Não criticar o chefe em público ou ao telefone. Tão-pouco dizer graçolas sobre a actuação do Governo.
Ter cuidado com o que se diz, onde se diz e, sobretudo, junto de quem se diz.
Convém não exagerar – nada disto é, como no antigo regime, proibido. Há, no entanto, a noção de que o funcionário exemplar é prudente nas afirmações, moderado nos comentários, contido nas objecções.
E que deve seguir o conselho zeloso da secretária de Estado adjunta e da Saúde, Carmen Pignatelli, tendo a «sensibilidade» de falar apenas «nos locais apropriados».
Pode dizer-se que Sérgio Abrantes Mendes, juiz do Tribunal da Relação de Évora, ignorou todas as recomendações quando, no princípio do mês, enviou um e-mail para os amigos e colegas, dando conta do seu estado de alma: «Se, antes do 25 de Abril, todos sabíamos que poderíamos ter problemas com a polícia política, para os novos pides não se torna necessário esticar tanto a corda: basta não ser apoiante do partido do Governo.»
À VISÃO, o antigo inspector-geral da Administração do Território e director-geral dos Serviços Judiciários explica que tomou a iniciativa de maneira a impedir que, à sua volta, se instale «um terror reverencial»:
«Estamos num estado orwerliano? Estamos num estado policial?»
A escritora e professora do ensino secundário Luísa Costa Gomes fala do sector que melhor conhece. E confessa-se «perplexa» perante o medo que anda no ar, no dia-a-dia das escolas:
«Os professores têm medo do desemprego. Têm medo de, no emprego, serem espiados, avaliados, denunciados pelos colegas, sabe-se lá por que razão. Há direitos fundamentais das pessoas que não estão a ser cumpridos, nas escolas.»
«Portugal não tem nem História, nem condições económicas, nem tradição moral de democracia – e as pessoas interiorizam muito facilmente medos antigos», conclui.
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