sábado, 14 de abril de 2007
SALVADOR CORREIA DE SÁ - A CONVERSÃO DA RAINHA JINGA
"Salvador Correia de Sá e Benevides, depois de ter expulsado de Angola os Holandeses, interessa-se pela conversão de Jinga; por isso, há troca de embaixadores entre ambos.
Escreveu a Jinga, em termos mais moderados, enviando-lhe Rui Pegado como embaixador.
CONVERSÃO DE GINGA (Nzinga Mbandi Ngola)
O capitão-general Salvador Correia de Sá e Benevides, depois de ter expulsado os Holandeses do reino de Angola no ano de 1648, aplicou-se não só aos interesses materiais do Estado, mas também aos espirituais da religião católica.
Edificou, além de outras, uma igreja em honra de Santo António de Lisboa e um hospício para os nossos (1).
Procurou a extirpação da devassidão, única causa, como a própria gente admitia, das graves calamidades anteriores quando, no espaço de sete anos, foram obrigados pelos inimigos holandeses a abandonar as terras conquistadas mediante o seu suor e o seu sangue, vendo os seus haveres barbaramente dissipados. O governador usou toda a diligência para concluir a paz e renovar a aliança com o rei do Congo. Como indemnização pelos prejuízos sofridos, exigiu novecentos escravos ou o equivalente, a entrega das minas de ouro e o livre exercício pelos Capuchinhos do seu ministério apostólico (2), fazendo-lhe compreender por estas condições que o seu pedido de paz não era ditado pela necessidade e que estava em condições de obrigá-lo mediante a força.
Pelo contrário, usou da maior bondade para com a rainha Ginga, desculpando-lhe a provocação e o natural desejo de recobrar o seu antigo domínio. Enviou-lhe, portanto, Rui Pegado, capitão de experimentada prudência, acompanhado por numeroso séquito com preciosos presentes e duas cartas, uma do rei de Portugal e outra dele próprio, e com plena autorização de concluir qualquer contrato, sob condição de que ela se reconciliasse com o verdadeiro Deus. Agradaram sumamente à rainha estas aberturas e deu boas esperanças de aceitar os conselhos de Correia.
Tendo lido a carta do rei, respondeu com muita submissão que ficava obrigada pelas corteses ofertas e retorquiu desculpando-se dos seus excessos e acusando a D. Fernão de Sousa, que pretendeu não só oprimi-la invadindo o seu Estado, mas tirar-lhe até o reino, transferindo indevidamente e sem autoridade nenhuma o título e a investidura dela para a pessoa de Ngola-a-Ari, seu vassalo (3).
Numa palavra: suplicava a Sua Majestade que lhe fizesse o favor da sua assistência, prometendo-lhe por sua parte submeter-se outra vez à lei do verdadeiro Deus.
Pouco diferentes foram as expressões da resposta à carta de Correia de Sá, mas suplicava-lhe que prestasse, conforme as suas promessas, auxílios eficazes para ela recobrar o reino de Matamba (4), prometendo-lhe fazer a vontade dele quanto a abandonar a seita dos lagas. Baseando-se nestas respostas, Correia de Sá julgou que pouco faltaria para concluir o tratado.
Contudo, não se tinha ainda chegado a uma estável suspensão das hostilidades, porque a rainha, que não queria perder as suas ocasiões, continuava a combater nas partes extremas do reino de Matamba.
Então Correia de Sá escreveu-lhe outras cartas, em que a exortava a cumprir as suas promessas, a escolher uma capital para residir com a sua corte e a dar licença aos católicos para entrarem, morarem e edificarem igrejas nos seus domínios (5)
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(1 ) A ermida de Santo António foi restaurada, não edificada, por Salvador Correia, ao passo que o hospício foi edificado por ele
(2 ) «Capitulações das pazes com o rei do Congo)> (docs. 23 e 24). Uma vez que o documento 24 é muito extenso, apenas irei transcrever para aqui o documento 23 porque me parece interessante percebermos a forma como antigamente procediam para as negociações.
(3 ) Esta nota será desenvolvida posteriormente
(4) Matamba estava sujeito a Ginga, excepto uma parte do território que o jaga Cassanje tinha usurpado e da qual os Portugueses prometeram expulsá-lo
(5 ) Os Jagas não viviam em aldeias fixas, mas em acampamentos instáveis, chamados «quilombo»
(Montecucccolo, J. - Congo Matamba e Angola, 1687, reeditado em 1965)
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