BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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segunda-feira, 8 de junho de 2009

OS OSSOS DA COLONIZAÇÃO (7)

25.- Por que tudo fracassou? Por que não conseguiram os portugueses e seus descendentes, e muitos africanos ocidentalizados, prosseguirem as sua vidas em Angola, optando, antes, por um exílio indesejado em outros países, especialmente na antiga Metrópole? Em um anterior ensaio “A utopia de um novo Brasil em Angola” desenvolvemos os vários motivos que estiveram na origem da inviablização de um novo Brasil, isto é, uma nação miscigenada com predominância dos costumes ocidentalizados. Expusemos as causas remotas e as causas próximas.
Fundamentalmente, quando Angola já dispunha de boas estruturas urbanas, apoiadas em uma administração moderna e próspera, os colonos continuavam mergulhados em um marsupialismo que foi explicado no ensaio referido. Achamos que a palavra marsupialismo explica bem a extrema dedicação deles em relação a Portugal. Os colonos não queriam largar a”bolsa marsupial” mesmo depois de ser evidente que os ventos da história apontavam para outro rumo. O pouco tempo da colonização (só a partir de 1920) explica, em parte, este apego à Metrópole.
Os colonos estavam longe de imaginar que o “grande portuguesismo” era só de fachada; ele desmoronar-se-ia perante a surpresa de quase todos e, até, dos estrangeiros.
Valeu a pena a saga dos portugueses em Angola? Eis um tema para dezenas de debates( que tardam em aparecer!), colóquios, seminários, conferências, encontros , simpósios etc. É tempo de se perderem os complexos e os recalcamentos. Não há que ter medo da história. Os fantasmas só se expulsam encarando-os.
Já expusemos que a colonização europeia em Angola só começou em 1920. Também demonstrámos, em artigos anteriores (1), por que decorreram mais de 400 anos até que chegassem os primeiros colonos portugueses. O século 20 em Angola foi de uma tal complexidade que não se pode explicar através de um modelo simples, maniqueísta e marxista, de luta de raças ou classes do tipo “branco opressor versus preto oprimido”. O tempo e os acontecimentos posteriores provaram, amplamente, que este modelo simplista não funciona mais. Só um modelo muito complexo, envolvendo dezenas de variáveis, poderá explicar tudo o que sucedeu. Chega de se apoucar a grande obra feita pelos africanos e pelos portugueses ao longo dos tempos.
E para Angola valeu a pena a presença dos colonos de 1920 a 1975 ?
Não seremos nós, tal como na dúvida anterior, a responder a esta pergunta, mas limitar-nos-emos a transcrever uma frase do esplêndido livro de Jean-Claude Barreau & Guillaume Bigot “Toda a geografia do mundo” Edição Teorema Lisboa 2007:« A Angola lusitana é uma verdadeira nação».
Fig 13 Vista de satelite de Tombua antiga Porto Alexandre. Foi um caso bem sucedido de colonização espontânea e que não teve “subsídios oficiais”.Após a fundação de Moçâmedes( actual Namibe) em 1848 “saltou à vista” que os mares do sul de África eram excepcionalmente piscosos. Alguns pescadores do Algarve (Olhão) não perderam tempo: fizeram-se ao mar com as suas traineiras e instalaram-se em Porto Alexandre. Em poucos anos já estavam exportando, para todo o mundo, produtos comerciais (enlatados e secos de inicio). A cidade está em pleno deserto de Namibe onde chove menos de 50 mm anuais.Os Serviços Agrícolas e Florestais de Angola empreenderam, a partir da década de 20, plantações de árvores resistentes ao deserto a fim de conterem as dunas e amenizarem o clima.Estas defesas contra as dunas prosseguiram até à independência, era um trabalho que despertava a curiosidade mundial. Esta parte de Angola, o sudoeste, apesar de estar inserida no deserto de Namibe, é de excepcional interesse porque tem um clima “aparentado” com o mediterrânico. A região produzia, na foz dos rios, produtos de climas temperados como por exemplo a azeitona, a uva, o pêssego, a ameixa, o melão,o figo, etc. Na fotografia ainda são visíveis as cortinas de árvores plantadas a partir da década de 30. O “pai” destas cortinas foi o engenheiro agrónomo Bento e, mais tarde o engenheiro florestal Augusto Sardinha que empreendeu outra obra idêntica, mas de muito maior dificuldade, na Baía dos Tigres( hoje uma península) mais a sul.


