Alguns professores da Escola Secundária Dr. Jaime Magalhães Lima, em Esgueira, Aveiro iniciaram hoje a assinatura de uma moção de descontentamento para com a aplicação deste modelo de avaliação aos professores solicitando a suspensão do mesmo. Ei-la:
MOÇÃO DE REPÚDIO COM VISTA À SUSPENSÃO DA APLICAÇÃO
DO NOVO MODELO DE AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES
Ex.ª Srª
PRESIDENTE DO CONSELHO PEDAGÓGICO DA ESCOLA SECUNDÁRIA Dr. JAIME MAGALHÃES LIMA EM ESGUEIRA - AVEIRO
Os professores abaixo assinados, da Escola Secundária Dr. Jaime Magalhães Lima em Esgueira, Aveiro, vêm declarar de forma veemente o seu mais vivo repúdio e desagrado com a introdução pelo Decreto Regulamentar n.º 2/2008 deste novo Modelo de Avaliação de Desempenho que dia-a-dia reforça a sua falta de transparência e a desigualdade de oportunidades, com um carácter vincadamente selectivo, impositivo e extremamente obscuro e burocratizado.
Já nos basta termos passado por um processo de má fé que, de forma “velhaca”, dividiu os professores entre titulares e não titulares. Talvez tenha sido aqui o início da semente de revolta que nos aperreia o espírito e nos oprime a alma. Mais que um ultraje, foi um verdadeiro vexame a que não nos queremos voltar a sujeitar e contra o qual continuaremos a lutar “até que a voz nos doa”.
Para que os “mal intencionados” não adulterem uma vez mais o que queremos com esta moção, reforçamos novamente a necessidade que temos de uma avaliação justa, no quadro dos nossos direitos e deveres que regule uma qualidade de ensino e de um ensino com qualidade bem como, uma Escola Pública universal, garante de igualdade de oportunidades.
Aquilo que os professores abaixo assinados contestam e põem em causa, é igualmente esta política persecutória da nossa dignidade profissional, o paradigma do enxovalho e espezinhamento de uma conduta de valores que deviam orientar a escola para a dialéctica do ensino/aprendizagem. Hoje, o Ministério da Educação está transformado no Ministério da Certificação, algoz de quem pretende aprender.
O nosso desencanto é infinito na cada vez maior falta de valorização da componente lectiva, na cada vez mais refinada preocupação em adubar os horários docentes com tempos de burocracia e actividades a metro, de duvidoso interesse educativo e pedagógico, enfim, na revoltante tentativa de transformar a nobre missão de ensinar em meros, meríssimos actos e procedimentos técnico-burocráticos e administrativos.
O nosso repúdio, vai ainda integralmente para a ilegitimidade que a avaliação de desempenho dos professores e a sua progressão na carreira encerram ao dependerem de parâmetros como o sucesso dos alunos, o abandono escolar e avaliação atribuída aos seus alunos, numa clara e afrontosa perda de independência.
Não menos repúdio e indignação terão de manifestar ao verificar que nos critérios de obtenção de Muito Bom ou de Excelente os professores possam vir a ser penalizados ao usarem, no pleno gozo dos seus direitos que a Constituição lhes confere, o direito ao nojo, à greve, à maternidade e às obrigações legais ou a outras de reconhecida necessidade.
Não aceitamos ser permanentemente hostilizados numa sociedade que se considera civilizada, evoluída e, pelo menos, aparentemente democrata.
Não aceitamos que nos imponham um demagogo processo de avaliação com total falta de transparência e de sentido de justiça e igualdade de oportunidades, quando nos impomos a nós próprios, perante os alunos a maior seriedade, rigor e justiça.
Não aceitamos igualmente, esta forma redutora que trata a avaliação dos professores como um acerto de contas, como um correctivo de quem os odeia porque “os perdeu mas ganhou a população”, hierarquizando-os entre os bons (que serão poucos) e os maus (que serão demasiados), não pelas competências de cada um mas pelo cumprimento subserviente e tarefeiro em que se está a transformar uma classe inteira de professores qualificados.
Este modelo de avaliação, hipócrita e subversivo do espírito de grupo e de classe, que cultiva o individualismo e a ganância, cresce num desmesurado atabalhoamento de princípios, normas e valores, estrumado por uma teimosia que apenas nada quer reconhecer, ainda que evidentes, o excesso e a complexidade de fichas que não têm em conta a especificidade do exercício profissional da docência.
