BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A UTOPIA DE UM "NOVO BRASIL" EM ÁFRICA (3)

Angola em 1974 estava estruturada como nação, mas com uma estranha anomalia: era uma nação exo-cerebral isto é o seu cérebro estava afastado do corpo: todas as decisões importantes eram tomadas em Lisboa. Isto originou uma independência exógena, ao contrário do Brasil que se "independentizou" endogenamente. Ninguém, dos que viviam permanentemente em Angola, interferiu no processo da independência, tudo foi decidido fora do país. E, pior, por indivíduos (os metropolitanos, como é óbvio) que se ligavam a Angola por comissões de serviço, com ajudas de custo,é claro. Ou,até, que nunca tinham estado em Angola. Conheciam-na só através de um atlas escolar histórico-geográfico.


Quando todos os factores impeditivos, no século 20,( clima, doenças, agricultura, pecuária, transportes e ensino) se atenuaram, quando tudo se moldou para o nascimento de uma nação, os governos da Metrópole profiram em manter, sempre, o domínio total, mesmo quando já reconheciam que tinham sido ultrapassados pela própria História. Até na descolonização quiseram ser os últimos a mandar, só largaram o ceptro do poder quando a desmoralização era total. Eram os primeiros e únicos a mandar, foram os primeiros a debandar.


Em 1947 o jornal de Nova Lisboa “A Voz do Planalto” publicou uma crónica que provocou um pequeno terramoto nas hostes colonialistas, valendo-lhe um ano de suspensão. Foi o célebre artigo “Angola a gata borralheira”. Volvidos mais de 60 anos transcrevemos a parte inicial, como homenagem ao autor F.A. cujas iniciais, até agora, não conseguimos decifrar: «Entretanto Angola já existia quando o Brasil foi descoberto, mas o seu progresso, se for posto em paralelo, não tem comparação possível. Na simplicidade deste lamento perpassa a vibração dum simbolismo amargo: Brasil e Angola, símbolo do que Portugal pode fazer e símbolo do que Portugal não pode fazer».



Fig 11 - Henrique de Carvalho, um militar que passou por Malanje em 1885, escreveu:«...assenta a vila numa elevação cuja parte superior é uma estreita faixa, na sua maior largura 400 m tendo para mais de 1 km de comprimento...».Malanje, a mais de 250 km do mar, era, em 1885, o povoado mais importante do interior.

Em 1930 os fracassos de um povoamento semelhante ao brasileiro eram já notórios. Havia que escolher outra solução, e ela estava intra-muros: os africanos produziam quase todas os géneros agrícolas e respondiam bem a todos os desafios de economia. Aceitavam com entusiasmo os valores civilizacionais do chamado Ocidente. Angola estava pacificada, bem definida territorialmente, e bem administrada em termos secundários. Portugal era, de entre todos os países colonizadores, aquele que apresentava melhores resultados em aculturação e miscigenação, pese embora o facto de episódios menos bons. Basta ler os viajantes estrangeiros do século 19 que salientam que Angola era o único território em África onde havia africanos alfabetizados. Mas o rumo não foi o racional.


Copiaram-se os esquemas belgas, bem sintetizados num célebre discurso proferido por Marcelo Caetano, então Ministro das Colónias, aos microfones do Rádio Clube de Moçambique, em 7 de Setembro de 1945 quando já perpassavam, por todo o mundo, as ideias libertárias e anti-racistas, quando o fim da guerra 39-45 apontava para outros rumos onde sobressaiam a igualdade e a liberdade:
«Num só ponto devemos ser rigorosos quanto à separação racial: no respeitante aos cruzamentos familiares ou ocasionais entre pretos e brancos, fonte de perturbações graves na vida social de europeus e indígenas e origem do grave problema do mestiçamento, grave, digo, senão sob o aspecto biológico, tão controvertido, ao menos sob o aspecto sociológico».


Uma palavra para definir o colonialismo português: mesquinhez.
Uma palavra para definir a colonização portuguesa: ilusão.
Uma palavra para definir a descolonização feita por alguns militares das Forças Armadas Portuguesas: esculhambação.


Estas três palavras são suficientes para explicarem por que não foi possível concretizar um mito que perdurou durante um século e meio: a formação de um “novo Brasil” em África.

