BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

RIO CUANZA, O ELO ENTRE O SUL E O NORTE, ENTRE O PASSADO E O FUTURO (I)

1 - História
É o rio mais mítico de Angola. Os seus 200 km finais são navegáveis o que permitiu que os portugueses do século 16 pudessem embrenhar-se, um pouco, pelos sertões. Onde o rio perde a sua “horizontalidade” e começam as quedas e corredeiras, a 190 km da foz, para montante, foi fundado o Dondo, primeira cidade interiorana de Angola e, talvez, a segunda em África de raiz europeia. A primeira foi em Cabo Verde: Ribeira Brava na ilha de Santiago.
Durante mais de 3 séculos a autoridade portuguesa circunscreveu-se à área entre os rios Dande e Cuanza, cerca de 20 000 km². Tanto ao norte como ao sul viviam povos aguerridos-ao norte os Dembos, ao sul os Quiçamas- que se opunham à soberania portuguesa. O rio Cuanza foi o grande sustentáculo de Luanda e foi o primeiro e grande vector de ocupação.
Nas suas margens foram construídas 3 fortalezas-presídios:Muxima, Massangano e Cambambe. A igreja na Muxima gerou um forte pendor religioso entre os africanos. A padroeira Nossa Senhora da Conceição da Muxima foi entronizada no século 17. A palavra Muxima significa coração e era o nome de um soba. O culto desta imagem chegou até aos nossos dias, mesmo contra a “má vontade” marxista que predominou de 1975 até cerca de 1990.
Se Muxima diz respeito à alta “angolíada”, Massangano relaciona-se com a alta “lusíada”. Na verdade, quando a Holanda em 1641 se apossou de Luanda e Benguela os portugueses não se renderam e refugiaram-se na fortaleza de Massangano. Ali passaram agruras inimagináveis até serem resgatados em 1648 por Salvador Correia de Sá que veio expressamente do Brasil reapossar-se das feitorias de Luanda e Benguela.
A barra do Cuanza foi cartografada por Paulo Dias de Novais em 1560.As margens do rio Cuanza, entre Dondo e a Barra (foz), são fertéis. Água abundante, muitas lagoas de enchente.Já naquele tempo(século16) se cultivavam géneros alimentícios e abundavam os gados bovino e caprino. A resistência aos holandeses em Massangano apoiou-se, militarmente, na posição privilegiada no rio Cuanza, um pouco antes da foz do afluente Lucala.
Sob o aspecto logístico, ou seja referente a provisões, as terras marginais são úberes e estavam ocupadas por milhares de africanos laboriosos e “de bom entendimento”com os portugueses. A água do Cuanza é potável e de bom paladar, em razão do seu substrato rochoso que origina águas com um ph próximo de 7 (ligeiramente ácida). Mesmo assim é justo admitir que não foi fácil a resistência em Massangano , durante 7 anos. O clima e as doenças eram factores fortemente negativos para a presença europeia. A impossibilidade de contactar com a Europa foi outro factor debilitante. Mas o clima desfavorável dizimou, em numero próprio de tempo de peste, os holandeses, menos adaptados aos rigores da região.
Segundo António de Oliveira Cadornega um conceituado cronista de século 17(1), citado por Ilídio do Amaral (2) «Cuanza rio mui caudaloso e que todo o ano se navegava até à fortaleza de Cambambe, que estava no fim dele, não que àquela data se soubesse ter fim, mas porque daí para cima não se podia passar por respeito de grande caída de água a qual era tão grande que do fumo e vapor que de lá se lançava para o ar se formava uma espessa nuvem de neblina a qual, tornando a descer sendo a água mui excelente...». O autor refere-se às quedas de Cambambe de que nos ocuparemos adiante.
Refira-se que o próprio cronista Oliveira Cadornega viveu as agruras de Massangano durante a ocupação holandesa.
Nos 200 km finais recebe o rio Cuanza, na margem direita, dois afluentes: o Mucoso, a jusante do Dondo, e o Lucala um pouco mais adiante. O rio Lucala é o maior afluente do Cuanza: nasce próximo do Negage, tem 24 085 km2 de área de bacia hidrográfica e um estirão de 430 km.
Cedo os portugueses se aperceberam da grandeza do rio Cuanza e do seu aproveitamento para a penetração do interior. Mal sabiam eles que, percorridos cerca de 200 km, se lhes depararia um leito inexpugnável, verdadeira muralha de rocha e de água. Era totalmente impossível demandar o interior através do rio. Foi nestes alvores que começou a lenda da prata de Cambambe. O dinheiro que circulava na Europa era de prata, um motivo de extrema cobiça entre todos. A bacia hidrográfica do Cuanza é quase toda apoiada no granito. Esta rocha acumula muita água, através das fissuras. Quando chove, durante muitos dias, a rocha nua fica impregnada de água dando-lhe um

