhecimento ao avaliado da sua avaliação.

SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO

- Excelente, de 9 a 10 valores
- Muito Bom, de 8 a 8,9
- Bom, de 6,5 a 7,9-
Regular, de 5 a 6,4
- Insuficiente, de 1 a 4,9

EFEITOS DAS CLASSIFICAÇÕES- Excelente durante dois períodos seguidos de avaliação reduz em quatro anos tempo de serviço para ser professor titular

- Excelente e Muito bom reduz em três anos tempo de serviço para ser professor titular
- Dois Muito bom reduz em dois anos tempo de serviço para ser professor titular
- Bom não altera a normal progressão na carreira
- Regular ou Insuficiente implica a não contagem do período para progressão na carreira

- Dois Insuficiente seguidos ou três intercalados implica afastamento da docência e reclassificação profissional.
(in Jornal 24 horas, acessível a todos os portugueses)


Pergunto:

CONHECEM QUALQUER OUTRO SECTOR PROFISSIONAL QUE PASSE POR ESTE "HORROR", acima descrito?

Digam-me qual... enviem-me o modelo de avaliação dos médicos, engenheiros, enfermeiros, jornalistas, ministros, economistas, gestores (do BPN, por exemplo), supervisores, carpinteiros, coveiros... seja lá o que for que seja IGUAL ao que querem fazer aos professores!!!

Digam-me que profissão tem de escrever SUMÁRIOS exaustivos do que faz em cada hora de trabalho (os enfermeiros, por exemplo, no fim do turno têm de escrever registos, mas depois não levam trabalho para casa)... que tem de ELABORAR portefólios completos de TODA a sua actividade... e que TEMPO é que resta para fazer aquilo para que existe, que, no caso dos professores, é (devia ser) PREPARAR E DAR AULAS!

Enviem-me, por exemplo, o modelo de avaliação que avaliou a ministra Maria de Lurdes Rodrigues enquanto foi professora... antes de ser socióloga... ou, enquanto tal, enquanto foi professora no ISCTE! Existe esse modelo... ou na altura ela era CONTRA o que agora FAZ?!

Enviem-me o número de pessoas que trabalham no Ministério da Educação e que JÁ FORAM AVALIADAS! Não sabem?! Que tal investigarem? Hein? Dá muito trabalho?

DEIXEM-NOS ENSINAR !!!!!!!!

GREVE DO DIA 3 DE DEZEMBRO - ACHA QUE PERDE DINHEIRO COM UM DIA DE GREVE?

O verdadeiro motivo desta "avaliação"Os professores podem perder 25% a 50% de ordenados ao longo da carreira
O novo regime do estatuto da carreira docente vai custar aos professores entre 25% e 50% do valor de ordenados que potencialmente viriam a receber ao longo da sua vida profissional. A contabilidade é feita pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), tendo em conta o tempo que cada docente levará a subir de escalão pelas novas regras e o número limitado de lugares na categoria de professor titular.
A proposta do Ministério da Educação (ME) prevê a redução dos escalões de dez para sete, divididos em duas categorias: professor e professor titular.
Mas, ao contrário do que acontecia com as antigas regras, no futuro nem todos os docentes poderão aspirar a chegar ao topo da carreira.
"Mesmo que muitos demonstrem mérito e ultrapassem todas as etapas, a existência de quotas significa que mais de 80% vai ficar apenas na categoria de professor", disse ao DN Mário Nogueira, da Fenprof.Na prática, isto significa que enquanto, até agora, todos os professores podiam aspirar atingir os 2899,38 euros, correspondentes ao salário-base do antigo 10.º escalão, no futuro o tecto salarial da maioria estará limitado a 2033,99 euros. Uma perda superior a 800 euros por mês em potenciais salários.
Mas não é só por aqui que as perspectivas se reduzem. As carreiras, apesar do menor número de escalões, passarão a durar 32 anos em vez dos actuais 26.
O que equivale a dizer que serão precisos mais anos para mudar de categoria: "Um professor que está agora no 8.º escalão vai continuar na mesma daqui a três anos, quando devia passar para o 9.º", exemplificou Mário Nogueira.
De resto, pelas contas da Fenprof, mesmo para os melhores docentes, as perdas são inevitáveis: um professor que seja sempre classificado como 'Excelente', que consiga chegar a titular logo à primeira, vai ter uma perda global de 25% de salários", garantiu o sindicalista.
"Quanto aos outros, limitados a quatro escalões, vão perder 50%"."Mais um ano congelado"
"Como se isso não bastasse", acrescentou Mário Nogueira, "este ano também já não há progressões, uma vez que os professores apenas podem ser avaliados para progredir no final do ano lectivo. Por isso", considerou, "temos mais um ano congelado".
A Fenprof promete "difundir estes factos pelas escolas" e antevê "uma onda de contestação como nunca se viu, caso o ministério não mude de posição".
*Pedro Sousa Tavares*

PROFESSOR DO ANO

A ti, que eu considero mesmo Professor/Professora em cada dia, todos os dias de todos os anos, mesmo nos últimos em que nos querem fazer desistir, desanimar, desencantar e que nos querem fazer acreditar que nada sabemos, que nada fazemos. E que tão mal nos tratam e enxovalham PORQUE ... NÃO GOSTAM DE NÓS!!
A ti, porque eu sei, que apesar da raiva, do desânimo, do desencanto e da frustração consegues arranjar forças para "tirar da cartola", uma última surpresa, para motivar, para prender a atenção, para dar mais brilho à tua aula.
E, que apesar de tudo isso e de não sei mais quantos problemas e desencantos pessoais, ainda te emocionas quando te contam a história triste de um dos "teus meninos"...
A ti, meu caro companheiro porque "eles" não conseguirão deitar acabar com os teus sonhos.


Professor do ano

- professor do ano foi aquele que, com depressão profunda, persistiu em ensinar o melhor que sabia e conseguia os seus 80 alunos.
- professor do ano foi aquela que tinha cancro e deu as suas aulas até morrer.
- professor do ano foi aquela que leccionou a 200 km de casa e só viu os filhos e o marido de 15 em 15 dias.
- professor do ano foi aquela que abandonou o marido e foi com a menina de 3 anos para um quarto alugado. como tinha aulas à noite, a menina esperava dormindo nos sofás da sala dos professores.
- professor do ano foi aquele que comprou o material do seu bolso porque as crianças não podiam e a escola não dava.
- professor do ano foi aquele que, em cima de todo o seu trabalho,preparou acções de formação e se expôs partilhando o seu saber e os seus materiais.
- professor do ano foi aquela que teve 5 turmas e 3 níveis diferentes.
- professor do ano foi aquele que pagou para trabalhar só para que lhe contassem mais uns dias de serviço.
- professor do ano foi aquele que fez mestrado suportando todos oscustos e sacrificando todos os fins-de-semana com a família.
- professor do ano foi aquele que foi agredido e voltou no dia seguintecom a mesma esperança.
- professor do ano foi aquele que sacrificou os intervalos e as horas de refeição para tirar mais umas dúvidas.
- professor do ano foi aquele que organizou uma visita de estudo mesmo sabendo que jorge pedreira considerava que ele estava a faltar.
- professor do ano foi aquele que encontrou forças para motivar osalunos depois de ser insultado e indignamente tratado pelos seussuperiores do ME.
professor do ano foi aquela que se manifestou ao sábado sacrificando um direito para preservar os seus alunos.
- professor do ano foi aquele presidente de executivo que viveu o anoentre o dever absurdo, a pressão e a escola a que quer bem, os colegas que estima.
- professores do ano, todo o ano, fomos todos nós, professores, que o continuamos a ser mesmo após uma divisão absurda. professor do ano... tanto professor do ano em cada escola, tantomilagre em cada aluno.
Somos mais que professores do ano. Somos professores sempre!
Professor do Ano, não aquele PROFESSOR do ANO da TRETA do Ministério da Educação que, para nos dividir, PAGA a um professor IGUAL a MUITOS outros que existem entre os 140.000 professores

