BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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segunda-feira, 8 de junho de 2009

OS OSSOS DA COLONIZAÇÃO (2)

Fig 4 Uma vista geral da subida da Leba: é notória a grandiosidade da estrada e da paisagem..

8.-Os recursos naturais estavam bem preservados, em muitos aspectos até demais. Nos diamantes exagerou-se em não querer mexer, mas isto é outra conversa abordada em ensaios anteriores. Por exemplo no aspecto florestal Angola estava bem encaminhada, tudo estava regulamentado, não havia lugar para depredações, como sucede actual e infelizmente. Era um a estabilização do deserto no sudoeste do país. A conservação do solo era uma realidade, era uma preocupação quotidiana dos respectivos orgãos oficiais.
9.- Parques naturais-A colonização portuguesa protegeu 64 650 km2 de parques nacionais, 93 450 km2 de reservas naturais e 18 050 km2 de reservas florestais. Estes parques, reservas naturais e florestais estavam perfeitamente definidos e eficientemente policiados. Todas as cidades eram rodeadas de perímetros florestais destinados a cortar ventos e secar pântanos, além de proporcionarem remanejamento de massa seca para lenhas.
O maior consumo energético era feito pelos africanos através da lenha. Isto iria acarretar, à medida que as cidades crescessem, uma rarefação do combustível doméstico dos africanos. Planeava-se o fabrico em Angola de fogões “Primus” e candeiros tipo “Petromax” para evitar o desbaste da flora natural.
Contavam-se por milhares as palancas pretas (únicos exemplares no Mundo) no Parque do Luando. Havia grandes mamíferos (elefantes, rinos, hipopótamos e pacaças (búfalos) a 50 km de Luanda. Os rios de Angola estavam povoados de crocodilos e hipopótamos.
10.-Uma frota pesqueira, constituida por milhares de pequenos pescadores, que contribuía para a preponderância de Angola nas exportações de pescado. A industria de enlatados de peixe era uma bela realidade. Como já era realidade o peixe congelado. A farinha de peixe era um dos maiores produtos de exportação. O peixe seco e o de meia-cura foram um notável contributo para a alimentação dos angolanos. Além das proteínas, o peixe do mar (ombisse) reduziu o bócio para níveis insignificantes, devido à presença de iodo. Infelizmente nesta área poderia ter-se feito mais se tivesse havido crédito bonificado. Lisboa nunca quis que em Angola se instalasse uma postura atlântica, virada para o mar, é sintomático que, no século 20, só tenha surgido uma única cidade litorânea o Lobito. Portugal, um pioneiro na navegação de longo curso, e depositário de uma cultura marítima mundial, não deixou qualquer escola de ciência dos mares em Angola. Nem sequer uma mentalidade atlântica.A pesca desenvolveu-se por particulares.A orla marítima esteve, sempre, abandonada pelos governantes de Lisboa.
Fig 5 Lobito o melhor porto da África Ocidental em 1973. Era o pivot de toda a importação e exportação de mais de metade de Angola e das regiões, na altura integradas em colónias da Bélgica e Inglaterra, Katanga e Rodésia do Sul. A cidade fundada em 1903 destinou-se a ser o términus do Caminho de Ferro de Benguela. É uma língua de areia (restinga) originada pelos sedimentos dos rios Catumbela e Cavaco, pelas calemas e pela Corrente Fria de Benguela. Era motivo de comentários irónicos, entre os angolanos, devido ao seu elevado requinte civilizacional .Lobito era a porta de entrada da modernidade.Nota-se o eficiente sistema de ampliação da restinga empreendida pelo LNEC de Lisboa nos anos 70, com colaboração do LEA de Angola que os brasileiros denominavam de LNEQUINHO, por ser também excelente nos trabalhos que fazia.

Fig 6 A vermelho o percurso do Caminho de Ferro de Benguela com 1349 km desde o Lobito até à fronteira leste em Teixeira de Sousa(actual Léua).Nesta vila ligava-se com a Rodésia do Norte (actual Zâmbia) e com o Katanga (actual Shaba pertencente à República Popular do Congo). E, depois, com todo o sul de África, incluindo Moçambique e África do Sul.. O traçado implantou-se na Culminação Transversal de Angola uma linha de cumeada que separa os rios do norte dos do sul, excepto o rio Cuanza como já foi descrito em um nosso anterior ensaio.

