BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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quarta-feira, 18 de julho de 2007

POSTAL ESCRITO DE LUANDA (2)

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Descontados os problemas de infra-estrutura (os elevadores que pararam de funcionar há 20 anos, os cortes freqüentes de luz, o caos do trânsito, a necessidade de visitar supermercados de todas as redes para fechar a lista de compras), os "expatriados" não vivem mal, não. Há bons restaurantes – o melhor deles é o Bahia, do qual Flávia Virgínia, uma das filhas de Djavan, é sócia –, um clube noturno muito bacana, o Palos, e os ótimos bares de praia da Ilha. A propósito, vai-se à praia em Luanda com um conforto e uma mordomia que nós só encontramos no Brasil em pousadas de altíssimo luxo à beira-mar.
O melhor desses clubes de praia, o Miami, faz todos os domingos uma Noite das Músicas com cantores e bandas locais. Domingo passado um dos convidados especiais foi um compositor-cantor-produtor chamado Heavy C. Com o porte do Ed Motta e a inteligência de um Eduardo Dusek, Heavy C é autor de letras satíricas geniais. Eu estava sem papel e caneta, de modo que não consegui anotar toda a letra de uma canção que começava com o verso "Eu quero ser um corno feliz", em que Heavy pede à namorada que lhe poupe de saber. Nem de "A higiene é um dom", sobre a tragédia de uma noie de amor prejudicada pela falta de asseio da companheira. Procurei por discos dele, mas não achei. Agora vou em busca de pelo menos um mp3.O povo não tem acesso a nada disso. Se falta luz para os ricos, falta tudo para os pobres. Mas já esteve muito pior, é o que todos dizem. Se hoje a guerra é uma desculpa para todos os males que ainda afligem o país, até 2002 a guerra era uma realidade de todos os dias. O problema mais visível da cidade é o lixo que se espalha por todo canto. Mas a se acreditar no que nos contam, há dois anos havia pilhas de lixo mais altas que os jipes. Se isso continuar a evoluir no mesmo ritmo, daqui a dois anos Luanda vai estar mais limpa que Zurique :-)

Todo mundo adverte o tempo todo para o problema da segurança, mas não vi muito motivo. Como não existem táxis e quase não há comércio (o primeiro shopping ainda está para ser inaugurado), nenhum visitante tem possibilidade ou motivo para andar sozinho pela cidade. Ainda assim, com exceção de disputas entre flanelinhas para vigiar o carro (alguém por acaso nunca passou por isso no Brasil?), não vi nada que pudesse indicar um ambiente hostil. Na vida real, pelo que notei, o medo maior é o de ser achacado pela polícia.

Depois de muito insistir, acabei sendo levado a uma área normalmente off-limits (eu poderia dizer "vedada", mas off-limits é tão mais proibido, não é?) a estrangeiros: o Roque Santeiro, o maior mercado negro do mundo. São quilômetros e mais quilômetros de barracas montadas diariamente no alto de uma colina, onde se encontra de pasta de dente a metralhadora.

Existem quarteirões inteiros dedicados a artigos como jeans, perfumes, móveis e telemóveis (celulares). Lá dentro dá para ir ao cinema, jogar videogame, obturar uma cárie ou trepar em francês com putas importadas do Congo.

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