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

RIO CUANZA, O ELO ENTRE O SUL E O NORTE, ENTRE O PASSADO E O FUTURO (I)

1 - História
É o rio mais mítico de Angola. Os seus 200 km finais são navegáveis o que permitiu que os portugueses do século 16 pudessem embrenhar-se, um pouco, pelos sertões. Onde o rio perde a sua “horizontalidade” e começam as quedas e corredeiras, a 190 km da foz, para montante, foi fundado o Dondo, primeira cidade interiorana de Angola e, talvez, a segunda em África de raiz europeia. A primeira foi em Cabo Verde: Ribeira Brava na ilha de Santiago.
Durante mais de 3 séculos a autoridade portuguesa circunscreveu-se à área entre os rios Dande e Cuanza, cerca de 20 000 km². Tanto ao norte como ao sul viviam povos aguerridos-ao norte os Dembos, ao sul os Quiçamas- que se opunham à soberania portuguesa. O rio Cuanza foi o grande sustentáculo de Luanda e foi o primeiro e grande vector de ocupação.
Nas suas margens foram construídas 3 fortalezas-presídios:Muxima, Massangano e Cambambe. A igreja na Muxima gerou um forte pendor religioso entre os africanos. A padroeira Nossa Senhora da Conceição da Muxima foi entronizada no século 17. A palavra Muxima significa coração e era o nome de um soba. O culto desta imagem chegou até aos nossos dias, mesmo contra a “má vontade” marxista que predominou de 1975 até cerca de 1990.
Se Muxima diz respeito à alta “angolíada”, Massangano relaciona-se com a alta “lusíada”. Na verdade, quando a Holanda em 1641 se apossou de Luanda e Benguela os portugueses não se renderam e refugiaram-se na fortaleza de Massangano. Ali passaram agruras inimagináveis até serem resgatados em 1648 por Salvador Correia de Sá que veio expressamente do Brasil reapossar-se das feitorias de Luanda e Benguela.
A barra do Cuanza foi cartografada por Paulo Dias de Novais em 1560.As margens do rio Cuanza, entre Dondo e a Barra (foz), são fertéis. Água abundante, muitas lagoas de enchente.Já naquele tempo(século16) se cultivavam géneros alimentícios e abundavam os gados bovino e caprino. A resistência aos holandeses em Massangano apoiou-se, militarmente, na posição privilegiada no rio Cuanza, um pouco antes da foz do afluente Lucala.
Sob o aspecto logístico, ou seja referente a provisões, as terras marginais são úberes e estavam ocupadas por milhares de africanos laboriosos e “de bom entendimento”com os portugueses. A água do Cuanza é potável e de bom paladar, em razão do seu substrato rochoso que origina águas com um ph próximo de 7 (ligeiramente ácida). Mesmo assim é justo admitir que não foi fácil a resistência em Massangano , durante 7 anos. O clima e as doenças eram factores fortemente negativos para a presença europeia. A impossibilidade de contactar com a Europa foi outro factor debilitante. Mas o clima desfavorável dizimou, em numero próprio de tempo de peste, os holandeses, menos adaptados aos rigores da região.
Segundo António de Oliveira Cadornega um conceituado cronista de século 17(1), citado por Ilídio do Amaral (2) «Cuanza rio mui caudaloso e que todo o ano se navegava até à fortaleza de Cambambe, que estava no fim dele, não que àquela data se soubesse ter fim, mas porque daí para cima não se podia passar por respeito de grande caída de água a qual era tão grande que do fumo e vapor que de lá se lançava para o ar se formava uma espessa nuvem de neblina a qual, tornando a descer sendo a água mui excelente...». O autor refere-se às quedas de Cambambe de que nos ocuparemos adiante.
Refira-se que o próprio cronista Oliveira Cadornega viveu as agruras de Massangano durante a ocupação holandesa.
Nos 200 km finais recebe o rio Cuanza, na margem direita, dois afluentes: o Mucoso, a jusante do Dondo, e o Lucala um pouco mais adiante. O rio Lucala é o maior afluente do Cuanza: nasce próximo do Negage, tem 24 085 km2 de área de bacia hidrográfica e um estirão de 430 km.
Cedo os portugueses se aperceberam da grandeza do rio Cuanza e do seu aproveitamento para a penetração do interior. Mal sabiam eles que, percorridos cerca de 200 km, se lhes depararia um leito inexpugnável, verdadeira muralha de rocha e de água. Era totalmente impossível demandar o interior através do rio. Foi nestes alvores que começou a lenda da prata de Cambambe. O dinheiro que circulava na Europa era de prata, um motivo de extrema cobiça entre todos. A bacia hidrográfica do Cuanza é quase toda apoiada no granito. Esta rocha acumula muita água, através das fissuras. Quando chove, durante muitos dias, a rocha nua fica impregnada de água dando-lhe um

Fig 1 – As diversas nações angolanas, inseridas na bacia do Cuanza, no princípio do século 20 antes da chegada dos primeiros colonos. A colonização europeia esbateu as fronteiras destas nações, intensificou-se uma interpenetração fomentada pela língua portuguesa, pelas ferrovias e pelos automóveis. As guerras civis a partir de 1975, a seguir à independência, obrigaram as populações a refugiarem-se nas cidades, servindo a língua portuguesa como cimento da jovem nação. Embora se não devam perder os valores históricos e sentimentais destas nações, mas Angola já emergiu como nação una e orgulhosa. Fonte: José Redinha, Distribuição Etnica da Província de Angola 3ª edição1965. Centro de Informação e Turismo de Angola


aspecto metálico quando os raios solares incidem sobre ela. Recordamos que a “saída” inopinada do Sol, após as chuvas, é vulgar nos trópicos. Talvez este fenómeno tenha contribuido para a lenda da prata, “que brilha em todas as direcções e vê-se de muito longe”.
Ainda Cadornega, citado por Amaral (1 e 2)podiam subir o rio« pataxos de coberta e alto bordo e naus possantes em tempo de inundações desde que tivessem pilotos de uma casta de gentio, conhecidos por nambios que viviam no morro sobre a barra». Seriam o que se denomina hoje por “pilotos da barra” vulgares em todos os portos marítimos.


Fig 2 – Bacia hidrográfica do rio Cuanza. É o unico rio que, nascendo ao sul, “caminha” para norte. Nasce no Mumbué(Bié), banha as províncias de Bié, Cuanza-Sul, Malanje e Bengo. Desagua ao sul de Luanda. Durante as chuvas arrasta muito caudal sólido (sedimentos) originado pelas intensas erosões em solos agrícolas, ou em solos muito erodíveis mesmo sem tratos agrícolas. Os seus sedimentos, quando entram no mar, são arrastados pela Corrente Fria de Benguela originando a ilha do Mussulo e a ilha de Luanda.