Esta matéria é retirada do livro “ Mucandas do Tempo do Caparandanda” (Cartas do Tempo do Antigamente) em fase de pré-prelo.



Luiz Chinguar - Agosto 2008




Fig 12 - O centro histórico de Ouro Preto (Brasil) considerado Património da Humanidade. A cidade foi fundada em 1698, após a descoberta de ouro (“disfarçado”, sem rutilância, coberto com uma camada de óxido de ferro). O garimpo de ouro foi extraordinário, visível na arquitectura e nas obras de arte que a cidade ostenta, orgulhosamente. Ouro Preto, no século 18, deitou por terra as teorias, em voga na Europa, de que nos trópicos não podia florescer uma civilização requintada, com pintores, escultores, escritores músicos e artistas.




Fig 13 - Vista aérea parcial de Huambo (ex-Nova Lisboa) em 1961 , antes da eclosão de um promissor desenvolvimento acicatado pelo início da guerra da independência. A cidade foi fundada em 1912 graças a um rasgo audacioso de Norton de Matos governador geral na época. Praticamente no centro de Angola, tinha tudo para ser uma metrópole: a 1700 m de altitude, micro-climas acima de 2000 m de altitude circundando-a,optimo clima, chuvas abundantes e regulares, solos razoáveis, bons se fossem melhorados com tecnologia,principal nó rodoviário, povos industriosos com imenso potencial de aprendizagem,bem servida por rios. A visão de Norton de Matos ainda hoje é patente: ruas largas, horizontes abertos. Até 1930 a cidade desenvolveu-se: um central hidroelectrica (a primeira em Angola), oficinas gerais do Caminho de Ferro de Benguela (internacional, servia as minas de Katanga e da Zâmbia), uma base aérea que depois foi extinta,uma laboratório veterinário etc, A partir de 1930 (Acto Colonial promulgado por Salazar) a cidade, como aliás toda a colónia de Angola, foi “engessada” e pouco se desenvolveu. Não fora a persistência dos colonos e o progresso teria sido zero. Era notório na cidade: muita área e pouco volume, isto é, muita vontade dos residentes,mas muita obstrução metropolitana e, portanto, pouca execução.Um pequeno pormenor: em fins da década de 60 já era viável uma conexão aérea Nova lIsboa-Lisboa: nunca foi autorizada. A guerra da independência,a partir de 1961, empurrou os governos de Lisboa a tentarem recuperar o atraso dos “malfadados trinta anos”, mas nunca no aspecto político. Não foi suficiente, apesar do muito que se recuperou. As guerras civis, a partir de 1975, que se seguiram à independência, vibraram-lhe, talvez, o último golpe. A cidade merecia melhor sorte.Tinha tudo para ser uma metrópole.Felizmente ainda está a tempo de recuperar, poucas regiões no mundo têm, na actualidade,o potencial do Planalto Central de Angola.




Fig 14 - A cidade de Londrina no Paraná (Brasil) foi fundada em 1912, tal como o Huambo. Era uma fazenda de ingleses, daí o seu nome. O governo brasileiro encarregou-os de a dividirem em lotes com áreas suficientes para agriculturas de sucesso. O solo fertilíssimo (terra roxa) atraiu imigrantes europeus que transformaram a antiga fazenda em uma bela cidade, uma pequena metrópole. Actualmente tem mais de 600 000 habitantes, duas universidades e uma intensa vida intelectual.Tudo nela respira entusiasmo, bom gosto e modernidade




Fig 15 - Saurimo (ex-Henrique de Carvalho) em 1968. Foi fundada em 1918 com o nome actual, depois mudado para Henrique de Carvalho.Única cidade na vasta região dos Lundas e Quiocos era a capital do enorme distrito da Lunda (179 863 km², duas vezes o tamanho de Portugal) no tempo colonial. A magestática Diamang, detentora exclusiva de todos os diamantes, exerceu um policiamento exacerbado sobre toda a região rica em diamantes e em água. O distrito esteve fechado aos angolanos. Até 1962 quem quizesse deslocar-se à Lunda tinha que obter um visto no “consulado”da Diamang em Luanda que esperava sempre as ordens de Lisboa. Era a cidade mais a oriente,a 780 km do mar, muito isolada e, especialmente fechada a quaisquer actividades estranhas ao monopólio dos diamantes.



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