BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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domingo, 6 de setembro de 2009

7 - ESQUELETOS NOS ARMÁRIOS - OS OSSOS DA DESCOLONIZAÇÃO (PARTE 3)

Inferno é outro esqueleto. O pânico apoderou-se das pessoas ludibriadas por aqueles que ficaram anos e anos alimentando falsas esperanças e prometendo uma quimera. Infernal é o facto de uma guarnição militar fugir de madrugada, abandonando tudo e todos e sem avisar as populações. Infernal é um exército aliciar os nativos, ingénuos e puros, fazendo-os passar para o seu lado, e depois abandoná-los à sorte, sabendo que o mínimo que lhes iria suceder seriam os campos de reeducação cujos manuais foram redigidos pelo “grande pedagogo educador das massas” Pol Pot.
Na Guiné foram fuzilados mais de 500 comandos africanos portugueses porque cometeram o erro de acreditar em Portugal. Infernal é assistir à desmontagem de um país e à arrogância de militares que achavam que estavam no palco da história desempenhando um grande papel. Infernal é assistir-se a estes militares oferecerem-se, posteriormente, como mercenários ou traficantes de armas, aos três movimentos inimigos, como eles os classificavam, querendo assim perpetuar-se nas guerras. Mas diziam antes, com ênfase, que estavam fartos de guerra. Aliás não sabiam e não sabem fazer mais nada! Infernal é ver militares, que afirmavam que queriam a paz, passarem posteriormente a intermediários de armas destinadas a uma guerra fratricida. Nesta foram enterradas muitas minas anti-pessoal que originaram (e infelizmente ainda originam!) milhares de estropiados. E deixaram vastas zonas do país, ainda hoje (2005), com perigos de morte enterrados no chão.



Uma guarnição militar, altamente conceituada, melhor dizendo estimada, entre os angolanos, recebeu ordem para evacuar a população civil. Abandonou-a, à sorrelfa, de madrugada. O povo dizia que eles cumpriram as ordens mas trocaram os artigos gramaticais: em vez de evacuarem a população eles “evacuaram” na população.

Inveja é a última palavra dos Lusíadas e é o último esqueleto deixado pela descolonização. Ficou intolerável para os militares e para os oligas africanistas a ideia de uma Angola com um ritmo de desenvolvimento acima das médias mundiais e, especialmente, com um fabuloso horizonte originado pelos enormes recursos naturais. E, fundamentalmente, uma Angola livre das amarras colonialistas que tudo inviabilizavam, que se opunham ao progresso material e, principalmente, humano. Tudo em Angola era grande, o país ia ter um exército com oficiais angolanos, o país iria ser um exemplo mundial. Não mais haveria obstruções ao progresso!

Para os militares portugueses acabavam as comissões, as sinecuras, o bem bom “de um pé cá e outro lá”, as viagens, os casões onde se comprava tudo por metade do preço, as chorudas aplicações de escudos metropolitanos no mercado negro, a compra de uma segunda casa. Para eles restavam, de futuro, os comandos de esquadras de polícia, não seriam mais comandantes em chefe, em áreas com mais de 100 000 km², mas apenas mandariam numa jurisdição concelhia com 50 ou menos quilómetros quadrados. Iam comandar num quintal, não mais numa região. Em síntese, almejavam uma situação futura com Angola mergulhada no desgoverno. Para eles, triunfantes, argumentarem “estão a ver, nós saímos, ninguém se entende, não sabem dirigir seja o que fôr”.