Fig 1 – As diversas nações angolanas, inseridas na bacia do Cuanza, no princípio do século 20 antes da chegada dos primeiros colonos. A colonização europeia esbateu as fronteiras destas nações, intensificou-se uma interpenetração fomentada pela língua portuguesa, pelas ferrovias e pelos automóveis. As guerras civis a partir de 1975, a seguir à independência, obrigaram as populações a refugiarem-se nas cidades, servindo a língua portuguesa como cimento da jovem nação. Embora se não devam perder os valores históricos e sentimentais destas nações, mas Angola já emergiu como nação una e orgulhosa. Fonte: José Redinha, Distribuição Etnica da Província de Angola 3ª edição1965. Centro de Informação e Turismo de Angola


aspecto metálico quando os raios solares incidem sobre ela. Recordamos que a “saída” inopinada do Sol, após as chuvas, é vulgar nos trópicos. Talvez este fenómeno tenha contribuido para a lenda da prata, “que brilha em todas as direcções e vê-se de muito longe”.
Ainda Cadornega, citado por Amaral (1 e 2)podiam subir o rio« pataxos de coberta e alto bordo e naus possantes em tempo de inundações desde que tivessem pilotos de uma casta de gentio, conhecidos por nambios que viviam no morro sobre a barra». Seriam o que se denomina hoje por “pilotos da barra” vulgares em todos os portos marítimos.


Fig 2 – Bacia hidrográfica do rio Cuanza. É o unico rio que, nascendo ao sul, “caminha” para norte. Nasce no Mumbué(Bié), banha as províncias de Bié, Cuanza-Sul, Malanje e Bengo. Desagua ao sul de Luanda. Durante as chuvas arrasta muito caudal sólido (sedimentos) originado pelas intensas erosões em solos agrícolas, ou em solos muito erodíveis mesmo sem tratos agrícolas. Os seus sedimentos, quando entram no mar, são arrastados pela Corrente Fria de Benguela originando a ilha do Mussulo e a ilha de Luanda.



Luanda vivia, exclusivamente, dos produtos que vinham rio abaixo. A cidade possuia poucos poços rasos (denominados cacimbas ou maiangas) de fracos rendimentos e água um tanto salobra. No bairro da Maianga existia um poço que lhe deu o nome. Em resumo a cidade era árida, recebia muita água de fora, dos rios Bengo e Cuanza. As chuvas em Luanda são escassas e mal distribuídas.
Afora as trocas quotidianas de comércio entre os naturais e os portugueses, é lamentável dizê-lo, o principal produto de “exportação” era o dos escravos. Era um trágico marasmo, mesmo admitindo a breve presença holandesa (1641 a 1649) que se estabeleceu em Angola a fim de aproveitar, também, “o manancial” escravista. Os holandeses nunca trouxeram propósitos libertários e nada acrescentaram à economia angolana. Eles também queriam escravos.



Fig 3 – Fortaleza de Massangano situada na margem direita do rio Cuanza. “Aqui se retempera a Alta-Lusíada” escreveu um jornalista angolano. Era o monumento mais marcante da história portuguesa em África.