Fig 7 Oficinas Gerais do Caminho de Ferro de Benguela em Nova Lisboa (actual Huambo). A ferrovia drenava minérios do Katanga e da Zâmbia. Os comboios com minérios, nocturnos, sucediam-se uns aos outros, num afã de acordo com o lema colonial “o tempo urge”. Como qualquer peça das máquinas a vapor demorava muito tempo até chegar a Angola, logo nos primórdios (1910) a administração inglesa instalou as Oficinas Gerais, uma verdadeira fábrica. Nos anos 60, quando os comboios a vapor começavam a desaparecer estas Oficinas fabricavam peças de material circulante para todo o mundo. Embora a mentalidade do CFB até 1961 fosse anglo-saxónica com separação etnica, é justo destacar a primorosa administração desta companhia, onde tudo funcionava e onde tudo era cumprido, rigorosamente.Neste ultimo aspecto um grande exemplo,até para os tempos presentes.Os lucros desta empresa eram normais porque predominava já, naquela altura, o tripé- lucro, social e ambiental.

11 -Um cadastro de terras organizado e uma cartografia excelente. A carta aerofotogramétrica, na escala 1/100 000 e constituída por 484 folhas, era um dos bons instrumentos para o desenvolvimento do país. Em geodesia Angola estava toda triangulada. Estava montado um cadastro que, facilmente, ajudaria a uma distribuição de terras pelos camponeses. A propósito, repetimos, quando é que os angolanos terão direitos a serem donos “jure et facto” (de direito e de facto) das suas terras?
12.-Ética nas actividades comerciais e no dia a dia das populações. Quase toda a gente, apesar dos salários serem baixos, saldava os seus débitos. A taxa de letras protestadas era menor do que 5%.
13.-Meteorologia eficiente, cobrindo todo o país, com dados completos de 20 anos, ou mais (até 1973) , em todas as capitais de distrito. Se as observações não tivessem sido abandonadas hoje Angola disporia de dados meteorológicos fiáveis, com mais de 30 anos, uma ferramenta imprescíndivel em hidrologia. Com dados de 30 anos é possível obterem-se equações de chuvas, por exemplo. Mas, ainda hoje, os dados daquele tempo, absolutamente confiáveis, são de uma evidente utilidade. A partir de 1961 foi estabelecida uma rede de hidrometria; em 1974 já se dispunha de valiosos dados sobre os caudais dos rios.
14.- Laços familiares. Apesar das actuações menos felizes (os famigerados contratos) que caracterizaram o colonialismo, ainda se mantinham as bases e raízes africanas. O “quimbo” era o último refugio de um sèculo (ancião), era a sua “segurança social”.

Fig 8 – Ocupação portuguesa (em róseo) em Angola em 1905, segundo René Pélissier (História das Campanhas de Angola-Imprensa Universitária, Editorial Estampa Lisboa 1986).Só havia 2 cidades (Luanda e Benguela). Moçâmedes foi promovida a cidade em 1907, Lubango em 1923 , Malange em 1933 e Belmonte (Silva Porto, actual Cuito) em 1935. Luanda foi fundada em 1575 e Benguela em 1617.

15.-Farmácias eficientes e sérias. Os medicamentos fornecidos pelo estado eram gratuitos, genéricos e absolutamente confiáveis. Como confiáveis eram a alimentação e a água, em qualquer parte de Angola. Luanda tinha a melhor água dentre as cidades da África ocidental. A água em garrafas não fazia parte do quotidiano luandense, bebia-se, com confiança, água da torneira. Que o povo chamava de “UísqueDucano”.
16.-Parques industriais interessantes e numa explosiva expansão.Angola fabricava quase todos os artigos que eram consumidos pela sua população, como por exemplo tijolos, telhas, cobertores (cambriquites), tecidos, sapatos, pneus, fósforos, óleos comestíveis, farinhas, tubos, bicicletas etc. Nos últimos anos a taxa de crescimento industrial chegou a atingir 22% ao ano. Eram indústrias, mesmo, e não artigos industriais vindos em contentores, às vezes de países distantes, onde se pratica ainda uma semi-escravatura apoiada em degredados. Em 1944 a Lupral em Benguela já fabricava tubos para saneamento, chapas de aço, e diversos artigos de serralharia (pregos, parafusos, fechaduras etc.). Eram indústrias dirigidas por engenheiros que se preocupavam com a produção.

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