Luanda vivia, exclusivamente, dos produtos que vinham rio abaixo. A cidade possuia poucos poços rasos (denominados cacimbas ou maiangas) de fracos rendimentos e água um tanto salobra. No bairro da Maianga existia um poço que lhe deu o nome. Em resumo a cidade era árida, recebia muita água de fora, dos rios Bengo e Cuanza. As chuvas em Luanda são escassas e mal distribuídas.
Afora as trocas quotidianas de comércio entre os naturais e os portugueses, é lamentável dizê-lo, o principal produto de “exportação” era o dos escravos. Era um trágico marasmo, mesmo admitindo a breve presença holandesa (1641 a 1649) que se estabeleceu em Angola a fim de aproveitar, também, “o manancial” escravista. Os holandeses nunca trouxeram propósitos libertários e nada acrescentaram à economia angolana. Eles também queriam escravos.



Fig 3 – Fortaleza de Massangano situada na margem direita do rio Cuanza. “Aqui se retempera a Alta-Lusíada” escreveu um jornalista angolano. Era o monumento mais marcante da história portuguesa em África.

Mas em 1764 há uma mudança brusca com a chegada de um novo governador geral. Em Junho desembarca o Capitão Geral de Angola Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho a mando do Marquês de Pombal “primeiro-ministro” em Portugal. Sousa Coutinho era da família dos Condes de Redondo, trineto de Fernão de Sousa. Redondo é um concelho próximo de Évora. A cidade de Sumbe, cujo nome antigo era Novo Redondo, foi fundada por Sousa Coutinho e daí o nome em homenagem ao seu fundador.
Inocêncio de Sousa Coutinho, conhecido como o “Pombal de Angola” começou, de imediato, os seus objectivos dos quais citamos:
Ocupação sistemática da costa entre os paralelos 14º e 18º Sul, com reconhecimento do Cabo Negro. Só existia ocupação até à latitude de Lucira (14º 30´Sul), ao norte de Moçâmedes. A nova costa, pretendida por Sousa Coutinho, diz respeito à célebre Costa dos Esqueletos e abrangia uma faixa que ultrapassava a foz do rio Cunene, faixa que hoje pertence à Namíbia, perdida porque os portugueses não tiveram meios e gente para tão grande e exaustiva tarefa de ocupação. Já se tinha conhecimento da foz do rio Cunene, através dos relatos (1678) de um frade capuchinho (Cavazzi) que viveu em Angola.
Colocação de colonos nos planaltos de Bié e Huíla, provenientes de Açores, Madeira e Brasil. Nada se conseguiu porque as doenças dizimaram os poucos colonos que para lá foram.
Expropriação das terras incultas. É interessante como, naquele tempo, já havia voracidade por terras devolutas, para posterior especulação. O jeito de “chico esperto concessionário”, pelos vistos, remonta ao século 18.
Diminuição da exportação de escravos e melhoria nas condições de transporte. Foi o único Governador a proibir a guerra do Cuata-Cuata ( Agarra-Agarra), mas infelizmente, mal ele virou costas, recrudesceu com mais ferocidade. A guerra do Cuata-Cuata era feita pelos caçadores de escravos que mandavam os seus sequazes agarrar tudo quanto fosse possível de escravizar. Um facto que eu achei sempre hilariante passava-se com os cães gentios que desatavam a correr quando se gritava cuata. Será que a carga genética deles já estava carregada com esta terrível palavra ?
Incentivos à imigração estrangeira para substituir as levas de degredados que não cessavam de chegar.
Criação de uma agricultura auto-suficiente. Devido à ausência de vitaminas, presentes nos vegetais e frutas frescas, em Luanda morria-se com escorbuto. É a doença das pessoas que não comem verduras ou frutas, típica dos embarcados nas caravelas, embora fosse possível cultivar todos os géneros alimentícios nos rios relativamente próximos da cidade (Cuanza e Bengo).
Como complemento, estabelecimento de grandes armazéns de víveres para eliminar os ciclos de fome que atingiam a capital, um ancestral dos Armazéns do Povo após a independência, e das grandes superficies actuais.
Desenvolvimento industrial local com extracção de enxofre ( Benguela) cobre, sal e salitre e, talvez prata e ouro, que nunca apareceram.
Melhoria dos acessos às feiras existentes e criação das novas feiras Galo, Bimbe, Calandula (onde se situam as famosas Quedas do Duque de Bragança ) e Encoje.
Construção do hospital de Luanda, edifício da Alfandega, Terreiro Público e fortaleza de Benguela.
Criação das fábricas de cordoaria. Estabelecimento do presídio de Novo Redondo que daria origem à cidade de Novo Redondo ( hoje Sumbe), capital da província do Cuanza Sul, célebre por ter sido a cidade no Mundo onde durou mais tempo o eclipse do Sol, em Junho de 2001. O nome Redondo, que me intrigou durante décadas, é uma homenagem ao governador Sousa Coutinho que era o Conde de Redondo, no Alentejo, como já foi afirmado.
Criação da manufactura de carnes secas, couros e sabões.
E , finalmente, o empreendimento que marcou o seu governadorado: a criação da fundição de Nova Oeiras, na confluência do rio Luinha com o rio Lucala ( 5 km a leste de Cassoalala) . Chegou a ser extraído ferro, e exportado para a Metrópole, com grande sucesso. Chegaram a trabalhar nas minas 400 africanos “livres e sem constrangimento” segundo o dizer de Sousa Coutinho.
Um dos muitos méritos de Sousa Coutinho foi o de ter acreditado na potencialidade dos africanos, tendo escrito(3): « Sempre os negros trabalharão o ferro das minas de Nova Oeiras e dos muitos outros lugares do mesmo reino em que as há, e jámais comprarão algum ferro da Europa para as suas obras e serviços; e têm tal propensão estes povos para aquele trabalho que sobre os muitos fundidores ferreiros que conservam nas suas libatas ou povoações têm uma grande veneração pelo seu primeiro rei porque foi ferreiro, e finalmente toda aquela vastíssima região se serve do seu ferro, e jámais comprou algum aos nossos europeus».
Para esta fundição, um embrião de uma futura siderurgia, se continuada,vieram para Angola 4 mestres de fundição, oriundos da Biscaia mas vindos do Brasil. Tiveram fins prematuros: um ano depois da chegada tinham falecido todos. Chegaram em 3 de Novembro de 1768, a 6 de Dezembro morre José de Retolaça, devido a exageros alimentares segundo o laudo mortuário, a 8 morre Francisco Zuloaga e a 29 Francisco de Chinique o chefe dos mestres. O ultimo, José Echevarria morreu um ano depois.
Sobre a inesperada morte dos mestres de fundição Sousa Coutinho escreveu, desconsolado(3):«Vieram mestres da Bahia, desembarcaram em Benguela, foram à caça, molharam-se, quando tornaram ao navio já vinham doentes, de sorte que, desembarcando na capital quase mortos, acabaram poucas horas depois».
Mas apesar destes infortúnios a fundição prosperou, conseguiu-se transferir “know-how” europeu para os africanos. Quando Sousa Coutinho regressou a Portugal em 1772 a fundição era um sucesso.
Dignos de menção, porque em pleno século 20 ainda o Governo de Lisboa tinha aversão a tudo o que fosse instrução ou cultura em Angola, são também os cursos, que ele criou, a Escola de Ensino Tecnico e a Aula de Geometria e Fortificação, além de ter mandado desenhar o primeiro mapa de Angola.
É quase desnecessário consignar aqui que Nova Oeiras, o revolucionário empreeendimento de Inocêncio de Sousa Coutinho, foi liminarmente abandonado, e intencionalmente esquecido.
Depois da sua partida para Portugal, em Novembro de 1772, após 8 anos fecundos e únicos na governação de Angola, é fácil adivinhar o que sucedeu: o novo Governador António de Lencastre ignorou toda a obra de Sousa Coutinho. Lencastre ficou para a história por dois motivos. O primeiro por ter feito uma premonição para os tempos que se lhe seguiram: “ as coisas de Angola por si se entortam e por si se endireitam”. O segundo motivo foi o de trazer consigo a mulher, muito branca, com a cara coberta de pó de arroz, e vestida com saias rodadas, largas, sumptuosas, que deixaram os luandenses asssarapantados. Foi, talvez, a primeira mulher aristocrática que viveu em África. Em 21 de Setembro de 1954 foi criado um liceu feminino em Luanda que, sintomaticamente, recebeu o seu nome: D.Guiomar de Lencastre.
A fundição de Nova Oeiras, como era chamada, uma homenagem ao primeiro ministro de Portugal Conde de Oeiras depois Marquês de Pombal, acabou por se transformar num local turístico e que desperta nostalgia a todos os angolanos estudiosos e desejosos de verem a sua terra com o progresso que ela, com tantas tragédias e abandonos, merece. A fundição foi a primeira em África,à frente de quase todos os países europeus. Ainda existem canhões fundidos naquele tempo.
Vale realçar que o governadorado de Sousa Coutinho (8 anos) foi o mais longo entre as centenas de governadores que por lá passaram, o que não deixa de ser espantoso e demonstra a verdadeira vontade em fazer progredir Angola. Só voltaria a haver um governadorado de igual duração em 1947/55 com Silva Carvalho de alcunha “ o Caricoco” por fumar,ininterruptamente, cigarros daquela marca.
A cerca de 150 km do Dondo entramos no reino da célebre Rainha Ginga cuja corte estava instalada nas Pedras Negras de Pungo Andongo, imensas massas rochosas designadas em geografia como inselbergs (montes-ilhas). Este tipo de relevo residual é muito comum em Angola, especialmente na zona de transição orográfica, antes dos extensos planaltos interiores.
Pungo Andongo situa-se na margem direita do Cuanza a 10 km de distância do rio. O conjunto de blocos de rocha (monadnocks), de aspecto imponente, ocupa uma área de 50 km².
A primeira ponte sobre o Cuanza foi a da ferrovia que liga o Lobito com a fronteira leste, na actual República Popular do Congo. A ponte metálica veio toda desmontada da Inglaterra e foi inaugurada em 1926. A estação ferroviária, situada no km 725, deu origem ao Posto do Alto-Cuanza.
A segunda ponte sobre o Cuanza, ligando o norte com o sul, foi construída em 1929 pelo Alto-Comissário Filomeno da Câmara. Foi, inegavelmente, um acontecimento importante, porque foi a primeira ligação, por estrada, entre o sul e o norte.
A terceira ponte era para ligação entre Silva Porto e Malanje, através de Andulo, Calucinga e Mussende,próxima do posto de Cangandala. Dada a sua extensão, em arcos multiplos, era o orgulho do governo, chegou a constar nas notas do dinheiro angolano (100 escudos em 1956). É, realmente, uma bonita ponte, em arcos, imitando as lendárias pontes romanas que ainda hoje existem um pouco por toda a Europa.
Como era de regra foi-lhe dado o nome de ponte Salazar inaugurada, festivamente, em 1952. Projectada e construida totalmente em Angola era, também, o orgulho dos angolanos.Durante a sua construção verificaram-se vários acidentes; o povo ligou-os com a má vontade de uma sereia do rio (kituta) que estava aborrecida por ter sido violentada sem qualquer compensação. Num domingo fez-se uma luzida cerimónia popular de entrega de vários quitutes e garrafas de vinho do Porto ao rio, acompanhados de milhares de flores. Segundo o folclore foi remédio santo.