Como poderemos entender um processo que em nada é formativo, e remete para as calendas gregas o princípio da reflexão individual e colectiva confundindo acintosa e propositadamente, avaliação com medição ou quantificação.
Não podemos aceitar que transformem a digna missão que nos confiaram de ensinar, transvestindo a classe de professores em zelosos rebanhos de construtores de fichas, mapas e planificações, em carrascos fiscalizadores e classificadores de pares ou ainda, em cegas obediências acríticas geradas pelo medo do cutelo em permanente equilíbrio instável, ao serviço de um poder que nos hierarquiza pelas tarefas, como já o fez quando do vergonhoso primeiro Concurso de Acesso a Professor Titular, e nos desvirtua nas capacidades, no mérito, rigor, excelência e competência a favor de uma política levianamente economicista, desumana e de conveniência.
Neste mundo de pseudo-modelo de avaliação já pouco credível, pejado de desigualdades e injustiças, sobressai a falta de preparação para as avaliações inter-pares e a oportunidade perdida de melhorar a qualidade do ensino e da educação em Portugal. A sua apressada implementação, o emaranhado de documentos burocráticos nos quais ancora este Modelo de Avaliação e a estúpida, complexa e administrativa actividade docente pouca mais vida deixam aos professores para além da escola. Que tempo sobra a todos os professores avaliadores e mega-avaliadores, também eles avaliados como os seus pares, para cumprimento da sua profissão e função de ensinar depois de se desenlearem da complexidade do pseudo-modelo de avaliação? E que formação ou experiência em supervisão que permita levar a bom termo a avaliação dos pares já que esta apressada e curta formação atribuída a apenas alguns avaliadores depois das aulas já em andamento, são confrangedoramente exíguas?
Por tudo isto, e por muito mais, os professores signatários solicitam a V. Ex.ª, que dê conhecimento à senhora Ministra da Educação, à Presidente do Conselho Executivo, à Câmara Municipal e à Associação de Pais desta escola do desencanto e razões que levam os signatários a solicitar a imediata suspensão deste processo que consideram viciado e incoerente, injusto e limitado, confuso e complexo, sem que se vislumbre, nestes moldes, qualquer mais valia para a qualidade de ensino e desempenho profissional.
Aveiro, 15 de Outubro de 2008
Os professores
DO NOVO MODELO DE AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES
Ex.ª Srª
PRESIDENTE DO CONSELHO PEDAGÓGICO DA ESCOLA SECUNDÁRIA Dr. JAIME MAGALHÃES LIMA EM ESGUEIRA - AVEIRO
Os professores abaixo assinados, da Escola Secundária Dr. Jaime Magalhães Lima em Esgueira, Aveiro, vêm declarar de forma veemente o seu mais vivo repúdio e desagrado com a introdução pelo Decreto Regulamentar n.º 2/2008 deste novo Modelo de Avaliação de Desempenho que dia-a-dia reforça a sua falta de transparência e a desigualdade de oportunidades, com um carácter vincadamente selectivo, impositivo e extremamente obscuro e burocratizado.
Já nos basta termos passado por um processo de má fé que, de forma “velhaca”, dividiu os professores entre titulares e não titulares. Talvez tenha sido aqui o início da semente de revolta que nos aperreia o espírito e nos oprime a alma. Mais que um ultraje, foi um verdadeiro vexame a que não nos queremos voltar a sujeitar e contra o qual continuaremos a lutar “até que a voz nos doa”.
Para que os “mal intencionados” não adulterem uma vez mais o que queremos com esta moção, reforçamos novamente a necessidade que temos de uma avaliação justa, no quadro dos nossos direitos e deveres que regule uma qualidade de ensino e de um ensino com qualidade bem como, uma Escola Pública universal, garante de igualdade de oportunidades.
Aquilo que os professores abaixo assinados contestam e põem em causa, é igualmente esta política persecutória da nossa dignidade profissional, o paradigma do enxovalho e espezinhamento de uma conduta de valores que deviam orientar a escola para a dialéctica do ensino/aprendizagem. Hoje, o Ministério da Educação está transformado no Ministério da Certificação, algoz de quem pretende aprender.
