BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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terça-feira, 2 de novembro de 2010

INCÊNDIOS FLORESTAIS: FATALISMO, CONFORMISMO OU FALTA DE PLANEAMENTO? (1)


Agosto é o pior mês do ano. As pessoas ficam atacadas pelas férias, os desastres nas estradas multiplicam-se, envolvendo mortos e feridos, o calor torna-se desagradável, as pessoas amontoam-se nos aeroportos, as bibliotecas fecham e, a somar às tragédias das estradas, os incêndios florestais regressam, com uma regularidade mais do que previsível, mas infelizmente nunca encarados em termos científicos. Improvisação é o que mais se vê no combate aos fogos florestais.
No Brasil dizem que “agosto é o mês dos cachorros loucos” . Foi em 25 de Agosto de 1954 que o presidente Getúlio Vargas se suicidou e isto repercutiu-se em termos históricos. Foi também em Agosto de 1961 que o presidente Janio Quadros se demitiu, deixando todos os brasileiros perplexos, desconsolados e desencantados com a democracia, precipitando o Brasil para mais uma situação política adversa.
Em Agosto, em Portugal, quando abro a janela de manhã e olho para cima, vejo quase sempre, em dias de céu límpido, umas nuvens escuras, acastanhadas que induzem desconfiança : não é água mas fumaça. De incêndios, embora os meios de comunicação, de dia para dia, estejam diminuindo as notícias e reportagens sobre fogos. A imprensa e a TV minimizam os fogos à medida que aumentam os terrenos calcinados.
Este ano (2010) arderam 125 852 ha (43 608 de povoamentos florestais e 82 244 ha de matos totalizando 20 927 ocorrências com 3 638 incêndios florestais É a maior área ardida nos últimos 4 anos, correspondente a quase duas vezes a área da ilha da Madeira (796 km2 ). Em 2 de Outubro ainda se registaram incêndios.
Há áreas em Portugal que já arderam 14 vezes em 30 anos; como pensar em repovoamentos?
O belo património português (flora,fauna e propriedades) vai desaparecendo, um pouco, todos os anos. Fatalismo é a atitude com que se encaram os incêndios florestais. Não é, e está muito longe de o ser!
De entre todos os desastres naturais, terramotos, tsunamis, vulcões, tornados, furacões, deslizamentos e entre os provocados pelo homem,os incêndios são os mais previsíveis. A nossa historiografia de fogos vem desde tempos imemoriais: os dados meteorológicos, a esplêndida cartografia, o conhecimento sobre as propriedades de todas as matérias inflamáveis, o sensoriamento remoto por satélites, os telemóveis,os meios aéreos e, até, as observações casuais de pessoas experientes, são mais do suficientes para se definirem estratégias de prevenção, detecção e combate. Infelizmente todos os anos repete-se sempre o mesmo cenário de tragédias, com as florestas e parque naturais sendo devorados pelo fogo. Agora já se assiste à perda de vidas humanas, de animais domésticos e de casas. Não é pela TV ou jornais, infelizmente cada vez mais parcos em noticiar incêndios, que é possível aquilatar os danos à biodiversidade. Ninguém os menciona!
E as pessoas comuns perguntam angustiadas: mas não haverá maneiras de minimizar estes incêndios e, até, de evitá-los? Será que vai arder todo o país?
O melhor combate ao fogo, como diria monsieur de La Palisse, é evitá-lo. A engenharia, com todos os seus ramos, dispõe hoje de métodos aperfeiçoados de modo a defender eficazmente a massa florestal dos fogos.
1) Ordenamento do território
Tudo começa com um bom ordenamento do território definindo áreas específicas de acordo com as aptidões urbanas, industriais, agrícolas, pecuárias, de mineração e florestais. Um ordenamento, sublinhe-se, para ser cumprido rigorosamente, sem excepções, desculpem-me o pleonasmo. Este é justificado porque, infelizmente, é o que se não verifica na prática. Há sempre um chico esperto que contorna a lei. Constrói-se, à revelia, nos parques naturais e florestais.
Vamos abordar, apenas, o caso dos incêndios florestais. É particularmente difícil o ataque a fogos em áreas florestais situadas em zonas de relevo montanhoso. Uma orografia desfavorável é uma pesada agravante, mas não é motivo para fatalismos, pelo contrário, é um desafio à ciência e tecnologia.
As áreas de relevo acentuado são impróprias para agricultura e para gado bovino; resta a floresta. É assim em todo o mundo. Logo, na definição de um parque florestal de exóticas ou de flora natural, tem que se levar em conta vários parâmetros de ordenamento, de implantação, de vigilância e detecção e de combate aos fogos. E, especialmente, de justiça rápida e dura para os incendiários.
2 ) Implantação de um polígono florestal
Depois de definidas as áreas de ocupação- zonas urbanas, pastos, baldios, áreas húmidas, estradas e caminhos, vamos deter-nos, na implantação de um polígono florestal de árvores exóticas, como por exemplo o eucalipto. Estamos a admitir que, “a priori” os Parques Naturais terão que ser os mais bem defendidos, o que não acontece na realidade.
Basta pronunciar a palavra eucalipto e logo aparecem alguns ambientalistas irados ostentando os velhos slogans de que “chupa toda a água”, “onde entra mata tudo”, “é negócio de multinacionais”. Um pouco com o que se passa com a aversão às barragens, agora a serem construídas “a toque de caixa”, numa tentativa de utilizar a energia eólica ociosa porque é intermitente, difícil de conciliar com a macro-rede elétrica. Este açodamento pelas barragens, além de serôdio, é irónico, se nos lembrarmos da fobia Foz Côa e das campanhas anti-Alqueva. Repentinamente as barragens foram associadas às energias renováveis onde desempenham o papel de melhor sócio. Agora já se não demonizam as barragens!
O eucalipto não é tão daninho como se apregoa. É uma árvore de crescimento rápido, resistente, adapta-se a quase todos os climas, dá boa madeira para a construção civil, fornece a maior cota de celulose para o fabrico de papel,seca pântanos, purifica o ar. Em resumo é um matéria prima valiosa, é um vector económico a ter em conta.
Em África o eucalipto substitue com vantagem as lenhas tradicionais que vão escasseando porque as árvores da savana, cada vez mais sacrificadas, não têm crescimento rápido, e não medram em polígono mas apenas associadas a outras árvores. A savana africana caracteriza-se pela biodiversidade. Só por isto o eucalipto salva as plantas raras da savana.
Em um quadrado de 400 m2 nas savanas do Planalto Central de Angola anotámos, em jeito de rapidez, mais de 100 espécies de flora. A savana africana, embora dê pouca madeira, é de uma enorme riqueza, basta acentuar que abriga milhões de abelhas. É uma massa arbórea de pouca densidade em madeiras. Só o eucalipto a poderá salvar, devido à intensa procura de lenhas para os afazeres domésticos de milhões de africanos.