Fig 4 – Nota de 100 escudos angolanos onde constava a Ponte Salazar ou Ponte de Cangandala. Esta ponte era um orgulho porque foi integralmente projectada e construida por angolanos. Infelizmente não foi um motor de desenvolvimento. Como se afirmou, a estrada Malanje/Silva Porto não foi asfaltada. A ponte ficou “pendurada” durante 20 anos, praticamente sem trânsito.

Infelizmente só foi estendido o asfalto ligando Malanje com Silva Porto em 1972.Para os malanjinos ficou sendo a ponte do “lá vem um”; para os bienos ficou sendo “uma ponte longe de mais”.
Um eixo asfaltado

S.Salvador/Uige/Negage/Camabatela/ Quiculungo/

Duque de Bragança/Malanje/Mussende/Calucinga/Andulo/

Cuito/Cachingues/Chitembo/Menongue/Mavinga e Dirico

teria provocado um incremento brutal no interior de Angola. Estou a citar isto, em jeito de sonho, em homenagem ao meu pai que ficava idealizando estes empreendimentos. Fartou-se de sugerir isto ao governador geral Silva Carvalho. Esta ligação longitudinal, a 400 km do mar, designar-se-ia hoje por eixo meridiano central. Teria originado um colossal desenvolvimento interiorano.
A quarta ponte foi construida um pouco acima da albufeira da barragem da Cambambe e proporcionava a ligação com Nova Lisboa (Huambo) através da estrada asfaltada, infelizmente só concretizada na década de 60. Desenvolve-se em arcos de betão pré-esforçado, apresentando vãos de grande comprimento.
A quinta ponte foi construida próximo da Barra do Cuanza e fazia a ligação, ao longo do litoral, entre Luanda e o sul de Angola. É a primeira ponte pênsil no país. Foi projectada pelo “pai das pontes” o engenheiro Edgar Cardoso que pôs nela toda a sua sabedoria e amizade que nutria por Angola.
Como já foi afirmado, só nos primeiros 200 km, a partir da Barra, é que o rio oferece uma certa navegabilidade, apesar de existirem alguns “pegos” ou vórtices que ofereciam algum risco para os barcos. É por isso que se recorria aos pilotos do Cuanza, experientes e conhecedores de todas as armadilhas que o rio possuia, apesar de ser um trecho final muito manso em comparação com os trajectos de montante.
As crónicas antigas salientam a abundância de “lagartos” denominados de jacarés e “corcodilos”. Na verdade o rio Cuanza era pletórico de crocodilos da mesma família dos do rio Nilo. Também abundavam hipopótamos, muito territoriais e perigosíssimos. Eram numerosas as vítimas destes mamíferos temperamentais. Em pleno século 20 ainda eram abundantes estas duas espécies.
Um “peixe” muito apontado por Cadornega (3) era o “peixe mulher” conhecido na língua ambundo por ngulu que foi aportuguesado para angulo. A designação científica é “Manatus senegalensis”. Era um mamífero talvez da mesma família do peixe-boi do rio Amazonas. A carne semelhante à de porco, deu aso a que fosse caçado exaustivamente, um passaporte para a sua extinção.