Mas em 1764 há uma mudança brusca com a chegada de um novo governador geral. Em Junho desembarca o Capitão Geral de Angola Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho a mando do Marquês de Pombal “primeiro-ministro” em Portugal. Sousa Coutinho era da família dos Condes de Redondo, trineto de Fernão de Sousa. Redondo é um concelho próximo de Évora. A cidade de Sumbe, cujo nome antigo era Novo Redondo, foi fundada por Sousa Coutinho e daí o nome em homenagem ao seu fundador.
Inocêncio de Sousa Coutinho, conhecido como o “Pombal de Angola” começou, de imediato, os seus objectivos dos quais citamos:
Ocupação sistemática da costa entre os paralelos 14º e 18º Sul, com reconhecimento do Cabo Negro. Só existia ocupação até à latitude de Lucira (14º 30´Sul), ao norte de Moçâmedes. A nova costa, pretendida por Sousa Coutinho, diz respeito à célebre Costa dos Esqueletos e abrangia uma faixa que ultrapassava a foz do rio Cunene, faixa que hoje pertence à Namíbia, perdida porque os portugueses não tiveram meios e gente para tão grande e exaustiva tarefa de ocupação. Já se tinha conhecimento da foz do rio Cunene, através dos relatos (1678) de um frade capuchinho (Cavazzi) que viveu em Angola.
Colocação de colonos nos planaltos de Bié e Huíla, provenientes de Açores, Madeira e Brasil. Nada se conseguiu porque as doenças dizimaram os poucos colonos que para lá foram.
Expropriação das terras incultas. É interessante como, naquele tempo, já havia voracidade por terras devolutas, para posterior especulação. O jeito de “chico esperto concessionário”, pelos vistos, remonta ao século 18.
Diminuição da exportação de escravos e melhoria nas condições de transporte. Foi o único Governador a proibir a guerra do Cuata-Cuata ( Agarra-Agarra), mas infelizmente, mal ele virou costas, recrudesceu com mais ferocidade. A guerra do Cuata-Cuata era feita pelos caçadores de escravos que mandavam os seus sequazes agarrar tudo quanto fosse possível de escravizar. Um facto que eu achei sempre hilariante passava-se com os cães gentios que desatavam a correr quando se gritava cuata. Será que a carga genética deles já estava carregada com esta terrível palavra ?
Incentivos à imigração estrangeira para substituir as levas de degredados que não cessavam de chegar.
Criação de uma agricultura auto-suficiente. Devido à ausência de vitaminas, presentes nos vegetais e frutas frescas, em Luanda morria-se com escorbuto. É a doença das pessoas que não comem verduras ou frutas, típica dos embarcados nas caravelas, embora fosse possível cultivar todos os géneros alimentícios nos rios relativamente próximos da cidade (Cuanza e Bengo).
Como complemento, estabelecimento de grandes armazéns de víveres para eliminar os ciclos de fome que atingiam a capital, um ancestral dos Armazéns do Povo após a independência, e das grandes superficies actuais.
Desenvolvimento industrial local com extracção de enxofre ( Benguela) cobre, sal e salitre e, talvez prata e ouro, que nunca apareceram.
Melhoria dos acessos às feiras existentes e criação das novas feiras Galo, Bimbe, Calandula (onde se situam as famosas Quedas do Duque de Bragança ) e Encoje.
Construção do hospital de Luanda, edifício da Alfandega, Terreiro Público e fortaleza de Benguela.