É óbvio que apenas nos referimos a alguns militares da oligarquia, aos que se bandearam para o”in”, não nos referimos à maior parte dos militares, com destaque para os milicianos, verdadeiras vítimas em toda a desaustinada guerra. Vítimas que estão à espera de serem indemnizadas.Os civis portugueses, os milicianos que foram integrados no exército que combateu em África, que pouco ou nada tinham a ver com Angola,foram os mais sacrificados em todas estas desgraças, uma desdita igual à dos “indígenas” que também foram abandonados pelos novos senhores de Angola. Os portugueses que “serviram a Pátria” foram vergonhosamente abandonados pelos “revolucionários”. Ainda hoje, em 2009, se arrasta o processo de reparações morais e monetárias a que os milicianos têm direito. Os oligas estão à espera que todos morram. Mas, entretanto vão-se conferindo pensões chorudas para quem nunca descontou!
Em 1999 festejou-se em Portugal o 25º aniversário do golpe de estado. Fez-se um filme e desenrolaram-se muitas cerimónias. O ponto alto destas comemorações foi a petição de alguns “capitães de Abril”, agora coroneis, pleiteando a promoção a general. Motivo: tinham sido prejudicados com a revolução que eles próprios tinham desencadeado. Era o regresso ao marxismo do Groucho Marx! Vamos resumir: eles fizeram o golpe porque estavam a ser ombreados com oficiais milicianos que não tinham feito “academia”; agora queriam ser generais sem terem feito os “altos estudos necessários” e sem terem um único dia de quartel! O que eles condenaram serviu depois de pretexto para as suas serôdias ambições carreiristas.

O mais pungente, impróprio de um país europeu, é o numero brutal de deficientes, completamente abandonados pelos governos, sob a alegação de que “não há verba”. Mas há-a para 124 generais. Rácio em Portugal: um general para 322 soldados.
Os assimilados, os colonos e os indígenas edificaram, a partir praticamente do nada, um país com infrastruturas fundamentais, com uma interessante organização e com um mais que aproveitável sistema de produção de alimentos e bens. Os militares portugueses e os militantes angolanos estraçalharam todas as actividades, infrastruturas e sistemas construídos ao longo de mais de 60 anos.

A história é constituída por factos inter-ligados, onde o passado é o factor preponderante que explica o presente. Angola não fugiu a esta regra. Em 25 de Abril de 1974 os militares que perpretaram o golpe de estado que derrubou uma ditadura de 40 anos, estavam cientes desta regra ou ,pelo menos, deveriam estar. O processo histórico colonial angolano estava eivado de injustiças mas também de sacrifícios e de dedicações. Em meio século os colonos e os africanos erigiram um país, um dos mais bem estruturados do continente africano, augurando uma grande nação próspera. Infelizmente tudo correu mal, acabando no processo que conduziu à independência. Esta foi resolvida pelos militares portugueses e por três movimentos de independência que nunca se entenderam. Uma emancipação exógena (de fora para dentro) ao contrário dos variados países colonizados que se independentizarem endogenamente.

Entre os chamados retornados está arreigada a crença de que “o Mário Soares foi o unico culpado”. Não foi. Era difícil a resolução do processo histórico angolano tal como ele se apresentava. Séculos de dominação implacável e depois 40 anos ininterruptos de ditadura surda e cega às modificações que se geraram em todo o mundo conduziram a uma independência precipitada de que poucos dirigentes metropolitanos anteviram as consequências. O facto de não haver uma cultura democrática em Portugal, e muito menos em Angola, foi o principal motivo do desentendimento geral. Todos se guerrearam num processo niilista, difícil de entender.
Havia alternativas menos piores do que aquela que se verificou? Ou, utilizando a frase predilecta dos descolonizadores, “foi a descolonização que era possível”, isto anos depois, porque inicialmente eles proclamavam “urbi et orbi”, com um ridículo orgulho, de que foi “uma descolonização exemplar”. Tão “exemplar” que todos foram despojados dos seus bens e dos seus direitos! Tão “exemplar” que ninguém foi indemnizado, ao contrário de outros países que tiveram colónias. Tão exemplar que precipitou Angola em lutas fratricidas cujos resultados foram desastrosos em todos os sentidos.

Mário Soares, por estar mal elucidado, por não ter qualquer conhecimento das realidades africanas , e não estava interessado em conhecê-las( corre a fama de que “não lê os dossiers”), por alimentar uma incontida má vontade contra os “ultramarinos”, mesmo assim não pode receber todo o ónus de políticas anteriores seculares e desastrosas. Mário Soares, com aquela ligeireza com que aborda qualquer assunto, com aquela empáfia de ser laico, republicano e socialista (embora tenha como passatempo a acumulação de reformas, subvenções e subsídios) e com aquela facilidade de “ceder os trunfos” sem pensar,não estava, minimamente, à altura de um processo histórico tão complexo e tão melindroso.