2 – Geomorfologia

Geomorfologicamente Angola tem o feitio de um prato de sopa virado do avesso: uma extensa área plana, um plateau que cai para todos os lados, originando cinco direcções de escoamento das águas das chuvas:



Fig 5 – Hipsometria de Angola onde avulta o Planalto Central, verdadeiro “Castelo de Águas”. Huambo e Cuito beneficiam de chuvas abundantes ( 1350 mm anuais). Os solos são de constituição arenosa originando pujantes lençois freáticos (subterrâneos) e, por isso os rios são perenes (têm água todo o ano). Além disso as águas superficiais são abundantes, originando cheias com valores máximos em Dezembro e Março. Tudo isto leva a que sobre esta “mãe de água” devem incidir redobrados cuidados ambientais. O meu pai dizia que” urinando no rio quem vai sofrer são os luandenses”. Os nossos receios prendem-se com os apetites exteriores que argumentam que “Angola pode suprir o mundo com biocombustíveis”.Este nó hidrográfico não pode receber industrias de chaminés ou descargas e não pode albergar uma agricultura de grandes áreas, mecanizada e quimicamente fertilizada, ou seja uma agricultura mineradora. Uma tal agricultura envenenará,fatalmente, os lençois freáticos que são muito sensíveis pois são quase todos intercomunicáveis.

para Oeste, isto é, para o Oceano Atlântico (bacias costeiras), onde está incluído o rio Cuanza;
para o Norte, em direcção ao rio Congo;
para Leste engrossando as águas do rio Zambeze, com destino ao Oceano Indico;
para o Sul alimentando o lago Etocha, em drenagem endorreica (que não sai para o mar);
E, também, para o Sul formando o famoso Delta do Okavango, também de drenagem endorreica.


Fig 6 – Isoietas anuais da Bacia do Cuanza. Isoietas são linhas que unem pontos com igual precipitação (chuvas). A bacia está quase toda inserida na isoieta de 1200 mm anuais, o que sobra pertence à isoieta de 1400 mm; um ano seco nunca tem chuvas inferiores a 900 mm. O Cuanza é um rio forte e confiável.
Fonte: Castanheira Diniz.Angola o Meio Físico e Potencialidades Agrárias.Instituto para a Cooperação Económica. Lisboa 1991.

RIO CUANZA, O ELO ENTRE O SUL E O NORTE, ENTRE O PASSADO E O FUTURO (II)

A área total da bacia hidrográfica é de 152 570 km2(rio Tamisa 12 935 km2 , rioTejo 79 800 km2 ). Em grande parte da sua bacia, excepto no Baixo Cuanza, chove abundantemente, em torno de 1 200 mm anuais. Em um ano seco a chuva anual nunca desce abaixo de 900 mm.É um rio onde se não conhece nenhum ano de seca. A maioria dos solos é de constituição arenosa resultando uma grande infiltração de águas e um consequente nível freático muito alto. É uma bacia bem servida de águas superficiais e de águas subterrâneas. É, incontestávelmente, a “mãe de água” de Angola. Os seus afluentes na margem direita são o Lucala (o maior), Mucoso, Lombe, Cuíje, Cuque, Luando, Cuíva, Cuíme e Chimbamdiango. Na margem esquerda o Gango, Cutato, Cunhinga, Lúbia, Cunje e Cuquema.
Vamos “subir” o rio através do seu perfil longitudinal (figs 9 e 10) O trecho entre a Barra e Cambambe é, em termos fluviais, “plano”, porque o rio “sobe” 50m em 200 km, com um declive de 0,00025 ou seja tem uma inclinação de 25 cm por quilómetro. Isto conferiu-lhe, como já vimos atrás, a facilidade de navegação, embora de pequeno porte.
Em Cambambe começam as dificuldades: aparecem uns rápidos prenunciando um perfil muito inclinado. É o início da escarpa Atlântica bem característica da geomorfologia angolana.Da altitude de 50 m, onde se situa a barragem de Cambambe, passa-se para a altitude de 850 m em escassos 150 km. Nesta cota situa-se a barragem de Capanda. É o Médio Cuanza, trecho “de ouro”em termos de geração de energia electrica, porque o rio é extraordinariamente declivoso e já tem quase todo o seu caudal, só estão excluidos os rios Mucoso e Lucala..
Um ponto notável do rio é o Salto de Cavalo assim chamado porque o folclore dizia que o rio podia ser transposto pelo salto de um cavalo. Na verdade não é bem assim.
A cerca de 100 km de Capanda, para montante, deparamos com a ultima ruptura de declive: as cachoeiras do Condo mais conhecidas por Porto Condo, talvez porque a navegação interior, de outra eras, encontrava o primeiro aviso de que “não há mais navegabilidade”, “quem quiser seguir de canoa vai-se rebentar lá em baixo”. As canoas terminavam ali as suas viagens.Muito próximo, e a jusante, está a ponte de Cangandala, já aqui referida.
Depois de Porto Condo, sempre para montante, o Cuanza torna-se manso, com pouco declive, algumas corredeiras e extensas áreas inundadas ou encharcadas. É ao contrário das leis naturais que regem os rios. O normal é os rios serem torrenciais nas nascentes e tornarem-se mais tranquilos à medida que caminham para jusante ( para a foz).
Transpostos mais cerca de 75 km, para montante, o rio Cuanza recebe um grande afluente o Luando, na margem direita. O rio foi cartografado pelos expedicionários portugueses Capelo e Ivens em 1878. Eles passaram no trecho próximo da sua foz no rio Cuanza. Neste trecho o Luando apresenta as únicas corredeiras. Tinha 40 m de largura e uma grande velocidade provocada pelas corredeiras e quedas. Era incrível a quantidade de peixe em todo o leito, especialmente nas cachoeiras em que quase se apanhavam à mão. Para montante o Luando é “plano” ocupando grandes áreas lagunadas. Mas nas nascentes apresenta uma monumental queda de água, muito semelhante às de Calandula (Duque de Bragança) no rio Lucala.
Capelo e Ivens escreveram que ali, na bacia do Luando, todos os sobas eram independentes e arrogavam-se que «...eram os maiores, os brancos tinham que pagar tributos para a passagem». Medo era o que eles mais encontravam nas pessoas das terras que atravessavam.
Em Angola, em fins do século 19, ainda perdurava o terror inspirado pela escravatura.É elucidativo o relato dos dois viajantes(41): « É notável a desconfiança que inspira em quase todos os pontos de África o aparecimento de um europeu ou mesmo de um africano mestiço. A sua repentina chegada junto de uma sanzala tem quase sempre a consequência inevitável de retirarem-se os habitantes para dentro das casas, não escapando os próprios animais domésticos, como porcos e cães, que mais de uma vez vimos correr diante de nós espantados, como o poderiam fazer à aproximação de uma fera. Indubitavelmente, a razão deste facto deriva das tristes cenas de que foi teatro o sertão africano, e presenciadas por gerações inteiras, durante a caça aos escravos, que terminava pela condução de grandes comitivas de desgraçados para as duas costas. O terror e o pânico produzidos por esta luta espalhou-se entre os pretos, excitados com as narrações das cenas de requintada crueldade, junto ao receio de que os brancos pretendessem escravizá-los, obrigando-os a trabalhos em terras onde a vida é curta. Esta história, transmitida de pais a filhos e de filhos a netos, alterada de diversas formas, como é tendência natural do indígena, e a demonstração clara da prática mais frequente nesta ou naquela terra foram principalmente os elementos construtivos das terríveis ideias que o preto faz de nós, incutindo-lhe desde os mais tenros anos ódio pelo branco, e fazendo-o fugir à aproximação deste, só o trabalho de muitos anos e os esforços constantes dos exploradores e missionários metodistas, no sentido de suprimir o infernal tráfico, poderão tirar completo partido de tal circunstância. Em verdade, já é tempo de acabar com a misérrima sorte desses milhões de indivíduos, que vivem no continente africano, no meio da mais abjecta desorganização social e na maior dissolução de costumes».
Livingstone, um misssionário inglês que passou por Angola em 1855 já tinha escrito : «A vista de um branco enche-os de terror. Quando eu atravesso um povoado os cães amedrontam-se, e metem o rabo entre as pernas, como se vissem um leão. As mulheres escondem-se atrás de cercados e olham furtivamente por qualquer fresta até ao momento em que me aproximo em que fogem para as suas cabanas. Se uma criança me encontra começa aos altos gritos ao ver esta aparição medonha, faz-me crer que vai ter um ataque epilético».
Da foz do Luando para montante o rio Cuanza apresenta um leito pouco inclinado correndo em um vale aberto, mas de leito bem definido, e com grandes áreas alagoadas. Nas áreas circundantes os solos são hidromórficos ou seja extremamente húmidos.

