BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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domingo, 8 de novembro de 2009

RIO QUEVE, O PEQUENO GIGANTE (3)

Tudo foi modificado a partir de 1961: em vez de casais agrícolas, com 5 ha de terras, passou a haver fazendas médias, de criação de gado, tractores em vez dos idílicos carros de bois, regadio, e mão de obra africana paga de acordo com as tabelas oficiais. Esta modificação foi feliz pois a adaptação de gado leiteiro foi um sucesso, de tal maneira que em 1973 Angola passou de importador a exportador de lacticínios. Diga-se, de passagem, que este sucesso se ficou devendo, também, a vários vectores: estradas asfaltadas, um grande mercado consumidor (Luanda), maior poder de compra das populações, um competente apoio pecuário através da recem criada faculdade de medicina veterinária em Nova Lisboa e da faculdade de agronomia. A concepção inicial da Cela, dirigida com mão de ferrro pelo governador geral Silva Carvalho, falhou estrondosamente, embora tenha recebido muitos avisos por parte dos colonos. A falta de estradas asfaltadas e o baixo poder de compra foram as principais lacunas que inviabilizaram a Cela tal como tinha sido idealizada pelos estrategas de Salazar. As produções apodreciam nos lamaçais em que se convertiam as pseudo-estradas no tempo das chuvas.
Na Cela, e na Matala mais ao sul, consumiram-se milhões de contos, mais de metade das verbas dos Planos de Fomento, na implantação de colonatos “que faziam lembrar os campos da Metrópole”. O retorno destes investimentos foi praticamente nulo. No Tempo Extra a Cela já era cidade, até já tinha liceu (12º ano de escolaridade). Mas com quanto dinheiro, com quanta protecção (escandalosa) oficial? E se este dinheiro tivesse sido gasto com os três EE´s (ensino,estradas asfaltadas e eletricidade?
A colonização da Cela tornou-se uma obsessão para o governador Silva Carvalho. O Bié, principal alfobre da mão de obra compelida, ficou completamente abandonado durante o seu governadorado. O Bié não tinha um metro de asfalto, não tinha telefones, só a sede do distrito é que tinha energia electrica, mas muito deficiente, não tinha raio X no hospital (que funcionava precariamente na Mansão dos Colonos), não tinha ensino secundário gratuito (e portanto fechado para os africanos), nenhuma obra oficial, nenhum estudo, nenhum projecto, nada.
Em meados da década de 50 uma firma americana fez um estudo sobre a Cela, em especial sobre uma regularização dos caudais do rio Queve e o enxugo da Baixa do Cussoi. Este rio, durante as cheias, transbordava para as áreas contíguas onde estavam instalados colonos. Aquela firma preconizou uma barragem de terra no sítio Massango, com acumulação de 600 milhões de m3 de água. Um outro inconveniente no colonato da Cela, este de ordem sanitária, foi a existência de bilharzíose (esquistossomose no Brasil) em alguns rios da região, com especial incidência no rio Cussoi.
Em 1963 um grupo de engenheiros angolanos que constituiam a Brigada de Engenharia da Junta Provincial de Povoamento, começou, finalmente, o estudo da bacia do rio Queve. Como prioridade a instalação de estações e postos hidrométricos com vistas a obterem-se os caudais ao longo do tempo. Fizeram uma obra notável. Foi possível, finalmente, conhecer o rio Queve e os seus potenciais apoiando-se na carta aerofotogramétrica 1/100 000 e naqueles dados de campo. É justo nomear o engenheiro Joaquim Forte de Faria., como representante de todos os técnicos e auxiliares que contribuiram para a excelência dos resultados obtidos em climatologia, hidrologia e medição de caudais.
Infelizmente o rio Queve nunca mereceu a atenção do governo colonial. A sua imensa potencialidade hidroeletrica, para não citar outras (agricultura de géneros tropicais e temperados, mas com métodos modernos e empresários preparados, floresta exótica e gado bovino, abundância de água e um grande potencial hidroeletrico) permaneceu sempre sob um manto de segredo. Ao norte, no rio Cuanza em 1957, uma empresa metropolitana (Sonefe), criada às pressas e eivada de um monopolismo exacerbado, não deixou que se apontassem as potencialidades do Queve, o rio de maior rendimento hídrico de Angola. Logo em 1957 começaram, rapidamente os estudos e execução da barragem de Cambambe no rio Cuanza (Ver Rio Cuanza: o elo entre o sul e o norte, entre o passado e o futuro em Psitacideo.)


Fig 3 Bacia hidrográfica do rio Queve. Tem o feitio de uma “cabaça” um dos objectos familiares da cozinha angolana. Orograficamente a bacia tem três niveis: Planalto com 18 300 km2, Transição com 4 150 km2 e Litoral com 1 420 km2 . No Planalto chove abundantemente e não há secas, apenas anos menos bons em chuvas. A configuração da bacia, a grande e regular precipitação anual, a perda de altitude em escassos quilómetros originam um rendimento hídrico excepcional sob o aspecto de energia Assinala-se a importante situação de Alto-Hama (cruzamento de duas estradas principais), um bisonho povoado antes do asfalto(1961), que se estava transformando em uma grande cidade. É o maior nó rodoviário de Angola. Além disto o Alto-Hama ainda tem boas águas termais e um bom clima de “primavera eterna”. E paisagens lindíssimas, pontilhadas por inselbergs. Tinha condições para se tornar em uma hidrópole.



