Na Guiné foram fuzilados mais de 500 comandos africanos portugueses porque cometeram o erro de acreditar em Portugal. Infernal é assistir à desmontagem de um país e à arrogância de militares que achavam que estavam no palco da história desempenhando um grande papel. Infernal é assistir-se a estes militares oferecerem-se, posteriormente, como mercenários ou traficantes de armas, aos três movimentos inimigos, como eles os classificavam, querendo assim perpetuar-se nas guerras. Mas diziam antes, com ênfase, que estavam fartos de guerra. Aliás não sabiam e não sabem fazer mais nada! Infernal é ver militares, que afirmavam que queriam a paz, passarem posteriormente a intermediários de armas destinadas a uma guerra fratricida. Nesta foram enterradas muitas minas anti-pessoal que originaram (e infelizmente ainda originam!) milhares de estropiados. E deixaram vastas zonas do país, ainda hoje (2005), com perigos de morte enterrados no chão.
É óbvio que apenas nos referimos a alguns militares da oligarquia, aos que se bandearam para o”in”, não nos referimos à maior parte dos militares, com destaque para os milicianos, verdadeiras vítimas em toda a desaustinada guerra. Vítimas que estão à espera de serem indemnizadas.Os civis portugueses, os milicianos que foram integrados no exército que combateu em África, que pouco ou nada tinham a ver com Angola,foram os mais sacrificados em todas estas desgraças, uma desdita igual à dos “indígenas” que também foram abandonados pelos novos senhores de Angola. Os portugueses que “serviram a Pátria” foram vergonhosamente abandonados pelos “revolucionários”. Ainda hoje, em 2009, se arrasta o processo de reparações morais e monetárias a que os milicianos têm direito. Os oligas estão à espera que todos morram. Mas, entretanto vão-se conferindo pensões chorudas para quem nunca descontou!
Em 1999 festejou-se em Portugal o 25º aniversário do golpe de estado. Fez-se um filme e desenrolaram-se muitas cerimónias. O ponto alto destas comemorações foi a petição de alguns “capitães de Abril”, agora coroneis, pleiteando a promoção a general. Motivo: tinham sido prejudicados com a revolução que eles próprios tinham desencadeado. Era o regresso ao marxismo do Groucho Marx! Vamos resumir: eles fizeram o golpe porque estavam a ser ombreados com oficiais milicianos que não tinham feito “academia”; agora queriam ser generais sem terem feito os “altos estudos necessários” e sem terem um único dia de quartel! O que eles condenaram serviu depois de pretexto para as suas serôdias ambições carreiristas.
Os assimilados, os colonos e os indígenas edificaram, a partir praticamente do nada, um país com infrastruturas fundamentais, com uma interessante organização e com um mais que aproveitável sistema de produção de alimentos e bens. Os militares portugueses e os militantes angolanos estraçalharam todas as actividades, infrastruturas e sistemas construídos ao longo de mais de 60 anos.
Havia alternativas menos piores do que aquela que se verificou? Ou, utilizando a frase predilecta dos descolonizadores, “foi a descolonização que era possível”, isto anos depois, porque inicialmente eles proclamavam “urbi et orbi”, com um ridículo orgulho, de que foi “uma descolonização exemplar”. Tão “exemplar” que todos foram despojados dos seus bens e dos seus direitos! Tão “exemplar” que ninguém foi indemnizado, ao contrário de outros países que tiveram colónias. Tão exemplar que precipitou Angola em lutas fratricidas cujos resultados foram desastrosos em todos os sentidos.
Fig Reunião no célebre Acordo de Alvor. Em primeiro plano da esquerda para a direita Melo Antunes, Rosa Coutinho,Agostinho Neto,Costa Gomes,Holden Roberto,Jonas Savimbi,Mário Soares e Almeida Santos. Em 8 intervenientes 5 são portugueses sem quaisquer interesses em Angola.Um destes (Mário Soares)“nunca lá pôs os pés”.Dos mais de 5 milhões de residentes em Angola ninguém está representado. Estranha forma de se exercer democracia, agravada com o facto de que o Movimento dos militares portugueses tinha como ponto de honra um referendo e eleições em Angola.
Fig Arriar da bandeira portuguesa e hasteamento da nova bandeira. Nenhum alto-representante (Presidente da República)do governo português.O novo governo em Portugal,saído de um golpe de estado em 25/04/1974, ficou inquinado com ideologias marxistas e com ideias mirabolantes sobre a nova ordem e justiça a implantar em Angola.Os três movimentos independentistas entraram armados em Angola,e depois receberam mais armas do exército português. Em pouco tempo estava instalado o caos, com terríveis consequências em bens e pessoas. O governo de Lisboa teve vergonha de conceder a independência: a quem? Numa breve cerimónia na fortaleza de S.Miguel, restrita apenas aos militares,sem qualquer elemento da imprensa, foi arriada a bandeira portuguesa,« dobrada, colocada em bandeja de prata e entregue ao alto-comissário».Os três movimentos proclamaram, cada um de “per si”, a independência. Na gravura vê-se a cerimónia que decorreu em Luanda somente com o MPLA. Angola merecia uma liturgia mais consentânea com o seu passado e com os seus povos. Como afirmamos mais adiante isto não foi mais do que a cereja ácida no bolo amargo(feito com farinha de quina) do colonialismo.
Era possível uma descolonização menos traumatizante? Era. Bastava terem entregue todo o processo à ONU. Se os militares portugueses estavam fartos de guerra e se “nem mais um soldado para África”, a solução era a ONU. O próprio secretário-geral ofereceu a opção ONU que foi recusada pelos militares portugueses. Aliás não se compreende que, sendo os militares portugueses a parte mais preponderante da guerra, tenham intervindo como imparciais. Nestas circunstâncias temos que admitir que, na recente independência de Timor, a Indonésia (ocupante) também tivesse interferido naquele processo. O Brasil estava pronto a ajudar no processo da descolonização angolana, estava disposto a enviar quaisquer tropas requeridas pela ONU. Estas tropas garantiriam a segurança de pessoas e bens. Infelizmente, “orgulhosamente sós” no colonialismo e “orgulhosamente sós” na descolonização
Fig Retirada da bandeira americana de uma urna, para depois ser entregue à família de um militar morto em combate. Há todo um cerimonial de recolha onde imperam a honra, o rigor, o orgulho, o respeito, o patriotismo.A fotografia transmite emoção!
Fig Recolha da bandeira portuguesa por um´” barbudinho”. Ela é levada debaixo do braço, como qualquer melão. As mãos estão sem luvas, as mangas arregaçadas, não se vislumbra qualquer escolta!. Ocorre-nos a pergunta: não havia um regulamento para a dobragem e transporte da bandeira? O que transmite esta fotografia?
Se os militares portugueses estavam fartos de guerra, o que até é verdade, por que quiseram levar o processo até ao fim, conduzindo-o afinal para piores confrontos, agravados com ideologias importadas e, convenhamos, a caminho de estas próprias se tornarem também ultrapassadas?
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