3 - As sub-bacias do rio Cuanza
Castanheira Diniz, um notável agrónomo de Angola, dividiu a bacia hidrográfica do rio Cuanza em 4 bacias parcelares ou sub-bacias:(3): Alto-Cuanza, Lucala,Médio Cuanza e Baixo Cuanza.
A primeira sub-bacia (Alto Cuanza) está compreendida entre as nascentes (Mumbué, Catota) e Salto de Cavalo abrangendo uma área de 105 640 km2 o que corresponde a 69% da bacia total. O Alto-Cuanza é a verdadeira “caixa de água “ do rio. Tudo nele se resume a uma palavra:água. Chove abundantemente, com invernadas de mais de um mês ininterrupto; em determinadas áreas arenosas, situadas nos altos, o solo fica saturado e o nível freático atinge a superficie, formando as “anharas húmidas” ” que são riquíssimos “volantes hidrográficos” que regulam cheias e mantêm os caudais de base (que circulam na estação seca) bastante elevados. A densidade de drenagem é altíssima com mais de 3 km/km2 .
No Alto-Cuanza a temperatura média máxima é de 26ºC , raramente atingindo os 30º. O inverno (Maio a Setembro) é frio e seco, com temperatura média mínima de.13ºC. O Verão (Outubro a Abril) é quente e chuvoso. É o clima ideal para árvores exóticas (eucaliptos, cupressus, cedros, casuarinas, pinheiros e grevíleas). Estas árvores adaptam-se bem aos climas planálticos mas encontram na bacia do Alto-Cuanza as condições ideais: solos pobres pouco atractivos para agricultura, muita chuva, temperaturas amenas,áreas despovoadas, peneplanícies (topografia plana e semi-ondulada) onde se podem implantar polígonos racionais (divididos cientificamente em aceiros e arrifes, onde o ataque a incêndios e o corte são fáceis de efectuar). Um eucalipto, em Angola, dá corte ao fim de 9 anos; na Europa é ao fim de 12 anos, se não sofrer um incêndio, infelizmente o mais vulgar nos tempos actuais.
Está na moda vilipendiar o eucalipto: diz-se que é uma árvore invasora, que “chupa” a água freática, que alimenta a ganância dos capitalistas, que é a causa da destruição de florestas antigas, etc.Em tudo deverá haver um bom senso. O eucalipto, por atingir a maturidade em tempo recorde, é a árvore ideal para suprir as necessidades de celulose. Ele pode evitar a destruição de florestas naturais cujas árvores demoram mais de 50 anos para atingirem a plenitude.
O eucalipto, e outras árvores exóticas, podem voltar a ser uma grande fonte de receita e um meio de absorver muita mão de obra (angolana, como é óbvio!). Antes da independência havia muitos polígonos florestais onde se exploravam as árvores exóticas sob vários aspectos: lenha, carvão de retorta, casas pré-fabricadas, combustível para máquinas a vapor, toros e ripas para construção civil, celulose, cera e mel. Como produtos espontâneos nas matas sobressaíam as matúnduas (cujo valor comercial, infelizmente, nunca foi estudado!) e os tortulhos (cogumelos) Estes, após uma grande invernada, faziam jús à fama: “nasciam como cogumelos”, raramente eram venenosos e tinham um alto teor nutritivo. Tal como as matúnduas nunca foram estudados.
Ao longo da ferrovia de Benguela foram implantados diversos polígonos florestais em que predominava o eucalipto. Só assim foi possível manter as românticas máquinas a vapor.
O ponto mais alto da bacia do Cuanza é o Monte Chimbango, popularmente conhecido por “Morro do Chinguar”. O Monte Chimbango é um “inselberg”(monte ilha) que sobrou de uma Fig 7 -As bacias parcelares do rio Cuanza segundo Castanheira Diniz.A maior sub-bacia é o Alto-Cuanza com 105 640 km2 , desde as nascentes até ao Salto de Cavalo. É uma área com uma enorme densidade de drenagem, isto é em 1 km2 há mais de 3 km de linhas de água. É comum que qualquer linha de água de 1ª ordem (sem afluentes) apresente caudais maiores do que 5 l/s.
Fonte: A.Castanheira Diniz. Grandes Bacias Hidrográficas de Angola. Recursos em Terras com Aptidão para o Regadio. Instituto da Cooperação Portuguesa –Agência Portuguesa de Apoio ao Desenvolvimento.Lisboa 2002.


intensa erosão geológica ao longo de milhões de anos. Com a altitude de 1 929,74 m é a culminância de duas bacias hidrográficas: o Cuanza e o Cubango. É, também o ponto mais alto na parte oriental de Angola, à direita do meridiano 16ºE Gr. ou seja aproximadamente o meridiano do Huambo. Em uma área de cerca de 850 000 km2 Chimbango é o ponto culminante. Nos meus devaneios sobre o futuro de Angola cheguei a imaginar uma torre de telecomunicações com mais de 72 m de modo a pôr Chimbango com a altitude de 2 000 m. Esta torre teria um farol para os dias festivos da nação.


Fig 8 – O Morro Chimbango ou Morro do Chinguar(a amarelo). É o ponto mais alto da bacia do Cuanza, com a altitude de 1 929,74 m. A vertente Noroeste alimenta o rio Cuanza através do rio Alondo e depois o Cutato das Mongoias. As vertentes Nordeste e Sul alimentam o segundo grande rio de Angola, o lendário Cubango que, ao fim de mais de 1 000 km, dá origem a um dos maiores santuários da natureza: o delta do Okavango já em território do Botswana. O rio Cubango é endorreico ou seja as suas águas não vão para o mar, o rio desagua em uma imensa planície( Delta do Okavango). De notar o contorcionismo da linha férrea, fugindo de todas as linhas de água.Também se pode notar os polígonos florestais(a verde), ao longo da linha, de modo a poderem abastecer de lenha o Caminho de Ferro de Benguela.O da esquerda tem 3 250 ha e o da direita tem 5 000 ha. Estão divididos em aceiros e arrifes (talhões de 16 ha) tornando muito fácil o combate aos incêndios, que eram raros. Os africanos sabiam o valor que representava uma área florestal, onde conseguiam lenha para o seu dia a dia.