2 – Climatologia

A maior parte da bacia do Queve insere-se nos planaltos onde as temperaturas são amenas, raramente atingindo os 30 ºC e onde as chuvas são abundantes, regulares e bem distribuídas, física e temporalmente. A estação das chuvas estende-se de Setembro a Maio. É um verão chuvoso com a precipitação média anual atingindo 1400 mm no bojo superior da bacia; no bojo inferior a chuva média anual é de 1200 mm;no gargalo superior a chuva anual situa-se em torno de 1000 mm; no gargalo inferior a precipitação média anual é irregular em torno de 500 mm.


Fig 4 Isoietas anuais na bacia do rio Queve. Isoietas são linhas que unem pontos com igual precipitação, neste caso as médias anuais.Verifica-se que mais de quatro quintos da área beneficiam de chuvas excedendo os 1000 mm anuais. Isto confere-lhe um alto rendimento hídrico, tanto mais que a bacia tem uma apreciável percentagem de granitos “em osso”.Os lençois freáticos (águas subterrâneas) são abundantes, pouco profundos e com recargas anuais.

A temperatura média anual no planalto é de 20 ºC, sendo de 27º C a média máxima anual e de 13º C a mínima média anual. Raramente se atinge 30 º C no Planalto Central.
Na Transição a temperatura média anual é de 23º C, sendo de 29º C a máxima média anual e de 17ºC a mínima média anual.
Na zona litoral as temperaturas são respectivamente 25º, 29º e 21ºC.
A humidade relativa é de 65%, 75% e 80% respectivamente.Os dois primeiros valores são típicos de climas temperados primaveris.

3.- Potamografia

A bacia hidrográfica do rio Queve ou Cuvo está compreendida entre os paralelos (latitude sul) 10º 37´e 12º 47´e os meridianos (longitude Este G.) 13º 35´e 16º 10´. A área da bacia hidrográfica é de 23 870 km2 . O comprimento total da directriz (com duas direcções NO e WNO) é de 420 km mas o seu estirão (percurso real ) é de 505 km.
O rio “nasce” na linha de cumeada, onde está implantada a ferrovia de Benguela, entre as cidades de Boas Águas e Vila Nova à altitude de 1930 m. A maior altitude na bacia é de 2 620 m na serra do Moco. A menor altitude é na foz no Oceano Atlântico 20 km ao sul de Porto Amboim.
Segundo a classificação de castanheira Diniz é uma bacia costeira inserida nos rios do Centro-Oeste, com a foz entre as cidades de Porto Amboim e Sumbe (Novo Redondo).
A área da bacia hidrográfica (23 870 km2 ) ocupa cerca de 1,5% da área de Angola (1 246 700 km2 ). De acordo com o usual em Angola, nenhuma cidade se encontra nas margens do rio Queve. Contrariamente à tendência mundial, as cidades em Angola, como já aqui foi afirmado em escritos anteriores, “fugiram dos rios” devido a vários factores: doenças (paludismo ou malária, bilharzíose, e disenterias) inavegabilidade (leitos muito inclinados e de forte corrente, com rupturas de declive muito acentuadas), crocodilos e hipopótamos. Os rios, ao contrário do Brasil, não contribuiram para a união do país. Foi uma das grandes causas do atraso de Angola onde a modernidade entrou tardiamente só graças à ferrovia e ao automóvel. Usando um termo genuinamente angolano a bacia hidrográfica do rio Queve tem a configuração de uma cabaça, com uma parte bojuda de 18 300 km2 e um gargalo com 5 570 km2 .


Fig 5 O rio Queve “espreguiçando-se” nas extensas planícies fluviais inundadas anualmente. Algumas destas áreas planas podem converter-se em albufeiras armazenando um gigantesco volume de água que poderá ser utilizado em tempo posterior.É uma transmissão de água no tempo. As tubagens fazem a transmissão de água no espaço.

A parte bojuda, planáltica, tem altitudes de 1930 m a 1200 m. O ponto culminante da bacia é no monte Mepo com 2360 m de altitude O rio espraia-se em planícies fluviais, inundadas anualmente, que retardam os picos de cheia. Estas planícies estão rodeadas por cadeias montanhosas de rara beleza. Mas no meio delas emergem inselbergs (montes ilhas) que chegam a atingir alturas de mais de 300 m(em relação ao solo circundante). Estes testemunhos de relevo são de constituição granítica, resistentes às erosões geológicas. Um inselbergue notável, por estar proximo de uma estrada nacional, é o Monte Lovili ou Lubiri com 2503 m de altitude.
Nos primeiros 70 km, até à confluência do rio Cuito, o Queve tem inclinações acentuadas; segue-se um leito com inclinação suave até Cafula somando 315 km. Depois é a Escarpa Atlântica onde o rio desce mais de 1 200 m em escassos 80 km. O trecho final é “plano” com inclinação menor do que 1/1000, ou seja menos de um metro em um quilómetro.



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