O nosso desencanto é infinito na cada vez maior falta de valorização da componente lectiva, na cada vez mais refinada preocupação em adubar os horários docentes com tempos de burocracia e actividades a metro, de duvidoso interesse educativo e pedagógico, enfim, na revoltante tentativa de transformar a nobre missão de ensinar em meros, meríssimos actos e procedimentos técnico-burocráticos e administrativos.
O nosso repúdio, vai ainda integralmente para a ilegitimidade que a avaliação de desempenho dos professores e a sua progressão na carreira encerram ao dependerem de parâmetros como o sucesso dos alunos, o abandono escolar e avaliação atribuída aos seus alunos, numa clara e afrontosa perda de independência.
Não menos repúdio e indignação terão de manifestar ao verificar que nos critérios de obtenção de Muito Bom ou de Excelente os professores possam vir a ser penalizados ao usarem, no pleno gozo dos seus direitos que a Constituição lhes confere, o direito ao nojo, à greve, à maternidade e às obrigações legais ou a outras de reconhecida necessidade.
Não aceitamos ser permanentemente hostilizados numa sociedade que se considera civilizada, evoluída e, pelo menos, aparentemente democrata.
Não aceitamos que nos imponham um demagogo processo de avaliação com total falta de transparência e de sentido de justiça e igualdade de oportunidades, quando nos impomos a nós próprios, perante os alunos a maior seriedade, rigor e justiça.
Não aceitamos igualmente, esta forma redutora que trata a avaliação dos professores como um acerto de contas, como um correctivo de quem os odeia porque “os perdeu mas ganhou a população”, hierarquizando-os entre os bons (que serão poucos) e os maus (que serão demasiados), não pelas competências de cada um mas pelo cumprimento subserviente e tarefeiro em que se está a transformar uma classe inteira de professores qualificados.
Este modelo de avaliação, hipócrita e subversivo do espírito de grupo e de classe, que cultiva o individualismo e a ganância, cresce num desmesurado atabalhoamento de princípios, normas e valores, estrumado por uma teimosia que apenas nada quer reconhecer, ainda que evidentes, o excesso e a complexidade de fichas que não têm em conta a especificidade do exercício profissional da docência.
Como poderemos entender um processo que em nada é formativo, e remete para as calendas gregas o princípio da reflexão individual e colectiva confundindo acintosa e propositadamente, avaliação com medição ou quantificação.
Não podemos aceitar que transformem a digna missão que nos confiaram de ensinar, transvestindo a classe de professores em zelosos rebanhos de construtores de fichas, mapas e planificações, em carrascos fiscalizadores e classificadores de pares ou ainda, em cegas obediências acríticas geradas pelo medo do cutelo em permanente equilíbrio instável, ao serviço de um poder que nos hierarquiza pelas tarefas, como já o fez quando do vergonhoso primeiro Concurso de Acesso a Professor Titular, e nos desvirtua nas capacidades, no mérito, rigor, excelência e competência a favor de uma política levianamente economicista, desumana e de conveniência.
Neste mundo de pseudo-modelo de avaliação já pouco credível, pejado de desigualdades e injustiças, sobressai a falta de preparação para as avaliações inter-pares e a oportunidade perdida de melhorar a qualidade do ensino e da educação em Portugal. A sua apressada implementação, o emaranhado de documentos burocráticos nos quais ancora este Modelo de Avaliação e a estúpida, complexa e administrativa actividade docente pouca mais vida deixam aos professores para além da escola. Que tempo sobra a todos os professores avaliadores e mega-avaliadores, também eles avaliados como os seus pares, para cumprimento da sua profissão e função de ensinar depois de se desenlearem da complexidade do pseudo-modelo de avaliação? E que formação ou experiência em supervisão que permita levar a bom termo a avaliação dos pares já que esta apressada e curta formação atribuída a apenas alguns avaliadores depois das aulas já em andamento, são confrangedoramente exíguas?
Por tudo isto, e por muito mais, os professores signatários solicitam a V. Ex.ª, que dê conhecimento à senhora Ministra da Educação, à Presidente do Conselho Executivo, à Câmara Municipal e à Associação de Pais desta escola do desencanto e razões que levam os signatários a solicitar a imediata suspensão deste processo que consideram viciado e incoerente, injusto e limitado, confuso e complexo, sem que se vislumbre, nestes moldes, qualquer mais valia para a qualidade de ensino e desempenho profissional.
Aveiro, 15 de Outubro de 2008
Os professores
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