Chimbango localiza-se 4 km ao sul do Chinguar. O nome desta cidade provém das palavras Chingue (casa) e Unghuári (perdiz). A ferrovia de Benguela chegou ao Chinguar em 1914, mas a construção parou ali porque rebentou a 1ª Grande Guerra (1914 a 1918). A construção só viria a prosseguir em 1922. Neste interim o Chinguar viu-se promovido a “cabeça de linha”. Em 1914 já os africanos produziam muitos géneros alimentícios e para exportação. Nestes avultavam a borracha, a cera e o milho. E era pelo Chinguar que saíam todas as produções, tornando-o em um empório. Os géneros chegavam ao Chinguar através de imensas caravanas, vindas do Moxico, dos Luchazes e dos Ganguelas. O dinheiro pouco circulava, tudo era na base da troca (permuta ou escambo no Brasil). Os africanos davam preferência aos panos (tecidos),ao vinho, à aguardente, aos artigos de latão para adornos pessoais ,ao sabão, ao petróleo, aos cobertores conhecidos por “cambriquites“, mas especialmente aos cobertores de lã conhecidos por “cobertores de papa”. O avanço do comboio para a fronteira leste, recomeçado em 1922, vibrou um profundo golpe no Chinguar. Como curiosidade acrescentaremos que mais desprotegido ficou quando em 1958 a cidade votou maioritariamente no general Delgado. Desde então passou a ser ainda mais marcada pelo desinteresse oficial. Chinguar era conhecido pelos seus morangos, era a “capital do morango”.
A seguir ao Luando o rio Cuanza recebe um grande afluente, o Cutato que nasce nas terras altas do Chinguar, no morro de Chimbango. A vertente norte deste morro drena para o tio Alondo ou Ualondo um afluente na margem direita do rio Cutato das Mongóias. Na confluência, 6 km para leste, nasce um outro Cutato (das Ganguelas) que corre para Sul, para o Cubango. Esta nascente obrigou a que se fizesse um desvio, muito pronunciado, da ferrovia de Benguela, posicionando o seu traçado sobre a linha da Cumeada Transversal que divide o país em 2 blocos o Norte e o Sul. Por causa deste desvio, e pela quantidade enorme de linhas de água que ele evitou, a cidade do Cuito (Silva Porto) ficou 5 km afastada da ferrovia.
Os silvaportuenses ( cuitanos, cuitenses, cuiteses, cuitetos, cuitocos, cuitondos, cuitenos, cuitangas, como é que se designam, agora, os seus habitantes?) argumentavam que o facto de não usufruirem da ferrovia se filiava em lutas intestinas entre os colonos, mas a verdade é unicamente explicável pela topografia. Do Chinguar ao Cuito (80 km) atravessam-se mais de 25 linhas de água, com 4 rios de grande porte:Cutato das Ganguelas, Cuchi,Cacuchi e Cuquema. Como as pontes metálicas vinham todas da Inglaterra seria uma despesa incomportável. A solução mais barata foi implantar o traçado pela cumeada. Ainda creança, conheci o major-engenheiro inglês Laessoe, chefe da topografia do caminho de ferro. Ele deixou-nos um mapa onde constavam as diversas soluções tendentes a uma optimização do traçado, de modo a evitarem-se as pontes.
A cerca de 30 km, a partir da foz do Cutato, para montante, outro grande afluente do Cuanza: o rio Cunhinga, com as nascentes nas anharas húmidas da Cumeada Transversal.
Sob o aspecto agrícola Castanheira Diniz dá-nos um magnífico resumo da Bacia do Alto-Cuanza :

«No que se refere ao valor agrícola dos solos poderá atribuir-se-lhe dum modo geral e atendendo ao grau de fertilidade natural, padrões baixos e muito baixos, estes últimos levando em conta as características físicas das extensas manchas arenosas. Todavia em relação aos solos argiláceos, técnicas culturais convenientes e fertilizações equilibradas poderão proporcionar níveis satisfatórios de produção ou mesmo até elevados, principalmente em relação às superfícies planálticas consideradas de média altitude (1000/1400 m)».
Este laudo técnico sugere-nos várias directrizes: a bacia do Alto-Cuanza, enorme, é muito sensível, tem solos pobres e de fraca coesão, pelo que terá que se ter o máximo cuidado em futuras explorações agrícolas. Fica claro que a bacia não aguenta agricultura industrial, devido à debilidade dos solos, pouco férteis, obrigando à utilização maciça de fertilizantes e pesticidas e a medidas de conservação do solo. As chuvas de grande intensidade (75 mm/hora é normal todos os anos, em Portugal uns escassos 15 mm/hora provocam desagradáveis inundações) e os solos pouco coesivos, e portanto de elevada erodibilidade, provocam erosões violentas, algumas de tal jaez que já se não conseguem repor as condições naturais.
Antes da independência os africanos cultivavam segundo as técnicas ancestrais, baseadas na itinerância das culturas, ou seja cultivava-se durante 2 ou 3 anos e depois optava-se por outras áreas, deixando os antigos terrenos em pousio até recuperação natural. Os rendimentos por hectare eram baixos mas a agricultura era sustentável. Só assim se explicam os grandes sucessos de produção. Na bacia do Alto-Cuanza produziam-se todos os géneros agrícolas e quase todas as frutas de climas temperados.Estas frutas apresentavam deficiências que podiam ser atenuadas através de tecnologia apropriada, que estava sendo iniciada pelo Instituto de Investigação Agronómica.O arroz, produzido em Camacupa por africanos, era um sucesso com volumes de produção crescendo a mais de 7% ao ano. Estava-se entrando, lentamente, numa mecanização racional e cautelosa.
A segunda sub-bacia do Cuanza é a do rio Lucala. Com 24 085 km2 o rio Lucala está muito individualizado pois já não contribue para o vigor energético do Cuanza. A sua foz é no Baixo Cuanza a uma altitude de 45 m. Mas, mesmo assim, o rio Lucala tem muita energia, basta lembrar as célebres quedas de Calandula ( Duque de Bragança) com 110 m de altura. No tempo colonial chegou a considerar-se o seu total aproveitamento mas, felizmente, nada foi feito. Apenas uma micro turbinagem cujo caudal subtraído não era perceptível na magestade dos turbilhões de água.
Somos de opinião que qualquer aproveitamento hidroelectrico só poderá fazer-se desde que não interfira nos caudais das quedas que devem ser mantidas no seu estado natural. Na parte final desta sub-bacia pode fazer-se, com cautelas, agricultura empresarial com irrigação, conforme aconselha Castanheira Diniz.
A sub-bacia do Médio Cuanza desenvolve-se entre o Salto de Cavalo e Cambambe.
Já vimos que o rio Cuanza é farto de água, de bons climas, de uma variedade de solos e de vocações agrícolas .Mas ele alberga outra grande riqueza: a energia hidroelectrica.
Observando a Fig 7 –perfil longitudinal total do rio, desde Munbué até à foz (Barra do Cuanza)-, deduzimos que é um rio manso no Alto Cuanza (Munbué/Porto Condo), é bravio no médio Cuanza(Porto Condo/Cambambe) e volta a ser muito manso na parte final (Cambambe/Barra).
Detenhamo-nos no médio Cuanza (Fig 8), o mais rico em energia hidráulica. Ele vai desde o Salto de Cavalo até Cambambe. Pelo perfil longitudinal verifica-se que o rio tem um enorme potencial hidroelectrico. Desde a barragem de Capanda até à barragem de Cambambe o rio desce, abruptamente, cerca de 900 metros. O caudal médio de estiagem,( numeros sujeitos a rectificações devido à precariedade de informações de que dispomos), é de 250 m3/s. A barragem de Capanda armazena mais de 5 km3 de água garantindo um caudal médio fixo de 750 m3/s. Mas o rio em anos normais “produz” mais de 10 km3 de água.
Com a água das chuvas armazenada em Capanda obtém-se, logo de início, uma potência de 520 MW. Mais mais 35 km para jusante, podem-se obter, com barragens a fio de água, cerca de 6500 MW de potência.É um Kuwait de energia hidráulica, corresponde a um poço, com produção sustentável de 140 000 barris de petróleo por dia. E sem recorrer a técnicos estrangeiros ou a multinacionais. Em resumo: 2 grandes barragens (Cambambe e Capanda) e 6 pequenas barragens a fio de água (sem albufeiras) podem produzir mais de 7 000 MW de potência.
Em Cambambe, no rio Cuanza a 200 km de Luanda, foi construída uma barragem(Cambambe) em 1959 Para mim esta construção sempre foi intrigante. A barragem está precisamente no local onde o rio já não tem energia potencial. Foi erguido um “muro” de betão com 65 m de altura, com promessa de subir para 90 m (para quê?), que dá origem a uma minúscula albufeira com 1,5 km de comprimento. A partir do pé da barragem, para montante, o leito do rio Cuanza “sobe” 120 m em escassos 2 km.
Fig.9 – Perfil longitudinal total do rio Cuanza. Ele está longe de atingir o perfil de equilíbrio, ou seja quando a inclinação do leito do rio diminui à medida que caminha para a foz. Pelo contrário, o rio “apanhou” a rocha dura da “Escarpa Atlântica” e formou, apenas, quedas, rápidos e cachoeiras.É um formidável potencial hidroelectrico.