Criação das fábricas de cordoaria. Estabelecimento do presídio de Novo Redondo que daria origem à cidade de Novo Redondo ( hoje Sumbe), capital da província do Cuanza Sul, célebre por ter sido a cidade no Mundo onde durou mais tempo o eclipse do Sol, em Junho de 2001. O nome Redondo, que me intrigou durante décadas, é uma homenagem ao governador Sousa Coutinho que era o Conde de Redondo, no Alentejo, como já foi afirmado.
Criação da manufactura de carnes secas, couros e sabões.
E , finalmente, o empreendimento que marcou o seu governadorado: a criação da fundição de Nova Oeiras, na confluência do rio Luinha com o rio Lucala ( 5 km a leste de Cassoalala) . Chegou a ser extraído ferro, e exportado para a Metrópole, com grande sucesso. Chegaram a trabalhar nas minas 400 africanos “livres e sem constrangimento” segundo o dizer de Sousa Coutinho.
Um dos muitos méritos de Sousa Coutinho foi o de ter acreditado na potencialidade dos africanos, tendo escrito(3): « Sempre os negros trabalharão o ferro das minas de Nova Oeiras e dos muitos outros lugares do mesmo reino em que as há, e jámais comprarão algum ferro da Europa para as suas obras e serviços; e têm tal propensão estes povos para aquele trabalho que sobre os muitos fundidores ferreiros que conservam nas suas libatas ou povoações têm uma grande veneração pelo seu primeiro rei porque foi ferreiro, e finalmente toda aquela vastíssima região se serve do seu ferro, e jámais comprou algum aos nossos europeus».
Para esta fundição, um embrião de uma futura siderurgia, se continuada,vieram para Angola 4 mestres de fundição, oriundos da Biscaia mas vindos do Brasil. Tiveram fins prematuros: um ano depois da chegada tinham falecido todos. Chegaram em 3 de Novembro de 1768, a 6 de Dezembro morre José de Retolaça, devido a exageros alimentares segundo o laudo mortuário, a 8 morre Francisco Zuloaga e a 29 Francisco de Chinique o chefe dos mestres. O ultimo, José Echevarria morreu um ano depois.
Sobre a inesperada morte dos mestres de fundição Sousa Coutinho escreveu, desconsolado(3):«Vieram mestres da Bahia, desembarcaram em Benguela, foram à caça, molharam-se, quando tornaram ao navio já vinham doentes, de sorte que, desembarcando na capital quase mortos, acabaram poucas horas depois».
Mas apesar destes infortúnios a fundição prosperou, conseguiu-se transferir “know-how” europeu para os africanos. Quando Sousa Coutinho regressou a Portugal em 1772 a fundição era um sucesso.
Dignos de menção, porque em pleno século 20 ainda o Governo de Lisboa tinha aversão a tudo o que fosse instrução ou cultura em Angola, são também os cursos, que ele criou, a Escola de Ensino Tecnico e a Aula de Geometria e Fortificação, além de ter mandado desenhar o primeiro mapa de Angola.
É quase desnecessário consignar aqui que Nova Oeiras, o revolucionário empreeendimento de Inocêncio de Sousa Coutinho, foi liminarmente abandonado, e intencionalmente esquecido.