No Brasil, na gíria, diz-se para uma pessoa que não se está apercebendo da sua incompetência, do ridículo, da ignorância, da vaidade ou da má vontade : si manca. Entre os jovens esta frase significa: cai na real O dicionário Aurelião consigna: « mancar- capacitar-se de que está sendo inoportuno,inconveniente ou está cometendo erro, engano». Em Portugal diz-se “que não se dá conta” a propósito de não estar à altura ou a ser inconveniente.O fantástico humor brasileiro criou o xarope “Simancol” que deve ser tomado por todos aqueles que “não se mancam”, ou seja de que se não dão conta, que não caiem na real. Em 1974 as farmácias portuguesas deveriam ter este xarope à venda, teriam evitado milhões de desgraças! Foi enorme a quantidade de gente incompetente que “se não mancou”, de pessoas que não cairam na real.Hoje estão mudos e quedos!

Fig Reunião no célebre Acordo de Alvor. Em primeiro plano da esquerda para a direita Melo Antunes, Rosa Coutinho,Agostinho Neto,Costa Gomes,Holden Roberto,Jonas Savimbi,Mário Soares e Almeida Santos. Em 8 intervenientes 5 são portugueses sem quaisquer interesses em Angola.Um destes (Mário Soares)“nunca lá pôs os pés”.Dos mais de 5 milhões de residentes em Angola ninguém está representado. Estranha forma de se exercer democracia, agravada com o facto de que o Movimento dos militares portugueses tinha como ponto de honra um referendo e eleições em Angola.


Fig Arriar da bandeira portuguesa e hasteamento da nova bandeira. Nenhum alto-representante (Presidente da República)do governo português.O novo governo em Portugal,saído de um golpe de estado em 25/04/1974, ficou inquinado com ideologias marxistas e com ideias mirabolantes sobre a nova ordem e justiça a implantar em Angola.Os três movimentos independentistas entraram armados em Angola,e depois receberam mais armas do exército português. Em pouco tempo estava instalado o caos, com terríveis consequências em bens e pessoas. O governo de Lisboa teve vergonha de conceder a independência: a quem? Numa breve cerimónia na fortaleza de S.Miguel, restrita apenas aos militares,sem qualquer elemento da imprensa, foi arriada a bandeira portuguesa,« dobrada, colocada em bandeja de prata e entregue ao alto-comissário».Os três movimentos proclamaram, cada um de “per si”, a independência. Na gravura vê-se a cerimónia que decorreu em Luanda somente com o MPLA. Angola merecia uma liturgia mais consentânea com o seu passado e com os seus povos. Como afirmamos mais adiante isto não foi mais do que a cereja ácida no bolo amargo(feito com farinha de quina) do colonialismo.

Era possível uma descolonização menos traumatizante? Era. Bastava terem entregue todo o processo à ONU. Se os militares portugueses estavam fartos de guerra e se “nem mais um soldado para África”, a solução era a ONU. O próprio secretário-geral ofereceu a opção ONU que foi recusada pelos militares portugueses. Aliás não se compreende que, sendo os militares portugueses a parte mais preponderante da guerra, tenham intervindo como imparciais. Nestas circunstâncias temos que admitir que, na recente independência de Timor, a Indonésia (ocupante) também tivesse interferido naquele processo. O Brasil estava pronto a ajudar no processo da descolonização angolana, estava disposto a enviar quaisquer tropas requeridas pela ONU. Estas tropas garantiriam a segurança de pessoas e bens. Infelizmente, “orgulhosamente sós” no colonialismo e “orgulhosamente sós” na descolonização


Fig Retirada da bandeira americana de uma urna, para depois ser entregue à família de um militar morto em combate. Há todo um cerimonial de recolha onde imperam a honra, o rigor, o orgulho, o respeito, o patriotismo.A fotografia transmite emoção!


Fig Recolha da bandeira portuguesa por um´” barbudinho”. Ela é levada debaixo do braço, como qualquer melão. As mãos estão sem luvas, as mangas arregaçadas, não se vislumbra qualquer escolta!. Ocorre-nos a pergunta: não havia um regulamento para a dobragem e transporte da bandeira? O que transmite esta fotografia?

Se os militares portugueses estavam fartos de guerra, o que até é verdade, por que quiseram levar o processo até ao fim, conduzindo-o afinal para piores confrontos, agravados com ideologias importadas e, convenhamos, a caminho de estas próprias se tornarem também ultrapassadas?

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