Fig 10 – Perfil longitudinal do Médio Cuanza. Observa-se o mau posicionamento da barragem de Cambambe (não aproveita a enorme inclinação do rio e não armazena os caudais de cheia). Pelo contrário, a barragem de Capanda e, a jusante, mais de 6 bons aproveitamentos a fio de água.

Salta à vista que uma pequena barragem, a montante de Cambambe, no local onde se situa a ponte da estrada que vai para o Huambo,ou um pouco mais para cima, e aproveitando o desnível natural de 150 m , era de mais fácil construção e sobretudo muito mais barata.
A barragem de Cambambe sugere a velha piada de um indivíduo que nota que tem o cordão do sapato esquerdo desapertado; põe o pé direito em cima de uma cadeira e, curvadíssimo, aperta o
cordão do sapato esquerdo. Fez-se a barragem no sítio menos indicado e mais trabalhoso. A barragem não aproveita as quedas do rio e não aproveita os caudais de cheia do rio. Está, manifestamente, sub-dimensionada, não tem em conta o potencial do rio Cuanza que é imenso. Por isso é que, com 65 m de altura e uma bacia de 105 640 km² produz uns míseros 65 MW. Foi inaugurada com grande espalhafato mas ela não satisfazia um progresso acelerado. É muito muro para pouca água. A queda é conseguida, apenas, com a altura da barragem.
Cambambe trabalha a fio de água. São três os tipos principais de aproveitamentos hidroelectricos: a fio de água, com armazenamento e com reversão.O fio de água corresponde a um sistema que gera energia através da queda natural do rio e só com o próprio caudal do rio, que está sujeito sempre a grandes variações. Se os estudos não forem bem executados podem surgir surpresas com a drástica diminuição do caudal, e neste caso as turbinas podem entrar em colapso, devido à implosão de bolhas de ar que destroem até o melhor aço. Esta ocorrência é conhecida por cavitação. Os fios de água em Angola serviram para uma primeira fase, até 1945 e foram todos fiascos (Mabubas, Biópio, Matala e Lomaum). Depois disso era notório que teria que se armazenar água, através de grandes barragens. No Cunene ainda se construiu o Gove.
Um aproveitamento com armazenamento consiste na construção de uma grande barragem que possa acumular o maior volume possível de água, proveniente das chuvas. Designa-se como transmissão de água no tempo. A água das grandes cheias é retida na barragem para depois ser utilizada em qualquer ocasião. É a chamada regularização estival. Isto permite aumentar os caudais na grandeza que se deseja ( até ao seu limite natural, é lógico), evitando assim que se produza a indesejável cavitação que provoca a ruína das turbinas. Resumindo: uma barragem de armazenamento acumula água e energia que podem ser, depois, utilizadas ao longo do tempo. É o caso de Capanda.
Os aproveitamentos por reversão são de origem recente e destinam-se a “acumular” energia sobrante. Durante a noite, quando está sobrando energia, podem algumas turbinas funcionar como bombas que devolvem, para a albufeira, parte da água que sai das outras turbinas, que se encontram a gerar energia. Às vezes a água é bombeada recorrendo à energia nuclear que está sobrando no sistema geral.As barragens de reversão são construídas em países cujo potencial hidroelectrico se encontra a caminho da exaustão.Em Portugal vão-se construir (Abril 2008) dez barragens de reversão para aproveitarem as potências voláteis das torres eólicas que não podem “entrar” na rede geral.
Quando Cambambe foi inaugurada em 1960 proclamou-se que “ tínhamos barragem para 50 anos”, o que era verdade uma vez que se faziam extrapolações para as taxas de desenvolvimento do marasmo colonial durante o “tempo de jogo” ( 479 anos). Nos 3 minutos do Tempo Extra ( 13 anos de desenvolvimento) começou a ficar patente que a potência de 65 MW, em Cambambe, não iria ser suficiente para Luanda. Para uma taxa de consumo de 300 W por habitante, número baixo se atentarmos ao facto de ser uma cidade de muitas geleiras, frigoríficos, ar condicionado e especialmente indústrias, a barragem atenderia ao consumo de 220 000 habitantes. Ou talvez ela fosse suficiente uma vez que só se contavam os europeus, segundo a optica colonialista .
A independência acabou por não nos mostrar a fraqueza de Cambambe. Aliás em 1972 o relatório anual da empresa concessionária Sonefe consignava uma potência na rede de 72 MW, o que provava a saturação de Cambambe. A independência, e a desorientação que se lhe seguiu, acabaram por disfarçar a fraqueza de Cambambe.
O governo nacionalista de Angola empreendeu a construção da grande barragem de Capanda, no melhor eixo do rio Cuanza, o local por onde se deveria ter começado a geração de energia electrica em Angola, marcada no tempo colonial por muito pouca ambição, que se pode filiar na falta de vontade no desenvolvimento da colónia. A obstrução ao progresso de Angola provinha, totalmente, de Lisboa. Tudo era gerado na Metrópole, de acordo com os interesses dos oligas (oligarquia monopolista).
Mas não é só o Médio Cuanza que pode gerar energia; também os seus afluentes têm caudais e quedas propícias para a obtenção de MW. Já mencionámos o rio Lucala. O Cutato das Mongóias tem condições de armazenar grandes volumes de água e apresenta grandes quedas e corredeiras. No rio Cunje foi implantada, facilmente, uma mini-hídrica que fornecia energia à cidade de Camacupa. O rio Cuquema, a 18 km de Cuito, podia ter abastecido a cidade com cerca de 30 MW, através de uma fácil barragem de terra. No rio Cuito, que passa pela cidade do mesmo nome (ex-Silva Porto) foi inaugurada em 1938 a segunda hidroelectrica de Angola. A primeira foi construída no rio Cuando (afluente do Cunene), no Huambo, por iniciativa do Caminho de Ferro de Benguela, em 1929. A barragem do Cuito foi a primeira hidroelectrica na bacia do rio Cuanza.