Depois da sua partida para Portugal, em Novembro de 1772, após 8 anos fecundos e únicos na governação de Angola, é fácil adivinhar o que sucedeu: o novo Governador António de Lencastre ignorou toda a obra de Sousa Coutinho. Lencastre ficou para a história por dois motivos. O primeiro por ter feito uma premonição para os tempos que se lhe seguiram: “ as coisas de Angola por si se entortam e por si se endireitam”. O segundo motivo foi o de trazer consigo a mulher, muito branca, com a cara coberta de pó de arroz, e vestida com saias rodadas, largas, sumptuosas, que deixaram os luandenses asssarapantados. Foi, talvez, a primeira mulher aristocrática que viveu em África. Em 21 de Setembro de 1954 foi criado um liceu feminino em Luanda que, sintomaticamente, recebeu o seu nome: D.Guiomar de Lencastre.
A fundição de Nova Oeiras, como era chamada, uma homenagem ao primeiro ministro de Portugal Conde de Oeiras depois Marquês de Pombal, acabou por se transformar num local turístico e que desperta nostalgia a todos os angolanos estudiosos e desejosos de verem a sua terra com o progresso que ela, com tantas tragédias e abandonos, merece. A fundição foi a primeira em África,à frente de quase todos os países europeus. Ainda existem canhões fundidos naquele tempo.
Vale realçar que o governadorado de Sousa Coutinho (8 anos) foi o mais longo entre as centenas de governadores que por lá passaram, o que não deixa de ser espantoso e demonstra a verdadeira vontade em fazer progredir Angola. Só voltaria a haver um governadorado de igual duração em 1947/55 com Silva Carvalho de alcunha “ o Caricoco” por fumar,ininterruptamente, cigarros daquela marca.
A cerca de 150 km do Dondo entramos no reino da célebre Rainha Ginga cuja corte estava instalada nas Pedras Negras de Pungo Andongo, imensas massas rochosas designadas em geografia como inselbergs (montes-ilhas). Este tipo de relevo residual é muito comum em Angola, especialmente na zona de transição orográfica, antes dos extensos planaltos interiores.
Pungo Andongo situa-se na margem direita do Cuanza a 10 km de distância do rio. O conjunto de blocos de rocha (monadnocks), de aspecto imponente, ocupa uma área de 50 km².
A primeira ponte sobre o Cuanza foi a da ferrovia que liga o Lobito com a fronteira leste, na actual República Popular do Congo. A ponte metálica veio toda desmontada da Inglaterra e foi inaugurada em 1926. A estação ferroviária, situada no km 725, deu origem ao Posto do Alto-Cuanza.
A segunda ponte sobre o Cuanza, ligando o norte com o sul, foi construída em 1929 pelo Alto-Comissário Filomeno da Câmara. Foi, inegavelmente, um acontecimento importante, porque foi a primeira ligação, por estrada, entre o sul e o norte.
A terceira ponte era para ligação entre Silva Porto e Malanje, através de Andulo, Calucinga e Mussende,próxima do posto de Cangandala. Dada a sua extensão, em arcos multiplos, era o orgulho do governo, chegou a constar nas notas do dinheiro angolano (100 escudos em 1956). É, realmente, uma bonita ponte, em arcos, imitando as lendárias pontes romanas que ainda hoje existem um pouco por toda a Europa.
Como era de regra foi-lhe dado o nome de ponte Salazar inaugurada, festivamente, em 1952. Projectada e construida totalmente em Angola era, também, o orgulho dos angolanos.Durante a sua construção verificaram-se vários acidentes; o povo ligou-os com a má vontade de uma sereia do rio (kituta) que estava aborrecida por ter sido violentada sem qualquer compensação. Num domingo fez-se uma luzida cerimónia popular de entrega de vários quitutes e garrafas de vinho do Porto ao rio, acompanhados de milhares de flores. Segundo o folclore foi remédio santo.