Fig 14 Baía dos Tigres no sul de Angola. Em pleno deserto do Namibe a vila foi das maiores realizações, no género, em Angola. Edificada na restinga ali existente abrigava pescarias aproveitando o magnífico mar piscoso. Foram estabelecidas cortinas florestais de espécies exóticas adaptadas ao clima desértico (chuvas menores do que 50 mm por ano): um trabalho que despertava a curiosidade mundial. O engenheiro florestal Augusto Sardinha,já citado, representa o imenso sacrifício, trabalho e empenhamento dos técnicos de Angola. . Na figura vê-se um “muro” destinado a abrigar as espécies florestais emquanto novas. A Baía dos Tigres foi palco de um episódio mundial em 1904 quando a esquadra russa, em rota para o Japão, ali se refugiou. Uma canhoneira portuguesa deu-lhe ordem de retirada que foi cumprida pelos russos. Quando o meu pai chegou a Angola em 1909 ainda era um grande motivo de orgulho este acontecimento.


Fig 15 O governador Geral Paiva Couceiro em 1908, a cavalo ao lado das suas tropas, atravessando a ponte sobre o rio Cunene que ele mandou construir em tempo recorde . Precária, feita de paus da flora circundante, não aguentou muitos anos. Este governador, que foi insultado e preso por Salazar em 1937, tinha a percepção do atraso de Angola e tudo fez para a alcandorar à modernidade. O seu breve governo (1907-1909) criou os alicerces de uma nação, no sentido lato da palavra. Em 1912-1914 Norton de Matos continuou a sua obra. Este ultimo regressaria em 1921-1924 e catapultou Angola para a modernidade.


Fig 16 Ponte sobre o rio Cunene em Xangongo uma grande obra de engenharia e uma velha ambição dos colonos do sul de Angola. O conjunto é constituido por uma ponte com 85,4 m de comprimento , um viaduto com 726,80 m de desenvolvimento e um aterro com 11,2 km de extensão.Com esta ponte, inaugurada em 1968, o sul de Angola, a maior região pecuária do país, conheceu um desenvolvimento explosivo.



Fig 17 Corte de eucaliptos nos polígonos florestais do CFB Caminho de Ferro de Benguela.As máquinas a vapor, que ainda funcionavam em 1974, necessitavam de muita biomassa (lenha). Nos primeiros anos (1912 a 1935) foi utilizada lenha proveniente das savanas por onde passava o comboio. O desbaste tornou-se notório. O CFB empreendeu a plantação de centenas de milhares de hectares com floresta exótica (não nativa) de crescimento rápido. O eucalipto encontrou condições excepcionais nos planaltos de Angola. Dizia-se que, quando o corte chegava a meio da área total, já as arvores anteriormente cortadas estavam em condições de corte. Uma verdadeira economia sustentável.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caríssimo Amigo:
Gostei do tema que aborda.
Sou português e gui jóvem para Angola, onde casei com uma mulher angolana que me deu dois filhos, tambem, naturalmente angolanos.
Sem nunca ter deixado de me sentir português, acho me me fui dividindo entre doisd grandres amores em que o último se foi apossando de mim . E o último era Angola.
É difícil abordar o tema que o amigo corajosamente aborda simplesmente porque ninguém que comentários merecerão daqui a cinquenta anos o que agora fazemos no Mundo , mesmo que, conscientemente julguemos que fazemos , o que fizermos, justamente.
Só quero dizer que, os portugueses , a grande maioria, que vivia em Angola, ao tempo, da descolonização,deixou Angola com o coração partido e que e que aceitavam as mudanças políticas
que resultavam da independência.
Para não falar de quantos naturais de Angola, que não tinham ninguém familiar em Portugal e muito sofreram para se adaptar e
sobriver.
São esses quem eu mais respeito
e compreendo.
Um abraço.
Modesto Melo Martins