Todos os polígonos florestais, sejam em montanha ou em planície, devem ser divididos em talhões, cuja área, de cada um, é definida de acordo com as susceptibilidades apresentadas pelas árvores conforme a sua inflamabilidade No caso específico do eucalipto, em área levemente ondulada em Angola, os talhões quadrados tinham de lado 300 m ou seja uma área de 9 ha. Os talhões eram envolvidos por 4 vias de acesso- 2 aceiros e 2 arrifes . Um aceiro tinha uma largura de 12 m e um arrife de 6 m.
Um aceiro é um caminho perpendicular aos ventos preponderantes nos meses mais desfavoráveis. Em Portugal o núcleo quente, propício a fogos, desenvolve-se entre 15 de Julho a 15 de Setembro, com o centro de gravidade teórico em 15 de agosto. Para estes 60 dias críticos existem anemogramas ou cartas de ventos, que permitem obter, através de fórmulas empíricas,baseadas na experiência, qual a largura do aceiro. Este é, sempre que possível, perpendicular aos ventos mais desfavoráveis.
Um arrife é um caminho perpendicular ao aceiro, geralmente com metade da largura deste. Aceiros e arrifes devem ser mantidos apenas com vegetação rasteira, se possível com arbustos que se mantenham sempre verdes ao longo do ano. Um talhão, repetimos, é sempre envolvido por dois aceiros e dois arrifes. O acesso fica facilitado e o fogo está sempre confinado.

Fig 1 Ventos predominantes em Portugal. Graças a dados meteorológicos, obtidos pelos nossos ancestrais, Portugal dispõe hoje de meios de previsão, bastante confiáveis, baseados nestes preciosos valores. Conhecemos muitos observadores de meteorologia, humildes, que hoje são apenas lembrados pelos descendentes, que colheram durante anos a fio, sem interrupções, como é do boa norma em meteorologia, estes dados valiosíssimos, que permitem refutar muitos alarmismos que por aí circulam, mas que nos levam a tomar umas certas precauções. Estas devem incidir sobre a água e os verdes (floresta e matos). Fonte: Macedo,F.W.& Sardinha,A.M.(1999)-Fogos Florestais.(2 volumes)Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (U.T.A.D.) Vila Real.Publicações Ciência e Vida, Lda.Lisboa

Fig 2 Zonas de risco de incêndios florestais em Portugal. O bom acervo científico facilita o estabelecimento de um bom plano de defesa do património natural e humano. A figura mostra-nos quais as áreas de risco de fogos florestais,ou seja onde devem incidir as maiores defesas. Fonte: Macedo,F.M.& Sardinha,A.M.-1999. Fogos Florestais(2 volumes). Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro- U.T.A.D Vila Real. Publicações Ciência e Vida,Lda.Lisboa.

Fig 3 Isoietas são linhas que unem pontos de igual precipitação No Norte, anualmente, as chuvas passam além de 2 000 mm ( 2000 L/m2,num ano ), mas ao sul atingem 400 mm ,(400 L/m2 ); isto caracteriza uma variedade de micro-climas propícios para uma agricultura de qualidade, especialmente em frutas.Há boas condições para floresta exótica de rápido crescimento.
Fonte: Lencastre,A.& Franco F.M.-Lições de Hidrologia (1984). Lisboa. Universidade Nova de Lisboa.