Fig 4 – Nota de 100 escudos angolanos onde constava a Ponte Salazar ou Ponte de Cangandala. Esta ponte era um orgulho porque foi integralmente projectada e construida por angolanos. Infelizmente não foi um motor de desenvolvimento. Como se afirmou, a estrada Malanje/Silva Porto não foi asfaltada. A ponte ficou “pendurada” durante 20 anos, praticamente sem trânsito.

Infelizmente só foi estendido o asfalto ligando Malanje com Silva Porto em 1972.Para os malanjinos ficou sendo a ponte do “lá vem um”; para os bienos ficou sendo “uma ponte longe de mais”.
Um eixo asfaltado

S.Salvador/Uige/Negage/Camabatela/ Quiculungo/

Duque de Bragança/Malanje/Mussende/Calucinga/Andulo/

Cuito/Cachingues/Chitembo/Menongue/Mavinga e Dirico

teria provocado um incremento brutal no interior de Angola. Estou a citar isto, em jeito de sonho, em homenagem ao meu pai que ficava idealizando estes empreendimentos. Fartou-se de sugerir isto ao governador geral Silva Carvalho. Esta ligação longitudinal, a 400 km do mar, designar-se-ia hoje por eixo meridiano central. Teria originado um colossal desenvolvimento interiorano.
A quarta ponte foi construida um pouco acima da albufeira da barragem da Cambambe e proporcionava a ligação com Nova Lisboa (Huambo) através da estrada asfaltada, infelizmente só concretizada na década de 60. Desenvolve-se em arcos de betão pré-esforçado, apresentando vãos de grande comprimento.
A quinta ponte foi construida próximo da Barra do Cuanza e fazia a ligação, ao longo do litoral, entre Luanda e o sul de Angola. É a primeira ponte pênsil no país. Foi projectada pelo “pai das pontes” o engenheiro Edgar Cardoso que pôs nela toda a sua sabedoria e amizade que nutria por Angola.
Como já foi afirmado, só nos primeiros 200 km, a partir da Barra, é que o rio oferece uma certa navegabilidade, apesar de existirem alguns “pegos” ou vórtices que ofereciam algum risco para os barcos. É por isso que se recorria aos pilotos do Cuanza, experientes e conhecedores de todas as armadilhas que o rio possuia, apesar de ser um trecho final muito manso em comparação com os trajectos de montante.
As crónicas antigas salientam a abundância de “lagartos” denominados de jacarés e “corcodilos”. Na verdade o rio Cuanza era pletórico de crocodilos da mesma família dos do rio Nilo. Também abundavam hipopótamos, muito territoriais e perigosíssimos. Eram numerosas as vítimas destes mamíferos temperamentais. Em pleno século 20 ainda eram abundantes estas duas espécies.
Um “peixe” muito apontado por Cadornega (3) era o “peixe mulher” conhecido na língua ambundo por ngulu que foi aportuguesado para angulo. A designação científica é “Manatus senegalensis”. Era um mamífero talvez da mesma família do peixe-boi do rio Amazonas. A carne semelhante à de porco, deu aso a que fosse caçado exaustivamente, um passaporte para a sua extinção.

2 – Geomorfologia

Geomorfologicamente Angola tem o feitio de um prato de sopa virado do avesso: uma extensa área plana, um plateau que cai para todos os lados, originando cinco direcções de escoamento das águas das chuvas:



Fig 5 – Hipsometria de Angola onde avulta o Planalto Central, verdadeiro “Castelo de Águas”. Huambo e Cuito beneficiam de chuvas abundantes ( 1350 mm anuais). Os solos são de constituição arenosa originando pujantes lençois freáticos (subterrâneos) e, por isso os rios são perenes (têm água todo o ano). Além disso as águas superficiais são abundantes, originando cheias com valores máximos em Dezembro e Março. Tudo isto leva a que sobre esta “mãe de água” devem incidir redobrados cuidados ambientais. O meu pai dizia que” urinando no rio quem vai sofrer são os luandenses”. Os nossos receios prendem-se com os apetites exteriores que argumentam que “Angola pode suprir o mundo com biocombustíveis”.Este nó hidrográfico não pode receber industrias de chaminés ou descargas e não pode albergar uma agricultura de grandes áreas, mecanizada e quimicamente fertilizada, ou seja uma agricultura mineradora. Uma tal agricultura envenenará,fatalmente, os lençois freáticos que são muito sensíveis pois são quase todos intercomunicáveis.

para Oeste, isto é, para o Oceano Atlântico (bacias costeiras), onde está incluído o rio Cuanza;
para o Norte, em direcção ao rio Congo;
para Leste engrossando as águas do rio Zambeze, com destino ao Oceano Indico;
para o Sul alimentando o lago Etocha, em drenagem endorreica (que não sai para o mar);
E, também, para o Sul formando o famoso Delta do Okavango, também de drenagem endorreica.


Fig 6 – Isoietas anuais da Bacia do Cuanza. Isoietas são linhas que unem pontos com igual precipitação (chuvas). A bacia está quase toda inserida na isoieta de 1200 mm anuais, o que sobra pertence à isoieta de 1400 mm; um ano seco nunca tem chuvas inferiores a 900 mm. O Cuanza é um rio forte e confiável.
Fonte: Castanheira Diniz.Angola o Meio Físico e Potencialidades Agrárias.Instituto para a Cooperação Económica. Lisboa 1991.

1 comentário:

Grupo Walema-Servços e Comércio disse...

É interessante e de grande valor o conteúdo deste tarbalho. Sou Angolano e nos ultimos tempos tenho me interessado por causa dos problemas de abasteciemnto de agua nas cidades em colher informaçãoes sobre o potencial de Angola. Bom trabalho.
Kingando
fisiofitnesswalema@gamil.com