Se o terreno for muito acidentado, com declives acentuados (inclinações superiores a 30 %), devem-se orientar os aceiros de acordo com a topografia implantando-se acessos, se possível, em linhas de cintura com inclinações até 10%, para poderem circular viaturas normais. Os arrifes, como se afirmou, serão sempre perpendiculares aos aceiros, e, neste caso apresentarão declives muito acentuados. Os ataques aos fogos serão feitos, exclusivamente, através dos aceiros.
Quando os polígonos florestais são muito grandes (maiores do que 5 000 ha - 5km×10 km- ) é de bom alvitre que,dentro deles, se implantem corpos de água evitando-se as viagens, às vezes longas, para o reabastecimento. Estes corpos de água podem ser obtidos com pequenas barragens de terra, de alvenaria de pedra ou de betão, de altura superior a 10 m, ou escavando depressões do terreno ou aproveitando áreas de empréstimo para aterros ou antigas pedreiras. As áreas montanhosas,onde os vales são muito apertados, são mais vantajosas para armazenamentos de água do que as áreas planas ou levemente onduladas onde os vales são mais abertos e pouco profundos. Consideramos como muito boa uma barragem, ou reservatório, que acumule mais de 100 000 m3 de água, ou sejam aproximadamente 5000 viagens de um auto tanque. É óbvio que o planeamento de um povoamento florestal aplica-se, com maioria de razão, nas medidas de defesa da floresta natural. Se for o caso devem abrir-se aceiros e arrifes.

Fig 4 Escoamento anual das chuvas compreendido entre 100 mm (em branco) e 800 mm (em azul escuro). A parte mais húmida, com maior escoamento anual, é o NW (noroeste) onde, como é óbvio, se regista a maior precipitação . Um paradoxo: onde mais chove é onde mais arde. Fonte: Atlas do Ambiente- Ministério do Ambiente.

Fig 5 Corpo de água dentro de um povoamento florestal na Áustria. Os corpos de água, localizados em pontos estratégicos, com acessos optimizados através da Investigação Operacional, diminuem os tempos de recarga para os auto-tanques e helicópteros. E, também, servem de abrigo para os animais acuados e, indiscutivelmente, valorizam e embelezam a paisagem.

3) Detecção e vigilância
3.1) Patrulhamento terrestre. “O medo é que guarda a vinha, que não o vinhateiro” é uma frase que ficou na nossa memória e já lá vão umas dezenas de anos. Ela servia de exemplo para as “partículas de realce” em gramática. Hoje serve-nos para enfatizar a extrema acuidade da vigilância ostensiva. Outrora eram os guarda-florestais que desempenhavam, e bem, as tarefas de policiamento e detecção dos fogos. Os termos guarda e policiamento colidem hoje com o politicamente correto vigente nos meios de comunicação e em determinadas correntes políticas. Chamem-lhes o que quiseram mas, se pretendem acabar com esta vergonha, os guarda-florestais darão uma grande ajuda.
É óbvio em todo o mundo: um policiamento ostensivo e uma justiça rápida e dura, diminuem, e muito, a ocorrência de incêndios. Eles são em maioria ateados por mãos criminosas. Verifica-se que, onde há policiamento florestal, a taxa de incêndios é diminuta.
Os meios de policiamento podem dispor hoje de meios sofisticados: boas viaturas todo o terreno, telemóvel, máquinas de filmar (que podem ser instaladas em tripés, escondidas) e fotográficas, binóculos com luz negra para visão nocturna, detectores de calor,sensoriamento remoto através de satélites.
Os meios aéreos para detecção de fogos são imprescindíveis, especialmente para se planear uma estratégia de rápido combate pelos bombeiros. Mas eles não são uma solução total.
3.2) Torres de vigilância. Podem ser de madeira, aço ou betão armado. Dispõem no topo de uma cabine toda envidraçada, com visibilidade para todos os lados. Só recebem vigilantes no tempo mais crítico; em Portugal, como já foi afirmado, é em Julho,Agosto e Setembro.

Fig 6 Fogos na Península Ibérica em Agosto 2010. Mapa extraído da Internet. Há uma ilógica concentração de fogos, precisamente na área onde mais chove e onde é maior o escoamento anual. Resumindo “quanto mais água, mais arde”. Não alinhamos com os catastrofismos do aquecimento global( quem é o homem para mudar o clima da Terra?) mas ficamos inquietos com o pouco verde do mapa. Pouco menos de metade de Portugal é verde, visto de satélite.Isto não é provocado pelo aquecimento global. Esta visão deve alertar-nos para o cuidado que teremos que ter em relação à cobertura vegetal. Só um planeamento feito pelos sábios deste país pode minimizar este evidente problema. Que tal aumentar rapidamente o nosso verde, e preservá-lo com determinação?

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